Alagoas

Mulher passou dez anos sendo agredida pelo marido

Por 7 Segundos 06/12/2015 11h11
Mulher passou dez anos sendo agredida pelo marido
- Foto: Ilustração

“A primeira bofetada foi silenciada. Assim como a segunda, a terceira e as centenas posteriores. A dor era mais moral que física. Não tinha condição nenhuma de reação”, foram com essas palavras que Maria do Socorro (nome fictício), de 51 anos, iniciou a conversa com a equipe de reportagem do Portal 7 Segundos.

Ela é só mais uma alagoana vítima das agressões silenciadas que viram notícias quase que diariamente nos portais da região e que dão vida a casos divulgados no relatório de ocorrências dos Batalhões de Polícia Militar (BPMs) espalhados pelo estado.

“Antes do casamento, o namoro foi perfeito. Luiz era carinhoso e o ciúme era algo considerado normal. As coisas começaram a ficar ruins um ano depois do casamento. O primeiro tapa foi no meu aniversário de 28 anos, ainda na festinha de comemoração. Ele não gostou quando eu pedi pra ele parar de beber. Ele me mandou calar a boca e me deu um tapa na cara, na frente dos meus pais”, relatou.

A impunidade e o silêncio da mulher em relação à violência sofrida, principalmente, em seus próprios lares é a causa principal para fortalecer o agressor. Muitas se calam por vergonha, medo, e por incrível que pareça, alegando amor.

“Passei dez anos da minha vida aceitando o comportamento violento do meu marido à mercê da tortura física e psicológica. Fui fraca em acreditar que um dia ele iria mudar e voltar a me amar”, desabafou.

De acordo com o balanço dos atendimentos realizados de janeiro a junho do ano passado pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), 77% das mulheres que relatam viver em situação de violência sofrem agressões semanal ou diariamente. E foi assim também com Maria do Socorro.

“Quando ele percebeu que eu não reagia, as agressões começaram a ser cada vez mais frequentes. Se não eram tapas ou chutes, eram xingamentos. Todos os dias, durante dez anos”, disse.

O ápice, para Maria do Socorro, foi ser proibida de sair de casa. “Tive meu celular confiscado e todas as chaves de casa trocadas. Fiquei trancada em casa durante quatro dias. Quando ele chegou em casa à noite discutimos pela última vez. Fui hospitalizada com um corte de faca profundo no braço e fraturei a mão”, relatou. 

Seu marido foi preso e cumpre pena em regime fechado. Ela se separou e se libertou das torturas. “Sempre tive muito medo de denunciá-lo. Pensava que ele poderia me matar depois. Mas depois de dez anos, me libertei”, concluiu.