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Inep reavalia nota da redação de aluno com deficiência, em Alagoas

Por 7 Segundos 06/06/2016 20h08
Inep reavalia nota da redação de aluno com deficiência, em Alagoas
- Foto: Arquivo/Família

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) emitiu um despacho, nesta segunda-feira (06), no qual atribui uma nova nota para a prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2015) feita pelo candidato Luiz Felipe Alves Pereira, de 20 anos, que reside em Arapiraca com os pais.

A reavaliação da nota pelo Inep, atendeu ao pedido do juiz federal Flavio Marcondes Soares Rodrigues, titular da 8ª Vara Federal, em Arapiraca, em resposta a mãe do adolescente, jornalista Mônica Nunes, que entrou na justiça para cobrar uma análise diferenciada para o filho que tem hidrocefalia. Na avaliação anterior, Felipe tirou nota zero na redação e foi desclassificado da disputa por uma vaga na Universidade por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

Conforme o despacho, o teste de redação do estudante foi analisado por dois especialistas em avaliação de textos produzidos por disléxicos e a nova nota atribuída ao candidato é de 500 pontos. A mãe de Felipe, disse que está em estado de graça e felicíssima. Ela disse ainda que ele poderá nem atingir a nota para cursar uma faculdade, porém o mais importante é que não foi tirado do processo de forma desumana.

“É um passo importante não só para o meu filho, mas para todos os portadores de algum tipo de deficiência, esse reconhecimento do Inep que foi com muita luta e pela Justiça. Essa nota que ele obteve é uma luz para todos para encontrar a porta de entrada para uma faculdade na vida deles”, disse Mônica.

Relembre o caso

Indignação, revolta e desapontamento por um sistema que não tem uma avaliação diferenciada e específica para portadores de necessidades especiais. Esse foi o sentimento da jornalista Mônica Nunes, mãe de Luiz Felipe Alves, diante do resultado da nota da prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os avaliadores do Enem deram nota zero ao candidato, anulando qualquer expectativa para ingressar em uma universidade, por meio do Sistema de Seleção Unifcada (Sisu).

Luiz Felipe possui hidrocefalia congênita uma doença que acumula líquido dentro do crânio, provocando problemas como pouca força muscular, déficit de atenção e declínio no desempenho escolar. Mesmo com todas as dificuldades eles foi alfabetizado aos 8 anos e concluiu o ensino médio aos 20 anos. 

O desabafo da mãe indignada e inconformada com o critério de avaliação desleal em relação aos portadores de deficiência foi publicado no Facebook e teve grande repercussão. Mônica Nunes disse que mesmo com todas as dificuldades impostas pela doença Luiz Felipe passou seis horas em uma sala e fez a redação com trinta linhas.

“Felipe escreveu do jeito dele que as mulheres não deveriam ser agredidas. Mas vocês não entenderam. E foi mais fácil zerar as possibilidades de quem, desde que foi gerado, tentando viver "apesar" de gente como vocês que não leem além do beabá dos outros. Vocês não leram as dificuldades de aprendizado, o preconceito e a discriminação. Vocês buscavam ortografia, gramática, semântica”, desabafou em um dos trechos da publicação.

Em entrevista ao portal 7Segundos, a jornalista e coordenadora de Comunicação da Prefeitura Municipal de Arapiraca, disse que os avaliadores do Enem deveriam observar as limitações descritas no ato da inscrição do candidato que é portador de deficiência.

“Do que adianta respeitar a deficiência dando a oportunidade de se inscrever no Enem, e na hora de corrigir ele ser avaliado igual a quem não tem deficiência. Isso não é inclusão”, relatou Mônica Nunes.

Ela afirmou ainda que o Ministério da Educação (MEC) determina que as escolas são obrigadas a matricular o portador de necessidade especial e não reprová-lo. Com relação aos trabalhos escolares e as provas devem ser corrigidos sob a ótica da inclusão, respeitando a limitação de cada um . “Mas quando chega no Enem o próprio MEC rasga a cartilha da inclusão”, relatou.

Na época, Mônica Nunes entrou na Justiça para cobrar que a redação de Luiz Filipe fosse avaliada por profissionais que tenham conhecimento sobre as dificuldades de um portador de hidrocefalia. “Não sei se vamos conseguir mudar o resultado, só tenho uma certeza: vou lutar pelos direitos do meu filho”, finalizou Mônica.