Arapiraca

Pai cursa faculdade junto ao filho deficiente para garantir acesso à educação inclusiva

Ao lado da esposa, a jornalista pernambucana Mônica Nunes, Luiz Alfredo enfrentou o desconhecido para poder receber Felipe ao mundo

Por Erick Balbino/7Segundos 06/08/2021 18h06 - Atualizado em 06/08/2021 19h07
Pai cursa faculdade junto ao filho deficiente para garantir acesso à educação inclusiva
Luiz Alfredo e Felipe dividem, além da amor mútuo, a mesma formação acadêmica - Foto: Acervo Pessoal

Até onde um pai pode chegar para proteger um filho? Para o arapiraquense Luiz Alfredo, esse limite não existe. Pai de três, ele chegou a se matricular junto ao filho mais velho, Luiz Felipe, que tem paralisia cerebral, em um curso de Ensino Superior, para garantir o acesso a uma educação inclusiva.

Pai e filho receberam juntos, em 2020, o diploma de graduados em Pedagogia pela Universidade Norte do Paraná (Unopar), diploma esse que representa uma árdua luta pela inclusão.

Mas a história de cumplicidade envolvendo pai e filho começou antes mesmo de Luiz Felipe nascer, no ano de 1994.

"Quando a gente descobre que vai ser pai de uma criança deficiente, existem duas únicas alternativas: aceitar ou não aceitar", disse Luiz Alfredo. "Eu resolvi aceitar e, com isso, abdiquei de muita coisa para viver em dedicação ao meu filho", continuou.

Ao lado da esposa, a jornalista pernambucana Mônica Nunes, Luiz Alfredo enfrentou o desconhecido para poder receber Felipe ao mundo.

"Quando descobrimos a doença do Felipe, nós não sabíamos do que se tratava e até os médicos pareciam não estar preparados para tratar do assunto. Foi um período de medo do desconhecido, mas eu e Mônica enfrentamos juntos", explicou.

Luiz Alfredo e Felipe não se desgrudam. Na foto, a última viagem da família a Piranhas-AL

Quatorze Cirurgias

Para Luiz, que também é pai de Maria Gabriela, de 24 anos, e Maria Carolina, de 23, a rede familiar e de amigos foi imprescindível durante todo o processo de criação de Felipe.

"O nosso segredo foi nos cercarmos de anjos. Felipe morou 10 anos em Recife com a família da minha esposa para poder fazer o tratamento. Para se ter uma ideia do quão novo tudo isso era, o Felipe é o paciente de número 35 da AACD", falou.

Durante a vida, Felipe precisou realizar 14 cirurgias para minimizar os problemas causados pela hidrocefalia e, consequentemente, melhorar sua locomoção.

Uma família estruturada e uma rede composta por anjos é o segredo para superar os desafios

Ultrapassando limites

Apesar dos problemas de Felipe, limite é uma palavra que praticamente não faz parte do vocabulário dos membros da sua família, que correu atrás do inimaginável para incluí-lo em todas as atividades e garantir que ele tivesse acesso a (quase) tudo que uma criança sem deficiência teria.

O acesso à Educação Superior foi apenas uma das batalhas enfrentadas por Luiz Alfredo e Felipe. O pai trabalhou duro para fazer com que o filho pudesse se envolver com seus próprios talentos.

"Sempre fui um apaixonado por música e percebia que Felipe também gostava bastante. Tentamos inseri-lo neste mundo, mas no começo foi bem difícil, principalmente pelo descredito das outras pessoas", disse Luiz Alfredo. "Lembro de professores que diziam que ele não tinha ritmo", continuou.

Felipe tentou tocar bateria, mas não tinha coordenação suficiente para o instrumento, depois tentou tocar violão, mas a mão esquerda, responsável pelos acordes, não tinha força.

Durante as adorações da Paróquia do Santíssimo Redentor, surgiu a ideia de tentar tocar teclado. 

"Começamos a treinar em casa, ensaiando músicas da igreja e tem dado certo. Já temos um repertório bem vasto", disse Luiz Alfredo, que não larga o filho para nada.

Exemplo de pai

O Portal 7 Segundos conversou com a filha mais nova de Luiz Alfredo, a arquiteta Maria Carolina Pereira, de 23 anos, que destacou que o pai é uma referência para ela.

"Quando se tem um pai tão participativo e fiel à família, a gente acaba utilizando ele como nível para os próprios relacionamentos. Não aceito menos para mim do que um parceiro que seja tão incrível quanto meu pai é para minha mãe e para os filhos", explicou.

Para ela, a dedicação do pai em cuidar do irmão mais velho é a prova de que ele nasceu para a paternidade. "Sempre entendemos que meu pai precisaria dedicar mais atenção ao Felipe, mas isso nunca o fez ser menos pai para mim e para a minha irmã Gabriela. Eu moro fora há vários anos, mas não lembro de um dia em que não nos falamos", disse ela emocionada.

O Portal 7 Segundos deseja um Feliz Dia dos Pais para Luiz Alfredo e para todos os homens que dedicam suas vidas a abrir caminhos de oportunidades para os filhos deficientes.

Especial Pais

A abnegação de Luiz Alfredo como pai de Felipe, em vez de exceção, deveria ser regra. Por isso ele é um dos pais homenageados na série de reportagens especiais alusivas ao Dia dos Pais produzidas pelo 7Segundos, que irão ao ar até o domingo, 8 de agosto. No ciclo de matérias contamos também a história do vendedor de coco de Piaçabuçu, Evandro Oliveira da Conceição, que mesmo não sendo o pai biológico de Márcio Rodrigo - que é portador de deficiência - faz todo o possível para que o menino tenha acesso aos tratamentos de saúde que ele necessita.

Mas nem todas as crianças e jovens brasileiros têm pais que lutem por eles ou que sirvam de exemplo de vida. Mesmo que a figura materna consiga suprir todas as necessidades, a falta de um pai presente deixam marcas para toda a vida. Em outra reportagem contamos histórias de pais idosos que vivem na Casa dos Velhinhos, em Arapiraca, e que apesar das restrições impostas pela pandemia, sentem-se acolhidos e bem cuidados no abrigo.