Nada mal começar o novo ano, de 2022, com uma ‘bolada’ de R$ 350 milhões, prêmio estimado para a Mega Sena da Virada de 2021. Patrimônios como esse, dizem planejadores financeiros, precisam muito mais de proteção do que multiplicação. Para cuidar bem do montante, o ideal é não sair gastando impulsivamente com bens e viagens, pelo menos não antes de garantir que não vai voltar arrependido pedindo o emprego de volta ao chefe.

E preservar tanto dinheiro inclui evitar os efeitos da inflação. O que se espera é que ela faça com que o dinheiro recebido perca valor ao longo do tempo. “Primeiro, o novo milionário deve buscar investimentos de baixo risco e resgate rápido. Uma carteira onde pelo menos 30% do prêmio esteja em um produto de renda fixa atrelado à inflação é o ideal para começar a cuidar do patrimônio”, orienta o gestor da Finacap Investimentos, Alexandre Brito.

Uma vez protegido, o sortudo já pode pensar em viver de renda. Ações são recomendadas para alocação nesse caso, desde que o ganhador diversifique bem a carteira, tanto do ponto de vista de ativos, quanto geográfica, investindo uma pequena parte no mercado internacional.

Vale lembrar que todo investidor deve considerar seu perfil de risco antes de decidir onde investir. Isso é o que dita o quanto deve ficar em aplicações mais conservadores como fundos DI, CDBs com liquidez diária e até a poupança, ou mais arrojadas, como a bolsa de valores.

VIVER DE RENDA

Na menos rentável das aplicações financeiras, a poupança, que agora rende 6,17% ao ano (0,5% ao mês), o vencedor que levar todo o dinheiro do prêmio sozinho poderia ter mais de R$ 1,7 milhão de renda por mês - ou R$ 58 mil por dia -, considerando a taxa básica de juros (Selic) atual, de 9,25%. No ano passado, com a Selic na mínima histórica de 2% ao ano, a aplicação pagaria uma renda mensal líquida de até R$ 749 mil - R$ 25 mil por dia.

No entanto, mesmo com a taxa básica de juros brasileira aumentando, a aplicação mais popular do Brasil tem rentabilidade real negativa, ou seja, o investidor perde poder de compra pois o retorno é menor do que a inflação do período.

Ainda dentro da renda fixa, existem aplicações que podem pagar ainda mais por mês para o ganhador do prêmio da Mega da Virada. O Tesouro Selic garantiria um retorno líquido máximo de mais de R$ 2,5 milhões por mês. E se ainda estiver pouco, o ganhador tem mais uma opção em renda fixa. É o caso dos CDBs que pagam 110% do CDI e garantiriam um retorno anual de 12,10%, ou seja, um valor líquido (descontado Imposto de Renda) de R$ 2,8 milhões mensalmente. Já imaginou ter mais de R$ 94 mil para gastar por dia?

Outra estratégia que pode ser considerada pelo ganhador é colocar parte do dinheiro em títulos do Tesouro IPCA com juros semestrais. A dinâmica exigiria paciência e planejamento, já que os pagamentos do título só ocorrem duas vezes por ano, ou seja, a cada seis meses. Mas o investimento protege o investidor da inflação, já que paga a correção pelo IPCA mais juros de cerca de 5% ao ano.

É importante o investidor ter em mente que só poderá sacar sem prejuízos inesperados a parte do dinheiro que estará em aplicações de alta liquidez (com resgate mais rápido, como CDBs, Tesouro Selic e poupança), ou poderá amargar a rentabilidade negativa. Com a garantia da renda mensal, o ganhador da bolada pode pensar em diversificar ainda mais.

A diversificação é a saída para aumentar a rentabilidade sem arriscar tudo que se tem em aplicações como ações da bolsa.

Se o investidor tem o perfil de moderado a mais arrojado, pode buscar por aplicações na bolsa de valores, seja em fundos de investimentos, fundos imobiliários (FIIs) ou ações que tiveram bom desempenho e demonstram boas oportunidades. Nos dois últimos, o investidor tem a chance de receber dividendos, que também podem ser considerados como fonte de renda. No caso dos fundos imobiliários é preciso ficar de olho, porque em novembro, o índice que acompanha o desempenho desses fundos, o Ifix, acumulava uma perda anual de 7%, isto acontece sempre que a taxa básica de juros da economia está crescendo e acaba pressionando o Ifix. Em momentos de queda da Selic, a aplicação é mais indicada.

MILHÃO COM CARA DE BILHÃO

Já pensando lá na frente, o milionário que quer elevar o status para bilionário tem alguns bons anos pela frente. Mais especificamente 17, se investir tudo em poupança, 12 anos considerando investimentos que pagam 100% do CDI e oito buscando uma gestão profissional que auxilie no rendimento de pelo menos 1% ao mês.

“Como é um valor muito alto, perde eficiência fazer tudo isso na pessoa física. O melhor é procurar um gestor profissional, fazer um fundo de investimento exclusivo, porque aí você delega a gestão e pode ter um retorno de quem sabe 1% ao mês ou 150% do CDI, a depender da meta”, explica Nayara Boer, planejadora financeira e sócia da Renova Invest.

Os fundos exclusivos permitem, ainda, acessar investimentos fora do Brasil. A dinâmica pode acelerar o rendimento do ganhador da Mega, trazendo o bilhão mais rápido. Segundo Boer, esse é um passo importante para a ideia de diversificação, sobretudo por ser um valor tão alto. “Não é só diversificar entre renda fixa, renda variável, ação, escolher gestores, tem que diversificar o risco Brasil também. Basicamente ter dinheiro em outro país”. Para isso, a planejadora financeira sugere a abertura de conta offshore, investimentos em fundos internacionais e empresas estrangeiras valorizadas. O objetivo da estratégia é estar presente em outros lugares do mundo.

GANHAR SOZINHO É O MAIOR DESAFIO

A matéria leva em consideração que o prêmio vai para um só ganhador no último dia do ano, mas isso nunca aconteceu, até então, em um sorteio da Mega da Virada.

O prêmio do concurso de final de ano não acumula, ou seja, não havendo apostas premiadas com seis números, o prêmio será rateado entre os acertadores de cinco números – e assim sucessivamente, conforme as faixas de premiação.

Por isso, a probabilidade é de o vencedor ter de dividir o prêmio. Mesmo assim, o valor recebido pode ser na casa do milhão e, nesse caso, as dicas dos planejadores financeiros são as mesmas. “Acima de R$ 10 milhões, fica valendo o fundo exclusivo, as contas offshore e um gestor profissional para ajudar na empreitada”, completa Boer.