Meio ambiente

Expedição científica no rio São Francisco aponta poluição das águas e contaminação de peixes

Documento elaborado pelos pesquisadores será transformado em livro

Por 7Segundos 07/05/2022 08h08
Expedição científica no rio São Francisco aponta poluição das águas e contaminação de peixes
Pesquisadores durante Expedição Científica no Velho Chico - Foto: Arquivo/Expedição

O relatório final sobre a 4ª edição da Expedição Científica do Rio São Francisco, promovida pela Ufal (Universidade Federal de Alagoas), foi concluído no final do mês de Abril de 2022. A expedição foi realizada entre os dias 01 e 10 de novembro de 2021 e percorreu as cidades de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu, São Brás, Igreja Nova, Porto Real do Colégio e Penedo, no Estado de Alagoas, e Propriá, Neópolis e Brejo Grande, em Sergipe.

Durante a expedição, 66 pesquisadores de 24 instituições de ensino parceiras do projeto percorreram as águas do Velho Chico de Piranhas, Sertão de Alagoas, até a foz entre Piaçabuçu (AL) e Brejo Grande (SE).

O deslocamento dos pesquisadores foi feito em dois grandes barcos, utilizados também como alojamento e como laboratório para a agilizar a realização das análises do material coletado ao longo do trajeto, como amostras da água, da fauna e da flora ribeirinha.

O relatório final da expedição constata que o incremento de vazões maiores no leito do rio a partir de 2020, contribuiu para uma pequena recuperação da Bacia do São Francisco, isso após o rio passar por períodos críticos de estiagem e diminuição de vazões entre os anos de 2013 e 2018.

As alterações de vazões geram impactos positivos e negativos sobre a Bacia do São Francisco em Alagoas, conclui o relatório, composto por 28 capítulos e 600 páginas, detalhando a situação do rio. 
O relatório final, que vai virar um livro, já está sendo preparado, abordando temas relacionados aos aspectos da pesquisa.

Resultados


Em relação à contaminação das águas do Rio São Francisco, o relatório aponta para um elevado índice de coliformes fecais detectados no leito do Velho Chico, mesmo com o aumento da vazão em 2020 e 2021, além da contaminação de algumas espécies de elevado nível trófico na cadeia alimentar do ecossistema do rio por metais pesados, a exemplo do mercúrio.

As pesquisas e análises também, constataram a presença de pesticidas na água, identificando 14 tipos diferentes do produto dentre os 31 tipos avaliados. Dentre os compostos identificados, três foram classificados como extremamente tóxico, seis foram classificados como altamente tóxico e cinco, como grau médio de toxidade.

Expedição Científica no Rio São Francisco. Foto: reprodução

Em relação à fauna ribeirinha, os pesquisadores identificaram que mais de 60% das capturas de peixes feitas pelos pescadores ribeirinhos é composta por apenas duas espécies, ambas de baixo valor econômico. A boa notícia é que foram encontradas mais espécies de pescado, das quais, estão em estudos duas espécies de peixes que possivelmente seriam novas na região.

A expedição científica também detectou a presença altos níveis de salinidade na água, além da fragmentação das áreas de mata ciliar que margeia o Velho Chico e baixa fertilidade do solo, também com alta concentração de sal em sua composição.

Em relação à histopatologia, termo utilizado para identificar como uma doença específica afeta um conjunto de células, o diagnóstico histopatológico mostrou que em 100% das amostras analisadas durante o período da expedição, os peixes possuíam algum tipo de alteração patológica, seja no fígado ou nas brânquias.

Já sobre a genotoxicidade, capacidade que algumas substâncias têm de induzir alterações no material genético de organismos a elas expostos, provocando o surgimento de cânceres e doenças hereditárias, os maiores níveis de anormalidades celulares e estresse foram encontrados nos municípios de Piranhas e Penedo;

O relatório também aponta que, com as constantes mudanças nas vazões e despejos indiscriminados de efluentes domésticos, o ambiente sofre enormes consequências com o surgimento de cianobactérias potencialmente tóxicas e florações de dinoflagelados e aumento significativo de algas verdes filamentosas;

Sobre a fauna ribeirinha, foram encontradas cerca de 50 espécies de aves e mamíferos no Baixo São Francisco durante a expedição.

Educação Ambiental

Além de participarem da elaboração do relatório, pesquisadores expedicionários lançaram também duas cartilhas educativas: uma delas sobre o perigo dos plásticos nos oceanos, e a outra, sobre as boas práticas de manipulação de pescado para feirantes. Mais informações sobre as publicações podem ser acessadas através do perfil no instagram @expedicao_saofrancisco através do link: https://www.instagram.com/reel...

Trecho da cartilha sobre o plástico nos oceanos. Foto: reprodução

Segundo o professor Emerson Soares, as cartilhas tratam de dois temas fundamentais ao meio ambiente e à saúde pública: o uso de plásticos e o manejo de pescado; e foram viabilizadas através da parceria com a @semarhal (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piauí.

Trecho de cartilha sobre as boas práticas de manipulação de pescado. Foto: reprodução 

A cartilha “Plásticos: perigo nos rios e oceanos”, que tem como público-alvo estudantes da rede pública dos municípios ribeirinhos e pescadores da região. Ela aborda, de maneira didática e com uma linguagem simples, o quanto o uso de plásticos e o descarte incorreto dos mesmos prejudicam o meio ambiente, poluem as águas e trazem consequências danosas também à saúde humana, por meio dos microplásticos.

Vanildo Oliveira, engenheiro de pesca, expedicionário e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), é o autor do conteúdo e explica a importância da temática: “Estamos na Década do Oceano, que surgiu da necessidade mundial de cuidar da saúde oceânica. O Rio São Francisco tem um grande aporte para o Oceano Atlântico, então nosso objetivo é conscientizar a população que o rio, fonte de vida e sustento para tantas pessoas, não é um depósito de lixo. Estamos apostando na conscientização, na mudança de paradigma, que as pessoas cuidem dos rios e, consequentemente dos oceanos, deixando-os saudáveis e permitindo que as espécies reproduzam e forneçam alimento sadio para a população”, esclarece.