Cultura

Tropicalismo: o que era movimento que tinha Gal Costa durante ditadura

Gal Costa morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos

Por Uol 11/11/2022 07h07
Tropicalismo: o que era movimento que tinha Gal Costa durante ditadura
Tropicalismo: o que era movimento que tinha Gal Costa durante ditadura - Foto: Digulgação

Uma das maiores vozes da MPB, Gal Costa morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos. Desde seu surgimento no meio artístico nacional, a cantora foi uma das grandes representantes brasileiras, não só quando o assunto é música, mas também quando é política, afinal, ficou conhecida como um importante nome do movimento chamado de Tropicalismo, surgido no fim dos anos 60.

Alguns dos maiores clássicos do movimento foram lançados por ela, como "Baby" e "Divino, Maravilhoso". Com o exílio de Caetano e Gil, forçados pela ditadura a deixar o Brasil, Gal liderou a resistência artística do grupo no Brasil. Um dos grandes destaques dessa fase foi o hit "London, London".

Também conhecido como Tropicália, o movimento foi um grande marco cultural brasileiro e teve seu auge nos anos de 1968 e 1969 por marcar profundamente diversas formas de expressão artística, como a música, o cinema, o teatro, a poesia e as artes plásticas.

O surgimento do Tropicalismo no país foi um reflexo de movimentos similares ao redor do mundo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o auge da Guerra Fria, diversas ideias relacionadas à modernidade e à sociedade de consumo passaram a ser questionadas, incluindo críticas aos movimentos armamentistas, muito pelos conflitos armados que marcaram a primeira metade do século 20.

Nesse contexto, surgiram diversos movimentos políticos e artísticos em todo o planeta, como o maio de 68, na França, ou a Primavera de Praga, na Tchecoslováquia. Além dos movimentos de independência dos países africanos. Foi então que surgiu a Tropicália, no Brasil.

Além dessa influência vinda de fora, o contexto histórico do Brasil também deve ser levado em consideração para o surgimento do Tropicalismo. Em 1964, houve um golpe militar no país que, no final da década, endureceu ainda mais a tentativa de controle sobre o que podia ou não ser dito e publicado em território nacional.

As perseguições políticas e censuras promovidas pela ditadura militar na época não afastaram o movimento Tropicalista dos debates políticos. Os artistas que pertenciam a esse movimento concentraram suas obras no foco da leitura crítica sobre a realidade brasileira da época e às críticas ao governo ditatorial no país.

Principais nomes do movimento


Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam, Tom Zé, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes e Rogério Duprat foram os principais nomes do Tropicalismo na música. Em junho de 1968, eles lançam o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, um manifesto musical do movimento. A obra ficou conhecida por ter referências entre a música popular brasileira, o rock'n'roll, o concretismo e a cultura pop.

Um dos eventos mais marcantes do período foi o III Festival de Música Popular da TV Record de 1967, no qual foram apresentadas "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, e "Roda Viva", de Chico Buarque, canções de grande importância para a MPB, recheadas de críticas ao governo da época.

Já nas artes plásticas, Hélio Oiticica foi um nome importante, com obras como "Seja Herói, Seja Marginal" e "Tropicália". Na literatura, Augusto de Campos, com "O Balanço da Bossa", foi um dos destaques. No teatro, a peça "O rei da vela", de José Celso, além de toda sua influência no Grupo Oficina. No cinema, o Tropicalismo também exerceu fortes influências, sobretudo, no Cinema Marginal, com diretores com Rogério Sgarzela e Andrea Tonacci.

Aumento da repressão


Apesar do impacto cultural que o movimento obteve, o aumento da repressão da ditadura militar, com a implementação Ato Institucional nº 5, em 1968, intensificou as perseguições políticas e acirrou o clima de tensão no país.

Em 22 de dezembro de 1969, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos e, posteriormente, exilados, após se apresentarem em uma boate do Rio de Janeiro ao lado de Os Mutantes. O exílio desses dois representantes do movimento acabou esfriando o cenário musical da época, porém, alguns artistas como Gal Costa permaneceram no país representando o movimento até o afrouxamento da repressão.


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