Polícia

Como um garoto de programa golpista enganou professor até assassiná-lo

Jovem de 22 anos deixou rastro de golpes e roubos até matar cliente que enganou. Há anos, ele conquistava vítimas com simpatia e sedução

30/09/2023 16h04
Como um garoto de programa golpista enganou professor até assassiná-lo
Como um garoto de programa golpista enganou professor até assassiná-lo - Foto: Reprodução

O garoto de programa José Henrique Aguiar Soares, 22 anos, ficou conhecido nacionalmente na última semana depois de matar um professor universitário (e arquiteto) de 65 anos, em Goiânia (GO). O crime ocorreu dentro de um imóvel da vítima, que teria sido morta por estrangulamento (a polícia investiga se o docente foi dopado). Após toda a barbárie, o rapaz tentou acessar a conta bancária da vítima usando reconhecimento facial mesmo com o idoso já morto – o criminoso segurou a cabeça do professor por trás).

Mas antes desse crime bárbaro, Henrique, como era chamado, já deixava rastro de golpes e furtos por onde passava. Ele usava a simpatia e a sedução para conseguir o que queria, enganando amigos, namorados, familiares e até uma patroa que o tinha como filho.

Entre 2020 e 2021, o jovem trabalhou como garçom em um café de uma área nobre da capital de Goiás e conquistou os patrões ao ponto de ter acesso à conta bancária da empresa, por aplicativo de celular, por meio do qual desviou cerca de R$ 3 mil.

Sempre ganhava gorjetas

Uma ex-colega de trabalho dessa época disse ao Metrópoles que Henrique era muito simpático e atencioso. “Ele recebia gorjeta sempre! Era elogiado, tinha muitos amigos”, relatou, sob condição de anonimato.

Em relação aos patrões, ele angariou a compaixão deles contando uma história de vida árdua, infância infeliz e passado difícil, porque, segundo ele, teria sofrido abusos.

Nessa época, o jovem não se prostituía, mas confessava para os amigos que ficava com homens bem mais velhos por dinheiro. No entanto, isso seria apenas uma “diversão”.

Ao mesmo tempo, mantinha um namoro fixo com um jovem, com quem chegou a fazer uma tatuagem conjunta, de duas pessoas se abraçando. O relacionamento seria conturbado, com episódios de brigas e agressões físicas de ambas as partes.

Enganou a tia e o namorado

Em janeiro do ano passado, Henrique foi denunciado à polícia por um rapaz de 23 anos, com quem tinha um relacionamento amoroso.

O rapaz contou para a polícia que após voltar para casa percebeu o sumiço de uma TV, um notebook, uma mala, uma caixa de som e uma máquina de barbear. A suspeita era a de que Henrique tivesse furtado os itens.

Uma equipe da polícia foi até a residência de Henrique e encontrou os produtos furtados escondidos dentro do box do banheiro.

Antes disso, em maio de 2020, uma tia de Henrique denunciou que o sobrinho e o então namorado entraram em sua casa e furtaram uma TV, que teria sido vendida na cidade vizinha de Trindade (GO).

Após a divulgação pela impressa da prisão de Henrique por assassinato, novas vítimas estão procurando a Polícia Civil de Goiás para denunciá-lo por outros crimes.

foto colorida de garoto de programa preso por matar arquiteto - Metrópoles

Sexo nas redes

Depois de ser preso por matar o professor universitário, Henrique disse para a polícia que estava se prostituindo há três meses. Ele possui uma página na internet desde julho de 2020, onde publicava vídeos eróticos e pornográficos. O jovem também vendia conteúdo.

Ao mesmo tempo, ele tinha um anúncio como garoto de programa no site Skokka. “Trato como namoradinho”, dizia sua propaganda, que foi retirada do ar alguns dias após o latrocínio.

Foi por meio desse site que ele teria conhecido o professor universitário de 65 anos. Depois de alguns programas sexuais por R$ 300 cada, eles teriam começado a ter um relacionamento amoroso há cerca de 20 dias. Segundo o criminoso, o docente dava presentes para ele – versão de Henrique não foi confirmada por amigos e familiares da vítima.

Segundo o garoto de programa, os dois chegaram a frequentar bares e restaurantes, na condição de namorados. Além disso, Henrique teria até acompanhado o professor em um ensaio de coral – segundo o criminoso, trata-se de uma igreja em que a vítima cantava.

Encontro na igreja


Henrique foi ao apartamento do professor universitário na noite do último domingo (24/9), mas, quando chegou ao imóvel, tomou conhecimento de que o idoso estava cantando em um coral religioso, em uma igreja próxima.

O garoto de programa disse que foi até o local e ligou para o professor, que saiu momentaneamente do templo e emprestou o cartão de crédito para o seu algoz. O jovem comeu um lanche usando esse cartão. Mais tarde, os dois se encontraram no apartamento da vítima.

O professor tinha uma boa relação com a família, que disse não ter conhecimento sobre o relacionamento amoroso com o garoto de programa. Um dia antes, o idoso havia se reunido com familiares em uma confraternização e dito para uma parente que estava solteiro.

Último crime

Ainda não está claro o que aconteceu exatamente no momento do assassinato do professor. Henrique muda a versão. Mas uma coisa é certa: ele matou o idoso. Após o crime, tentou acessar as contas bancárias da vítima – inclusive com reconhecimento facial –, usou o cartão do idoso para fazer contas e forjou um suicídio.

Henrique arrastou o corpo do professor até o banheiro da suíte e o deixado caído sobre um tapete felpudo de cor escura – a vítima usava short florido e regata preta. O garoto de programa amarrou uma ponta de uma corda no pescoço da vítima e a outra na grade do banheiro. Além disso, colocou um terço na mão esquerda do idoso.

“Ele (Henrique) mente sobre o motivo da morte, dizendo que foi se defender durante uma briga que teria ocorrido por motivos de ciúmes por parte do professor. Ele diz inicialmente que a vítima pegou uma faca, mas depois volta atrás. Mente sobre horários dos fatos. Mente sobre a origem de objetos que foram encontrados na casa dele”, conta o delegado Daniel José de Oliveira, da Polícia Civil de Goiás.

Henrique disse que cometeu o crime apertando o pescoço do professor com as duas mãos. Marcas no rosto da vítima encontradas pela perícia indicam que isso aconteceu, mas os peritos preferiram pedir novos exames para verificar se o idoso foi dopado ou envenenado.

Compras após morte


Segundo as investigações, depois de matar a vítima, Henrique foi até uma região conhecida como Camelódromo de Campinas e comprou vários produtos: três pares de tênis, um relógio de pulso, capas de celular e um Iphone 13.

No mesmo dia, o Banco Santander acionou a polícia goiana ao perceber as várias tentativas de transferência via Pix e TED na madrugada, sendo que em uma delas houve tentativa de reconhecimento facial e “foi possível aferir que se trata de pessoa aparentemente falecida”.

A polícia prendeu Henrique em flagrante. As imagens do reconhecimento facial revelaram parte da tatuagem do antebraço do garoto de programa. Ele ergueu a cabeça da vítima para tirar as fotos enviadas ao banco.

Quando foi preso, Henrique estava vestindo uma camiseta de cor vinho, cuja estampa mostra um desenho de duas mãos segurando notas de dinheiro. Atualmente, ele está preso preventivamente na Central de Triagem do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), por latrocínio (roubo seguido de morte) e fraude processual, que foi a tentativa de forjar um suicídio.

A reportagem tenta localizar a defesa do garoto de programa, e o espaço segue aberto. Na delegacia, ele disse que está arrependido.