Acidentes

Fugir sem prestar socorro virou tendência em casos de atropelamento

Escapar do flagrante e medo da reação de populares estão dentre os motivos

Por 7segundos 21/10/2023 08h08 - Atualizado em 21/10/2023 08h08
Fugir sem prestar socorro virou tendência em casos de atropelamento
Câmeras de videomonitoramento registraram o atropelamento - Foto: Reprodução

Em uma triste e recorrente tendência nas vias urbanas e rodovias, casos de motoristas e motociclistas que causam acidentes e fogem sem prestar socorro têm chamado a atenção das autoridades, levantando questões sobre as penalidades, os motivos por trás dessa conduta e as consequências para a sociedade.

Recentemente, um caso ganhou grande repercussão em Arapiraca justamente por este motivo. Um empresário local atropelou um casal de policiais que estava praticando ciclismo em um trecho da rodovia AL-220. Logo após o acidente, o motorista deixou o local sem prestar socorro às vítimas, o que pode ter contribuído para a morte de uma delas, a PM Cibelly Barboza Soares.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é claro quanto à obrigatoriedade de prestar socorro em caso de acidente de trânsito. De acordo com o artigo 176, "deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública", é considerado crime e pode resultar em detenção, multa e suspensão da habilitação. No entanto, essa obrigação legal muitas vezes é ignorada, gerando impunidade e agravando as consequências dos acidentes.

No caso do atropelamento dos policiais em Arapiraca, o empresário emitiu uma nota de esclarecimento dando a sua versão dos fatos. Segundo ele, logo após o acidente, sua filha, que é enfermeira, foi acionada e acompanhou todo o socorro médico das vítimas. No texto, o motorista informou que ficou em estado de choque e que deixou o local do acidente por medo de represálias. Ainda segundo o empresário, o incidente aconteceu logo após um almoço de família e que não houve ingestão de bebida alcoólica. Tal informação é contestada pela família das vítimas, levando em consideração o relato de testemunhas.

MOTIVOS QUE LEVAM À FUGA:

Apesar da penalidade prevista no CTB e no Código Penal, vários fatores contribuem para a fuga de motoristas e motociclistas após um acidente. Alguns dos principais motivos incluem:

> Medo das Consequências: Muitos condutores temem as penalidades legais, incluindo a prisão e a suspensão da habilitação, o que os leva a tomar a decisão errônea de fugir;

> Estado de Embriaguez ou Uso de Drogas: Motoristas sob a influência de álcool ou substâncias entorpecentes têm maior probabilidade de fugir do local do acidente, já que a consciência dos riscos legais pode ser prejudicada;

> Falta de Conhecimento do CTB: Alguns condutores não estão plenamente conscientes das leis de trânsito e das obrigações legais em caso de acidente;

> Veículos Irregularmente Documentados: Aqueles que não estão com a documentação do veículo em dia, como licenciamento e seguro, tendem a fugir para evitar problemas adicionais com a polícia;

> Pânico e Falta de Preparo: Emocionalmente abalados após um acidente, muitos condutores entram em pânico e, em vez de prestar socorro, optam por fugir.

CONSEQUÊNCIAS PARA A SOCIEDADE:

A fuga após um acidente de trânsito tem consequências graves para a sociedade, incluindo:

> Impunidade: A impunidade dos condutores que fogem desencoraja o cumprimento das leis de trânsito e contribui para um ciclo de comportamento irresponsável;

> Agravamento de Lesões: A falta de socorro imediato pode agravar as lesões das vítimas, reduzindo as chances de recuperação;

> Aumento de Acidentes: A percepção de que é possível fugir após um acidente sem sofrer consequências leva a um aumento no número de acidentes de trânsito;

> Custos para o Sistema de Saúde: Vítimas de acidentes de trânsito que não recebem cuidados adequados no momento podem acabar sobrecarregando o sistema de saúde, gerando custos elevados.

TRAUMAS:

Acidentes de trânsito podem causar traumas psicológicos tanto nas vítimas quanto para os causadores. 

O período posterior ao acidente é sempre um choque de realidade. Em geral, a primeira sensação é a de alívio por estar vivo, mas, em seguida, outras tantas se misturam. Reviver o episódio e sonhar com a batida são fatores comuns. O problema todo começa quando isso se torna crônico, e as atividades rotineiras de antes já não conseguem mais serem exercidas.

“Ter flashes de memória durante o dia, logo após o acidente, significa que a mente está elaborando o problema. Se essas recordações persistem e atrapalham os afazeres do paciente, pode ser que ele esteja sofrendo de estresse pós-traumático”, destaca o psiquiatra Rogério Cardoso.