Política

Sindicato denúncia esquema com mais de mil funcionários fantasmas na prefeitura de Canapi

Prefeito, vereadores e cabos eleitorais se beneficiariam do esquema

Por 7Segundos 13/12/2023 14h02
Sindicato denúncia esquema com mais de mil funcionários fantasmas na prefeitura de Canapi
Vinícius Lima, prefeito de Canapi, tem administração investigada - Foto: Reprodução

Em cidades pequenas existem "segredos" que são comentados às escondidas, mas que no final das contas quase todo mundo tem conhecimento. No município de Canapi, para a população de pouco mais de 15 mil pessoas - de acordo com dados do IBGE - não é exatamente novidade a existência de servidores fantasmas na prefetura. A maioria dos moradores conhece alguém que "tem um salário da prefeitura", modo popular de se referir ao funcionário municipal que recebe sem trabalhar.

De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos do Municipal de Canapi, aproximadamente mil do total de 1.500 contratados pela Secretaria de Educação de Canapi recebem salários sem trabalhar. Segundo levantamento do Sindiscan, somente entre os meses de janeiro a novembro de 2023, o pagamento a esses "trabalhadores" pode ter causado prejuízo de R$ 22 milhões no Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb).

A situação foi denunciada e é investigada pelo MInistério Público do Estado, Ministério Público Federal e Polícia Federal.

No último dia 05 de dezembro, o sindicato divulgou uma carta aberta informando ter apresentado mais uma denúncia ao MPE, devido a falta de respostas da prefeitura a ofícios que solicitaram informações atualizadas sobre a folha de pagamento da Educação, que deveriam constar no Portal da Transparência do município, como pode ser visto no documento abaixo:

(Continua após a imagem)

O pagamento a esses funcionários fantasmas ocorreria com o conhecimento do prefeito Vinícius Lima, filho do ex-prefeito José Hermes, condenado a prisão em 2020 por crimes de  apropriação de recursos públicos e formação de quadrilha. Além do prefeito, o esquema teria também o envolvimento de todos os 11 vereadores da Câmara Municipal. Irmãos, cunhados, filhos, genros, noras e sobrinhos de parlamentares seriam integrantes da folha fantasma, que incluiria também amigos e cabos eleitorais. Alguns deles sequer moram em Canapi.

De acordo com levantamento do Sindscan, tem estudante que cursa Medicina em Buenos Aires, na Argentina, que recebe salário como se trabalhasse em uma escola de Canapi. Na folha, constam ainda pessoas que moram em São Paulo ou em outras cidades alagoanas, como Santana do Ipanema; além de conhecidos empreendedores do comércio local, como um dono de bar e sua esposa, que durante o expediente na escola estão trabalhando, mas na cozinha e servindo os clientes do bar.

A reportagem do 7Segundos tentou contato com a prefeitura e Câmara de Canapi, por meio dos telefones que constam nas páginas eletrônicas. Secretários municipais de Canapi informaram que apenas o secretário de gabinete do prefeito, José Valério Martins Lira, poderia responder em nome da prefeitura. Mas o telefone dele recusou as ligações e depois ficou "fora de serviço".
O telefone da Câmara de Vereadores também estava "fora de área" e, no site, consta que o atendimento ao público é restrito às segundas e terças-feiras, das 8h às 12h.

O 7Segundos mantém o espaço aberto e irá atualizar a matéria caso prefeitura e Câmara Municipal enviem notas de esclarecimento sobre o caso.

O Ministério Público Estadual confirmou a abertura de uma investigação relacionada a suspeitas de improbidade administrativa na prefeitura de Canapi. O promotor Paulo Victor Souza Zacarias informou, por meio de nota (veja abaixo), que a ação transcorre em segredo de justiça.