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Grão-de-bico cultivado em solo lunar pela primeira vez (com a ajuda de minhocas e fungos)

Entre as diversas espécies de plantas, o grão-de-bico foi a escolha favorita por ser um alimento rico e proteína e micronutrientes, sendo extremamente completo.

Por Só Científica 25/01/2024 14h02
Grão-de-bico cultivado em solo lunar pela primeira vez (com a ajuda de minhocas e fungos)
Grão-de-bico cultivado em solo lunar - Foto: Pixabay

Um dos principais requisitos para a exploração espacial por humanos é saber cultivar plantas no espaço. Produzir os alimentos durante missões espaciais pode ser muito mais simples e menos espaçoso do que levar alimento suficiente da Terra. Assim, dominar o cultivo de plantas em solo lunar é importantíssimo.

Entretanto, não há exatamente insumos ilimitados pelo universo que permitam o cultivo de plantas. Na verdade, não sabemos exatamente como cultivar plantas fora da Terra em grande escala. Trabalhar com o solo extraterrestre pode ser difícil, pois não necessariamente é um material semelhante à terra disponível no planeta Terra.

Por isso, diversos pesquisadores tentam desenvolver maneiras de se cultivar diversas plantas diferentes na Lua, por exemplo.

Com isso em mente, replicando amostras trazidas das missões Apollo, a fim de imitar o solo lunar, uma dupla de pesquisadoras conseguiram cultivar, com sucesso, o grão-de-bico. Espera-se poder escalar o projeto para outras plantas comestíveis e de alto poder nutricional.

“A sustentabilidade alimentar é uma das barreiras mais significativas para viagens espaciais de longo prazo”, diz o abstrato do artigo que aborda o estudo. “Fornecer recursos da Terra não é rentável, e as missões de reabastecimento não são viáveis para atender às necessidades de vida de longo prazo em condições de espaço profundo”.

O texto explica que as “plantas no espaço podem fornecer uma fonte de nutrição e oxigênio, reduzindo a dependência de alimentos embalados, reduzindo as necessidades de reabastecimento e estendendo a duração das missões”.

O problema do cultivo de plantas em solo lunar


As plantas terrestres estão acostumadas com o solo da Terra. Isso, por si só, já é um ponto. Entretanto, se os astronautas forem levar da Terra todo o solo para plantar, uma das razões pelas quais as plantas seriam produzidas no espaço seria inutilizada. A ideia é justamente economizar espaço e energia durante a viagem.

Assim, os cientistas precisam aprender como cultivar em diversos solos diferentes. Mas isso é difícil, pois cada local terá suas características específicas. Não é tão simples como o filme ‘Perdido em Marte’ faz parecer – muito embora ele já demonstre que é difícil.

A Lua, por exemplo, não possui um solo como o da Terra. Na verdade, o que a Lua possui é o rególito, uma poeira solta na superfície, além de pedaços de rochas.

Fungos e minhocas


Fungos e minhocas podem ser a chave para o cultivo de plantas em solo lunar, conforme o estudo já citado, publicado pela dupla feminina, composta por Jessica Atkin, da Texas A&M University, e Sara Oliveira Santos, estudante de doutorado da Brown University.

As pesquisadoras utilizaram minhocas e fungos em duas etapas para o cultivo de plantas em solo lunar.

Primeiro, ocorre a atuação do fungo. Elas utilizaram micorrizas arbusculares, que são simbioses entre fungos e plantas, ou seja, relações onde as duas partes ganham.

Os fungos ficaram com o papel de capturar os metais pesados presentes em solo lunar. Esses metais pesados fazem um grande mal para nossa saúde, e caso fossem capturados pelas plantas, as tornariam perigosas para nosso consumo.

A minhoca, por sua vez, ajuda na adubação, arejamento e drenagem do solo. As pesquisadoras dizem que se pode até mesmo utilizar as minhocas para reciclar roupas e itens de higiene, além, é claro, de resíduos de alimentos.

Entre as diversas espécies de plantas, o grão-de-bico foi a escolha favorita por ser um alimento rico e proteína e micronutrientes, sendo extremamente completo. Além disso, possui uma ótima relação com os fungos.

As plantas que cresceram sem os fungos em solo lunar morreram rapidamente.

Entretanto, há dois pontos importantes a serem estudados. O estudo não abordou nem os efeitos da microgravidade, nem da maior exposição à radiação do espaço. Ainda assim, o estudo dá um importante passo inicial nesse campo de estudo, abrindo caminho para novas pesquisas.