Comunidade

Dia dos Povos Indígenas: " Não vamos mais lutar com arco e flecha, vamos lutar com a caneta na mão e de igual para igual"

No Polo Agreste, localizado em Palmeira dos Índios, tem uma grande variedade de artefatos indígenas espalhados pelo campus.

Por 7segundos/Assessoria 19/04/2024 14h02
Dia dos Povos Indígenas: ' Não vamos mais lutar com arco e flecha, vamos lutar com a caneta na mão e de igual para igual'
“Abril é o mês da resistência indígena e nós professores indígenas temos a preocupação de fortalecer essa identidade cultural" - Foto: Ascom Uneal

No dia 19 de abril é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, uma data que não apenas reconhece a importância histórica e cultural dessas comunidades, mas também destaca os esforços contínuos para fortalecer suas identidades e direitos. Em Alagoas, esse compromisso se manifesta através do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena (Clind), uma iniciativa pioneira da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).

"Não vamos mais lutar com arco e flecha, vamos lutar com a caneta na mão e de igual para igual", declarou Koram Xucuru Kariri, estudante de Pedagogia do Clind/Uneal, destacando a importância dessa formação para os povos indígenas. “Hoje nós podemos estar dentro de uma instituição que fala a nossa língua. Essa reparação histórica da Uneal, que pensou nos povos indígenas, todas as universidades deveriam fazer. Mas está dentro da missão da Uneal ter essa aproximação com os povos indígenas e nós somos muito gratos. Ninguém nunca olhou para os povos indígenas e a Uneal já formou uma turma e está formando outra, trazendo o protagonismo indígena e um ensino diferenciado”, completou.

O Clind, que antes era realizado como Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind), já formou 67 professores indígenas em sua primeira edição. Atualmente, vai além, oferecendo uma formação abrangente em nível superior para mais de 200 graduandos indígenas de 12 etnias distribuídos em quatro polos. Com foco na docência no Ensino Fundamental e Médio, o curso respeita e promove a interculturalidade e o multiculturalismo.

Huetçãwan Tavares, professora auxiliar na Escola Estadual Indígena Mata da Cafurna, compartilha sua experiência. "Eu estudei em uma escola de branco e a gente sempre teve uma certa dificuldade em relacionar nossas atividades culturais com a grade curricular do não-indígena. Hoje trabalhando dentro da minha aldeia, com as crianças do meu povo, a gente tem uma maneira totalmente diferente de trabalhar. Dentro da grade curricular disponibilizada pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) a gente adapta a nossa rotina, os nossos costumes, as nossas tradições."
“Abril é o mês da resistência indígena e nós professores indígenas temos a preocupação de fortalecer essa identidade cultural, que é se reconhecer como indígena dentro da comunidade”, complementou, Bruna de Souza Ramos, professora do 4º ano da Mata da Cafurna.

Itawanã Ferreira da Silva mora na Aldeia Kandaú e é aluna do curso de Matemática, sua segunda graduação. Ela destaca a importância do Clind para a educação escolar indígena. “O curso intercultural é novo pra gente, aqui em Alagoas a gente não vê nenhuma outra universidade trazendo os conteúdos que são, como a gente chama dos povos não-índios, mas também trazendo conteúdos voltados a nossa questão indígena. E a gente trazendo isso para dentro da escola com certeza vai fortalecer a nossa luta, a nossa resistência e a educação escolar indígena, diferenciada e de qualidade”

“Eu só tenho a agradecer por termos professores se formando dentro da Universidade, isso traz grandes benefícios para a gente, o principal é fortalecer a nossa cultura”, expressou o Pajé Kandaú.

No Polo Agreste, localizado em Palmeira dos Índios, tem uma grande variedade de artefatos indígenas espalhados pelo campus. A biblioteca recebe o nome do povo Xucuru Kariri e o professor Adelson Lopes se dedica a pesquisar e publicar textos/livros sobre os povos originários. Além de coordenar o Grupo de Pesquisa da História Indígena de Alagoas - GPHIAL e realizar eventos como o o Abril Indígena. “Nós estamos em um município que é notadamente território indígena, o próprio nome do município já diz isso. E quando eu cheguei aqui me inquietou a inexistência de visibilidade para o povo indígena”, disse ele.

FORMAÇÃO E RECONHECIMENTO

Iraci Nobre, coordenadora do Clind, ressalta a importância desse programa. "Parabenizo os povos indígenas por celebrarem este mês dedicado às suas lutas, vida e cultura. Ainda há muito por fazer, mas estamos construindo juntos. A Uneal demonstra seu compromisso com os povos indígenas de Alagoas desde 2008, sendo a única universidade brasileira a oferecer esses cursos no formato do Clind".

Anderson Barros, vice-reitor da Uneal, destaca a parceria com os povos indígenas de Alagoas. “Quero parabenizar todos os povos indígenas, principalmente os povos de Alagoas com quem a gente tem trabalhado de forma direta nos últimos anos. Primeiro com o Prolind e agora com o Clind, onde ofertamos graduação para todos os Povos do Estado. A Uneal estará sempre à disposição para que a gente possa cada vez mais contribuir com a formação dos povos indígenas de Alagoas".

O reitor, Odilon Máximo, reforça o compromisso da Uneal com os povos indígenas. “Enquanto Universidade Estadual de Alagoas estaremos sempre aqui na defesa dos povos indígenas, lutando para que possamos valorizar cada vez mais as suas tradições e culturas. Apoiando com aquilo que nós fazemos de melhor, que são os nossos cursos de formação. E que a gente possa cada vez mais ter uma sociedade que valorize e respeite os nossos povos indígenas. Parabéns!".

Com o apoio do Governo de Alagoas e do Fecoep, o Clind continua a expandir seu alcance, garantindo o acesso democrático à educação de qualidade para os povos indígenas de Alagoas.

POLOS DO CLIND

- Polo do Agreste em Palmeira dos Índios: Atende às etnias Xucuru Kariri, de Palmeira dos Índios, e Tingui Botó, de Feira Grande.

- Polo Zona da Mata em Joaquim Gomes: Atende aos indígenas da Wassu Cocal.

- Polo do Baixo São Francisco em São Sebastião: Atende aos Karapotó Plak-ô e Karapotó Terra Nova, de São Sebastião, Kariri Xocó, de Porto Real do Colégio, e Aconã, de Taipu.

- Polo do Sertão em Pariconha: Atende aos povos Jeripankó, Katokinn, Karuazu, de Pariconha, Koiupanká, de Inhapi, e Kalankó, de Água Branca.