Saúde

18 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade; saiba se você tem e por que deve tratá-la

O Brasil é o país com maior número de pessoas com o transtorno no mundo; são 9,3% da população afetada

Por Mariane Rodrigues *estagiária 13/03/2017 15h03
18 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade; saiba se você tem e por que deve tratá-la
Ansiedade é causadora e está presente em diversos transtornos mentais - Foto: Reprodução/ Internet

 

 

Falta de ar, insônia, sensação de que o pior vai acontecer a qualquer momento, preocupação e suor excessivos, irritabilidade, pensamento acelerado, dores musculares. Quantas, dessas sensações, estão presentes no seu dia a dia? Quantas delas tornam os seus dias mais angustiantes e difíceis? Os sintomas citados acima definem o estado mental e emocional de um ansioso e acredite, é grande o número de pessoas que sofrem de ansiedade no Brasil.

O Brasil é o país com maior número de pessoas que sofrem com algum transtorno de ansiedade no mundo, mais de 18 milhões de brasileiros, isso corresponde a 9,3% da população – e o quarto mais depressivo, com mais de 11 milhões de pessoas. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em fevereiro deste ano.

Em escala mundial, a organização aponta que 264 milhões de pessoas sofrem do problema de ansiedade. O dado reflete um aumento de 15% em comparação com as estatísticas de 2005. Surpreende o indicativo? Segundo a OMS, a taxa brasileira é de três vezes superior a média de todos os países.

Clica aqui e veja estatística completa.

Mas, por que o país do carnaval ganhou um título como esse? À reportagem do Uol, o especialista em saúde mental da OMS, Dan Chisholm, apontou diversos fatores, que conjuntamente, colaboram para o crescimento da ansiedade por aqui.

"Ao contrário de outras doenças, existem muitos fatores que atuam de forma conjunta para criar esse cenário", explicou o especialista, listando fatores como, situação econômica do país, níveis de pobreza, desigualdade, desemprego, recessão, além de estilo de vida das grandes cidades.

Para a neuropsicóloga, Valéria Lopes Jatobá Tenório, a ansiedade “é caracterizada por um sentimento decorrente da excessiva excitação do Sistema Nervoso Central”, causado por sensação constante de perigo, tensão, nervosismo, desconforto, fome excessiva, tensão muscular, dor de cabeça, dor no peito, apreensão, sofrimento, “sensação de premeditar e controlar o improvável, na maioria das vezes, catastrofizando o futuro”, explica. 

Em depoimentos à reportagem do Portal 7 Segundos, quatro pessoas contaram como é viver com ansiedade, e quais as consequências de possuir o transtorno. Elas citam problemas em se relacionar com o outro, até redução da produtividade no ambiente de trabalho.

“Cheguei ao ápice do estresse, me afastei de amigos, mal falava com meus pais em casa, e estava de férias da faculdade. Por isso, me isolei dentro de casa e senti que tinha perdido controle da minha vida”. – Valmor Mendoça, 24 anos. 

Suor excessivo, batimento cardíaco acelerado, paranoia, pernas inquietas, insônia, baixa autoestima, fome excessiva, preocupação constante sobre o que as outras pessoas pensam e dificuldade de concentração levaram o estudante de jornalismo, Valmor Mendonça, a ganhar quilos e um saldo de medicamentos para controlar os sintomas da ansiedade.

O ápice, segundo ele, foi no segundo semestre do ano passado, quando tudo isso o levou a um estágio de isolamento social, ao ponto de evitar a se entrosar com os próprios familiares. O quarto era o seu refúgio, assim como a comida. Mas o desconforto permanente não é de agora, já vem de muito tempo. No entanto, o diagnóstico veio em janeiro deste ano por um psicólogo e um psiquiatra.

“Sinto isso desde adolescente. Sempre achava que era da minha personalidade e que eu era estranho, até vê algumas informações na internet. Em setembro do ano passado, minha ansiedade voltou com força e engordei. Eu sabia que quando estava ansioso eu comia muito ena vontade grande de me encaixar no padrão e manter a magreza resolvi atacar a ansiedade de todas as formas. Comecei só com a psicóloga porque tinha receio de remédios. Ela vendo meu desespero indicou o psiquiatra e a acupunturista”, explica.

Com o uso de remédios, com algumas práticas alternativas no dia a dia, e visitas duas vezes por semana ao psicólogo, o estudante de jornalismo afirma que a ansiedade está sob controle, mas ele detalha os pensamentos e confusões que permeiam à sua mente quando os sintomas retornam.

“Quando pego táxi penso que vai ter um acidente. Qualquer pensamento sobre o futuro profissional deixa-me aflito. A sensação de cansaço e exaustão mental é constante”, descreve Valmor.

  Além dos remédios, Valmor afirma que é preciso ter vontade interior para mudar. Por isso, ele mudou algumas coisas em sua rotina: se antes ele trocava o dia pela noite, agora ele acorda às 8h30, segue dieta passada por um nutricionista e come a cada 3h, e frequenta a academia. “Gosto bastante”, afirma, ressaltando que gostaria de praticar Ioga, caso tivesse mais tempo livre.

“Antes eu passava o dia trancado no quarto, hoje fico de porta aberta. E eu era uma pessoa MUITO fechada, guardava tudo para mim mesmo, o que acabava me sufocando. Hoje converso mais, principalmente com amigos, para desafogar, e quando bate a ansiedade louca e a vontade de comer eu tento pelo menos não comer tanto”, expõe o estudante, que afirma que a ansiedade associada à depressão, de acordo com seu quadro clínico, o impediram de realizar algumas conquistas. 

“A depressão e ansiedade me impediram bastante de ser produtivo: não estagio, nem trabalho. O jornalismo é minha terceira faculdade, porque abandonei as outras duas. Se eu tivesse azar meus pais seriam carrascos e cairiam em cima de mim me chamando de preguiçoso e sem futuro, mas meus pais são compreensivos”, finaliza.

“Se você me perguntasse qual foi a lição que eu tirei disso tudo, eu diria: não baixar a cabeça. Só queria pedir para que as pessoas jamais julgassem quem passa por isso. Porque por trás de toda crise de ansiedade existe uma história”.Helen Oliveira, 24 anos. 

Segundo a neuropsicóloga, Valéria Jatobá, a ansiedade pode ser fruto da genética, onde o afetado já tem uma predisposição a desenvolver o problema, mas também pode ser adquirida por meio de situações externas que poderão desencadear o transtorno.

 É o caso da youtuber, Helen Oliveira, que afirma ter desenvolvido a ansiedade há 7 anos, quando perdeu três pessoas das quais amava –seus avós paternos e uma amiga - num intervalo de apenas 10 dias. O diagnóstico veio dois anos depois: um de ansiedade e outro de síndrome do pânico. No período, ela conta que emagreceu 15kg.

 “Comecei a sentir medo do nada. Medo não, pânico. Tinha uma sensação ruim, como se uma desgraça fosse acontecer comigo a qualquer momento”.  – Helen Oliveira

As perdas despertaram na youtuber o medo de que alguma tragédia fosse ocorrer em sua vida, enquadrando-se na característica apontada pela neuropsicóloga, de catastrofizar o futuro. Helen conta que tempos depois, além dos sintomas psicológicos, os físicos apareceram. Os tremores pelo corpo eram intermináveis, principalmente durante as madrugadas, período em que ela se sentia só e suas únicas companhias eram o medo e a insônia.

 “No auge da crise, eu estava totalmente mudada. Quem olhava pra mim, via que eu estava abatida. Além do pânico que me dava, eu sentia convulsões, todo mundo via que aquilo afetava tanto meu psicológico quanto meu físico. Cheguei a passar quatro dias seguidos sem dormir”, afirma.

Além do acompanhamento psicológico e psiquiátrico, foi no trabalho, na Ioga e no seu canal do Youtube, onde dá dicas de maquiagem e beleza, que Helen conseguiu ter o controle de sua ansiedade e assim viver de forma mais tranquila e saudável.

“Tentei preencher todos os meus horários com alguma coisa: seja aulas de reforço, ou ir à casa de algum amigo, ou fazer limpeza na casa. Todo dia eu invento alguma coisa para fazer e ficar o máximo de tempo com a mente ocupada”, finaliza a youtuber.       

“A ansiedade me estagna muito, principalmente porque alimenta a minha insegurança e muitas vezes eu deixo de ser a profissional que eu posso devido a ela”. - Geovana*, 21 anos.    

Geovana*, estudante e um diagnóstico de ansiedade há dois anos.  Em um teste psicológico com um profissional, ela atingiu 52 pontos, em que o mínimo para a indicação de medicamentos seria de 25 pontos. Encaminhada ao psiquiatra, ela se negou a tomar remédios e hoje tenta amenizar os efeitos da ansiedade por meio de meditações antes de dormir ou de barulhos de gotas d’água que costumam lhe trazer tranquilidade.

Ela conta, que além da ansiedade, sofre de Síndrome do Pânico, os dois descobertos numa única consulta. Ela se sente afetada, principalmente no seu ambiente de trabalho, onde, em uma chamada para reunião com o chefe, já lhe provoca medo excessivo.

“Dependendo da situação, eu não consigo respirar. Quer dizer... Eu sei que estou respirando, mas eu sinto como se não tivesse. Têm mil coisinhas, na verdade. A insônia, por exemplo, eu tiro de letra. O dia a dia é que é mais difícil, principalmente na minha profissão, que preciso lidar com pessoas. No trabalho, um chamado do meu chefe para sala de reunião, meu coração parece que não bate. Aperta mesmo. Minha visão começa a ficar turva e a sensação que tenho é que vou desmaiar porque não sinto minha respiração”, conta a estudante.

Geovana afirma também se sentir acuada nos seus relacionamentos com amigos e familiares. Isso porque muitos tendem a subestimar seu problema e considerá-la exagerada ou dramática.

“Eu tenho sempre que me acalmar dizendo que as coisas estão sob o meu controle e separar o que posso e o que não posso”, finaliza.

* Nome fictício

  “É difícil de descrever. Ficava angustiado, triste, preocupado por algo que nem eu sabia o que era”. - Thiago Ferreira, 30 anos.

Thiago descobriu que tem ansiedade há dois anos quando teve constantes  picos de hipertensão, em que a sua pressão chegava a 170x110 ou 200x120, em uma de suas piores crises.  Isso tinha uma causa: tristeza, angústia e preocupação.

O diagnóstico veio por meio de um psiquiatra que prescreveu medicamentos. Com dois meses, uma nova crise o fez parar na emergência devido o aumento da pressão.  

“Era uma sensação de desespero. Nada ao meu redor fazia sentido. Eu só queria que aquela angústia acabasse. Fisicamente sinto minhas mãos trêmulas, suor frio e cansaço constante”, descreve.

Para amenizar a ansiedade, o músico afirma se controlar ao máximo no ambiente de trabalho, embora sua vida pessoal já tenha sido afetada.

É comum a confusão para diferenciar a ansiedade patológica de outros transtornos ou comportamentos, visto que o problema, em muitos casos, vem associado a outras doenças mentais. Todos os entrevistados acima não entendiam que o que sentiam era um transtorno e que precisava ser tratado, até o momento em que protagonizaram crises intensas e decidiram buscar um profissional. Há uma linha tênue entre ansiedade e se sentir apenas um “peixe fora d’água” no meio social.

Segundo a neuropsicóloga, Valéria jatobá, a ansiedade excessiva está associada ao alto índice de adoecimento. Isso pode resultar em outros transtornos psiquiátricos, por isso há a necessidade de buscar ajuda a um psicólogo ou psiquiatra.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,  além de causar outras doenças mentais, a ansiedade está presente em muitas delas, tais como: transtorno de ansiedade de separação, fobia específica, mutismo seletivo, fobia social, transtorno do pânico, transtornos induzidos por medicamentos ou substâncias, transtorno alimentares  entre outros.

" A psicoterapia é uma das ferramentas imprescíndível que temos para tratar da ansiedade quando ela começa a nos prejudicar. Trabalho de forma que o paciente seja psicoeducado, através de técnicas e estratégias que mudem os padrões de pensamentos e ânsias. Na parte comportamental, trabalho para ajudar a pessoa a alterar como reagiar às situações que provocam ansiedade, desenvolvendo assim habilidade para lidar com suas emoções e melhorando sua qualidade de vida", explica a neuropsicóloga. 

O uso de medicamentos antidepressivos ou de controle de ansiedade não pode ser indiscriminado. A neuropsicóloga pontua que remédios são indicados por psiquiatras quando o paciente tem dificuldade de seguir sua rotina normalmente.  

“O uso psicofarmacológico é utilizado quando o paciente apresenta afastamento, evita ir ao trabalho, escola ou faculdade. Mas é importante deixar claro que um tratamento bem-sucedido deve considerar a colaboração de todas as partes envolvidas: psicoterapeuta, psiquiatra, o próprio paciente e a família/amigos. Ou seja, apenas o tratamento medicamentoso, por exemplo, não é suficiente para um tratamento efetivo”, conclui.

Bônus:

A alimentação pode complementar o tratamento de ansiedade e ajudar a reduzir os efeitos. Segundo a nutricionista, Samara Bonfim, quando os indivíduos que possuem ansiedade apresentam níveis adequado dos aminoácidos arginina e a lisina (encontrados naturalmente nas proteínas) no organismo, apresenta uma melhora no quadro do transtorno. 

Segundo ela, o ácido graxo e o ômega 3, encontrados nos peixes de água fria e profunda, como o salmão, a sardinha, o atum, o arenque e a cavala, auxiliam no tratamento contra a ansiedade. 

No reino vejatal, o paciente pode usar sementes de chia e linhaça. O destaque vai também para a utilização de ervas, tratamento denominado de fitoterápico. 

"Erva-cidreira, camomila e a passiflora podem ser utilizados como chá tradicional ou manipulados, mas sugiro que eles só os utilize, caso exista indicação do médico ou do profissional habilitado na fitoterapia", explica a nutricionista, que acrescenta: "a princípio, a terapia primária do nutricionista será a alimentação. O intestino possui uma relação muito grande com o cérebro, mas o tratamento nutricional não descarta um tratamento médico. Essas dicas são coadjuvantes no tratamento da ansiedade, eles sozinhos não podem ser tratamento. O paciente deve ser acompanhado de uma equipe multidisciplinar", finaliza. 

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