Economia

Febre: Álbum da Copa do Mundo se transforma em investimento para alagoanos

Em 2002, pacote custava R$ 0,50 e vinha com seis cromos. Hoje custa R$ 4 e vem com cinco

Por João Arthur Sampaio 03/09/2022 08h08 - Atualizado em 03/09/2022 14h02
Febre: Álbum da Copa do Mundo se transforma em investimento para alagoanos
Desde o último título mundial brasileiro, pacote de figurinhas da Copa acumula alta de 700% - Foto: Reprodução / Arquivo pessoal

Há 20 anos, Ronaldo Fenômeno marcava dois gols contra a Alemanha e o Brasil se consagrava vencedor da Copa do Mundo pela quinta vez em sua história. Até hoje a seleção detém o recorde de maior campeã do torneio, que teve seu primeiro pontapé inicial em 1930.

Quase tão tradicional quanto o próprio evento em si, no ano de 1970, também conhecido pelo tricampeonato mundial brasileiro, era lançado primeiro álbum de figurinhas da Copa, que se tornaria febre entre os torcedores e item de coleção para entusiastas. Hoje é comercializado em mais de 150 países.

O primeiro torneio deste século aconteceu em 2002. À época, o álbum custava R$ 3,90 e o pacote de figurinhas [no último ano em que vinham seis cromos] era R$ 0,50. Ou seja, cada uma saía por R$ 0,08. Neste ano, estão custando R$ 12,90 e R$ 4, respectivamente. Desta vez, cada figurinha está saindo por R$ 0,80 e vêm cinco.

Um levantamento do site InfoMoney apontou que neste período a inflação medida pelo IPCA teve alta de 239%, o que refletiu em um aumento de 208% no álbum, 700% no pacote e 860% nos valores individuais dos cromos, que não são vendidos separadamente.

Durante a Copa de 2018, um matemático da Universidade de Cardiff, no País de Gales, calculou que um fã precisaria comprar, em média, 4.832 figurinhas (cerca de 966 pacotes com cinco) para completar a coleção. Com isso, no Brasil de 2022 o custo para "bater" o álbum seria de R$ 3.865, mais de três vezes o salário mínimo vigente (R$ 1.212).

Fisgados pela nostalgia

Entretanto, alguns fãs não se abalaram com [a alta dos] valores. Como foi o caso do jornalista Rafael Peixoto, de 30 anos. Ele coleciona desde criança, porém foi só no ano de 2010, quando já era adulto, que começou a completar o álbum, coisa que não havia feito antes, porque não tinha renda própria.

"Batia uma seleção ou outra ali que gostava, trocando com os amigos do colégio. Mas completar mesmo o primeiro foi em 2010, depois 2014, 2018 e agora o de 2022 já estou quase fechando. O interesse surgiu na infância, porque é uma febre, tradição. Meu pai já colecionava, meu avô também, como gosto muito de futebol, foi o caminho natural. Até gostaria de colecionar o de outros campeonatos, mas nada é tão atrativo quanto o da Copa do Mundo".

O "clima de Copa" também contagia os jovens, uma vez que nem só de entusiastas mais antigos vive a tradição. Uma das mais recentes foi a estudante Maria Cecília Soares, de 16 anos. A jovem entrou na empolgação do Qatar há cerca de uma semana, ressaltando o sentimento que o evento traz.

"A Copa é um período que traz todo mundo junto, independente das adversidades, e segura um lugar muito especial pra mim, como uma época familiar. Além de tudo isso, a nostalgia de algo que faço desde criança", afirmou Maria.

Economias e continuidade

Com os preços em ascensão, alguns compradores podem repensar o investimento, seja agora ou futuramente. Maria acredita que a continuidade da coleção depende da situação futura em que se encontrar. "Nem imagino como vai chegar na de 2030, por exemplo. Mas o sentimentalismo com certeza vai me fazer amolecer e com certeza pensar muito sobre a compra".

Rafael também pretende seguir comprando nas próximas edições, justamente com a ideia de dar prosseguimento à coleção, porém, não independente do valor. "O de hoje já é alto, mas ainda consigo comprar. Se chegar a ficar muito absurdo, não vou ter como continuar".

O jornalista ainda contou que sempre dá um jeito de contornar a adversidade dos valores. Como desta vez, em que está investindo em ir a encontros de troca de figurinhas, que acontecem em diversos pontos de Maceió, e na compra de "pacotões" de cromos.

"Mesmo com o preço aumentando, por incrível que pareça, estou gastando menos com esse, porque mal trocava antes. Neste ano, só em uma ida a um encontro de troca de figurinhas repetidas, consegui mais de cinquenta das que precisava. Tinham alguns meninos que conseguiram 200 e bateram o álbum lá mesmo".

A outra alternativa dele é comprar o envelope fechado assim que chega às bancas de revista, cada um contém 50 pacotes com cinco. "Facilitou muito a minha vida, porque vieram menos iguais do que viriam se comprasse um por um".