Cultura

Escritora do livro mais lido entre jovens fala sobre experiência na literatura

Clara Alves é autora do livro “Conectadas”, romance LGBTQIAPN+ que caiu no gosto dos leitores

Por Felipe Ferreira 22/07/2023 08h08
Escritora do livro mais lido entre jovens fala sobre experiência na literatura
O livro “Conectadas” de Clara Alves tem ganhado destaque nas livrarias de Maceió - Foto: Divulgação

O livro “Conectadas”, da escritora Clara Alves, tem recebido destaque nas livrarias da capital alagoana. O romance LGBTQIAPN+ é o mais lido entre os leitores infantojuvenis. O portal 7Segundos conversou com Clara Alves sobre o sucesso de seu trabalho.

Conectadas” viralizou em redes sociais como TikTok e Instagram com perfis voltados para conteúdo literário e se tornou uma influência para o público LGBTQIAPN+. Na sua adolescência você teve influências literárias que te trouxeram para esse caminho da escrita?

Eu sempre fui apaixonada por literatura, desde criancinha. E isso foi fundamental para me incentivar a escrever. Eu queria fazer o mesmo que meus autores favoritos estavam fazendo: criando novos universos, usando as palavras como forma de pensar o nosso próprio mundo, a nossa própria vida. A escrita caminhou junto com meu amadurecimento como leitora voraz. Na adolescência, fui apaixonada por todos os livros da Meg Cabot e da Thalita Rebouças, que inspiraram e muito na minha escrita, na série Eragon, do Christopher Paolini, e Orgulho e preconceito, da Jane Austen. Acho que posso apontar esses como representantes do meu estilo de leitura: romances de todos os tipos e fantasia.

Uma reclamação de adultos LGBTQIAPN+ com mais de 30 anos é que durante a adolescência e juventude não tinham esse tipo de referência literária. Como você observa essa referência que se tornou para as novas gerações?


Você apontou os adultos de mais de 30, mas eu ainda ouço muitos leitores meus com menos de 25 anos dizendo que não tiveram referências LGBTQIAP+ na adolescência. Em 2019, quando Conectadas foi lançado, o catálogo das grandes editoras tradicionais ainda era ínfimo — e mesmo hoje, em comparação às histórias com protagonismo hétero, ainda estamos caminhando para uma equiparação. Pra mim é uma honra ter me tornado essa referência. Poder escrever as histórias que eu nunca pude ler na adolescência me traz um certo alívio: porque eu sei que, junto a tantos autores incríveis, estou fazendo o possível para que as futuras gerações não precisem mais experimentar as faltas e ausências que marcaram a minha juventude.

Quais são os tipos de retorno que você tem dos seus leitores? Tem alguma história que você pode compartilhar?

Os retornos que recebo em geral são de autoaceitação. São de leitores que se sentiram acolhidos pelas minhas histórias, que se identificaram com as personagens — não apenas pela sexualidade, mas por cor, corpo, vivências. Eles me agradecem por terem se visto pela primeira vez num livro. Por terem identificado os próprios medos e angústias. Eles me contam sobre como os livros os salvaram, lhes deram coragem para se assumir, os ajudaram com os crushes, hahaha. É lindo demais. Acho que cada história tem sua importância e me marcou de um jeito diferente.

Alagoas é um dos estados que mais se mata LGBTQIAPN+ no país, por outro lado, o seu livro é destaque nas livrarias da capital. Que recado você daria aos seus leitores daqui que passam por desafios diariamente na luta contra a lgbtfobia?


Acho que a coisa mais importante que eu posso dizer, e que sempre digo é: tenha sempre orgulho de quem você é. Mesmo quando te dizem para não ter. Mesmo quando te fazem acreditar que você é errado. Mesmo quando você tem medo. Ser uma pessoa LGBTQIAP+ nesse mundo não é fácil e cada um sabe onde o próprio calo aperta. Tome seu tempo para se assumir, para enfrentar, se resguarde se necessário. Nunca esqueça que o nosso primeiro e maior objetivo é viver em segurança. Mas que também precisamos — e merecemos — ser livres. E que é por essa liberdade que a gente luta todos os dias, por mais difícil que seja.

Clara Alves é jornalista, formada pela UERJ, e trabalha como assistente editorial. Clara venceu o prêmio Wattys 2016 na categoria novas vozes com o livro “Como reconquistar um amor perdido”.