José Ventura

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José Ventura

Duas Pessoas e Uma Saudade

24/01/2014 08h08

O que alimenta a saudade é o tempo. É o tempo que registra a alegria que também chamamos de felicidade. Esse abstrato, de quem a semântica não soube ainda dar uma definição precisa, reside no homem, pois somente o ser humano é dotado de saudade. Nossos olhos não viram mais a exibição daqueles cabelos brancos que desafiavam a plumagem das garças e ostentavam a brancura da paz.

É o nosso amigo Severino Barbosa, o RIVA, de quem o tempo, que carrega sua ausência entre nós, aguça nossa saudade e machuca nossos olhos. Entre pessoas, amizades há que se esvoaçam na imensidão do tempo e se perdem na escuridão do indefinido. Amizades também existem que tem fincas em colunas da singeleza leal, atraindo o universo de outras amizades crescentes.

Este era o ideal do Riva que conheci desde os tempos em que dividíamos a banca do Instituto São Luiz, onde aprendemos letras e números sob a vigilância da temível “Lurdinha”, a palmatória que nos obrigava aprender a aula. Seu humor transmitia bom humor a quem dele se aproximava. Era por essência um homem alegre entre os amigos. Privar da amizade do Riva foi para mim um enlevo na soma dos amigos, que alegres festejam a vida como a sanfona festeja o forró.

O forró andarilho que tomou sua popularidade nas praças, no trabalho, entre pobres e ricos, em meios a iletrados e a intelectuais, entre autoridades e plebeus, sempre a escutarem a voz e a saudação do José Clemente, o Zé Forró, em uma marca presente de natureza constante. Zé Forró deixou registrado o maior dos maiores valores da humanidade. calcado na unidade familiar quer de esposa e filhos, quer de irmãos, quer de tios, de primos ou sobrinhos.

O sangue que alimenta o coração de qualquer um de sua família circulava em suas veias, a doar-se com prontidão imediata e sem senões; ativado pela virtude chamada AMOR. No grau de primo do Zé Clemente, sentia-me guardado e protegido pela égide de sua alma transbordante de atenção e comunhão de família.

Zé Forró chorou a morte do amigo Riva, sem saber que, no mesmo dia, a dor e o espanto dos seus familiares e amigos iam velejar nas lágrimas derramados por sua ida também para eternidade. Duas pessoas e uma saudade. Saudade da exuberante alegria mostrada nos rostos do Riva e do Zé Clemente quando o ASA é vencedor. Saudade que machuca pela certeza do desencontro, quando um dueto fez um rumoroso bater de asas, rompeu o azul celestial para o encontro com o Pai.