"Minha inspiração é a natureza", afirma artista plástico Edimario Calixto

Arapiraquense de coração, ele aprendeu a pintar praticamente sozinho

Por Patrícia Bastos/ 7Segundos |

"Vejo tudo em minha mente antes de começar a pintar", explica o artista plástico Edimario Calixto, 46, arapiraquense de coração. 

As pinceladas retratam principalmente elementos da natureza: paisagens bucólicas imaginadas ou ainda combinadas a elementos reais da arquitetura e motivos religiosos, no estilo figurativo realista retratados em tela e até em murais, que o pintor aprendeu praticamente de forma autodidata.

As únicas "aulas" de pintura que teve foi com um homem que pintava lameiros de caminhão - capa geralmente de borracha que recobre os pneus traseiros de caminhões, que geralmente são decorados com pinturas e frases. Mas o estudo durou apenas uma semana, talvez por temer o talento do jovem Edimário.

Depois do lameirão, comecei a pintar em pedaços de tábuas de madeira e usando tinta guache, porque não tinha condições de comprar telas e tintas melhores. Meu estilo mudou e passou a ser realista

Nascido na zona rural de Igaci, veio morar com a família em Arapiraca em 1983, quando tinha 6 anos de idade. Por conta disso, se considera arapiraquense de coração.

A paixão pela arte começou com o interesse nos desenhos animados que assistia pela TV na infância, que depois ele tentava reproduzir em detalhes. O interesse pelo desenho era compartilhado com o amigo Edilson Vieira Lima, e era tão grande que Edimario Calixto chegou a ser reprovado na escola porque passava as aulas desenhando. Junto com o talento, havia também a dedicação. A busca por aprimorar os traços no papel fez com que ele abandonasse as cópias dos super-heróis e passasse a criar seus próprios desenhos.

O breve período em que passou em uma oficina de lameirão, quando ele tinha 12 anos, surgiu do interesse do menino pela arte e também pela necessidade de arrumar um trabalho. Devido às dificuldades financeiras, as primeiras telas de Edimario Calixto foram pedaços de tábuas de madeira e usava tinta guache, que era mais acessível na época.

Os primeiros trabalhos em madeira ainda traziam um pouco do estilo naïf do lameirão, e, após três telas, se consolidou como figurativo realista. "A partir de então, passei a aprender com a natureza. Luz, sombra, profundidade, tudo isso estudei usando elementos naturais. A minha escola foi a natureza", declarou.

Pintura de móveis sustenta paixão pelas telas

  • Apesar de pouco conhecido pelo grande público, Edimario Calixto já teve o talento reconhecido em algumas exposições e no catálogo comemorativo do Centenário de Arapiraca. Atualmente, ele está trabalhando em uma série para uma nova exposição, que está em fase de planejamento.

    Além disso, ele também pinta telas sob encomenda, mantendo sempre o estilo próprio e a originalidade.

    "As pessoas dizem como querem a tela e eu vou criando tudo na minha cabeça. Já me pediram para fazer cópias de outras obras e eu me recuso, assim como também não copio meus próprios quadros. Cada um deles é único, porque senão deixam de ser arte a passam a ser artesanato. Procuro me manter fiel ao meu estilo e à originalidade", afirma.

  • Apesar do dom, o artista precisa ter uma outra fonte de renda para se manter, e, por conta disso, ele trabalha como pintor de móveis de madeira, repaginando e melhorando a aparência de peças de mobiliário.

    Paralelo a isso, ele também já chegou a dar aulas de artes, mas nem sempre é possível encontrar alunos dedicados.

    "Tem muita gente que domina uma arte, seja pintura, seja música, mas não gosta de ensinar os outros. Acho que essas pessoas têm medo de serem superadas. Mas eu vejo diferente, acho que quanto mais pessoas se interessarem por arte melhor. Tem muita gente que tem vontade de aprender a pintar, por exemplo, mas acabam desistindo porque não é tão fácil quanto parece.

Aprendeu violão com notas riscadas em uma tábua


Assim como aprendeu praticamente sozinho a pintar, Edimario Calixto precisou de poucas aulas para aprender a tocar violão, outra arte que domina com maestria. Os primeiros acordes, ele aprendeu em uma tábua, com riscos no lugar das cordas.

"Eu tinha 13 anos e queria impressionar as meninas", conta, rindo. Ele relata que na localidade que ele morava na época, conhecida como Vila do Padre - hoje bairro Baixa Grande - era comum as pessoas se reunirem na frente das casas ao redor de alguém tocando violão.

Mesmo sem ter instrumento, ele pediu ao jovem tocador, Altamir Dias, para que o ensinasse. Como forma de desafio, o jovem mostrou a ele as notas principais e disse que, se ele aprendesse até a semana seguinte, ensinaria um pouco mais.

Para praticar, Edimario pegou uma tábua de madeira, riscou as cordas e impressionou o jovem, que ensinou alguns outros acordes.

"Quando comecei a trabalhar, comprei um violão e foi quando aprendi de verdade. Praticava sozinho, assistia vídeos de violonistas clássicos e tentava reproduzir. Hoje eu faço aulas com Juscelino, conhecido como Cica, que é um mestre na arte do violão. Pretendo também aprender mais sobre teoria musical", disse.

Edimario Calixto pode ser encontrado no @edimario_calixto no Instagram.