Do comércio à prosperidade: a evolução econômica de Arapiraca através de sua Feira Livre

Por Erick Balbino/7Segundos |

Arapiraca, conhecida como a Capital do Agreste alagoano, se prepara para celebrar 100 anos de emancipação política em 30 de outubro. Entre os elementos que marcaram a trajetória de desenvolvimento da cidade, destaca-se a Feira Livre, que, por décadas, foi o coração pulsante da economia local e regional.

Desde a sua origem, Arapiraca se destacou como um centro de comércio, atraindo comerciantes e consumidores de várias partes do Nordeste. A feira, que começou em meados do século XIX, ainda quando Arapiraca era apenas um povoado pertencente a Limoeiro de Anadia, foi um dos principais motores para o crescimento da cidade. Em 1920, antes mesmo da emancipação, a feira já superava a de Limoeiro em termos de renda, sendo um dos fatores que impulsionaram o movimento pela independência de Arapiraca.

Além de ser um lugar de comércio, Arapiraca também ganhava espaço pela intensa atividade cultural. Violeiros, repentistas e artistas de várias partes se reuniam nas segundas-feiras para apresentar suas artes. Hermeto Pascoal, renomado músico alagoano, destacou-se entre os artistas que encontraram inspiração nesse ambiente. Ele descreveu a feira como um lugar onde "se fazia música universal", destacando a importância cultural desse espaço.


IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL

Nos anos 1970, a feira de Arapiraca chegou a ocupar mais de 50 ruas do centro da cidade, atraindo milhares de pessoas de todo o estado de Alagoas, bem como de estados vizinhos. O volume de negócios era tão significativo que a cidade passou a rivalizar com Caruaru, em Pernambuco, pelo título de maior feira do Nordeste. Em sua época áurea, o evento semanal movimentava até 10 mil pessoas, entre vendedores e compradores.

A feira era um verdadeiro motor econômico para a cidade, gerando renda para milhares de famílias. Um exemplo disso é a história de Maria Fernandes, uma ex-feirante que, ao lado de sua família, conseguiu criar nove filhos com o trabalho árduo na venda de hortifrútis. Relatos como o de Donizete Ferreira de Araújo, que mantém até hoje o negócio herdado de sua mãe, uma tradicional comerciante da feira, ilustram o impacto duradouro desse espaço na vida dos arapiraquenses.

TRANSFORMAÇÕES E O LEGADO DA FEIRA

  • Com o passar dos anos, a feira sofreu diversas transformações. Na década de 1990, durante a gestão da então prefeita Célia Rocha, a feira foi descentralizada e transferida do centro da cidade para o bairro Baixão. A mudança foi feita para melhorar a acessibilidade e a imagem urbana, mas acabou por reduzir significativamente o número de comerciantes e a movimentação econômica gerada pelo evento.

  • Apesar dessas mudanças, a feira continua sendo parte importante da identidade de Arapiraca. O remanejamento não eliminou o comércio informal, que ainda persiste em várias partes da cidade. Hoje, a feira é lembrada com saudosismo e orgulho pelos arapiraquenses, que reconhecem seu papel crucial no desenvolvimento da cidade. De forma descentralizada e espalhada pelos quatro cantos da Capital do Agreste, a feira livre segue viva.

PERSONALIDADES E O OLHAR DA IMPRENSA NACIONAL

A importância da feira de Arapiraca também foi reconhecida nacionalmente. O jornalista Tobias Granja, por exemplo, produziu uma extensa reportagem nos anos 1970 para a revista "O Cruzeiro", destacando a feira como o epicentro comercial e cultural de Arapiraca. Nos anos 1980, a feira voltou a ser destaque na imprensa do Sul do país, com reportagens que exaltavam a rica vida cultural e o movimento econômico gerado pelo evento.

Hoje, ao celebrar seu centenário, Arapiraca olha para o futuro com a consciência de que seu crescimento e prosperidade estão profundamente enraizados na história da Feira Livre. Ela não foi apenas um ponto de comércio, mas um símbolo de resistência e inovação, capaz de transformar um pequeno povoado em uma das cidades mais prósperas de Alagoas.

Esta matéria faz parte de uma série especial em comemoração aos 100 anos de emancipação política de Arapiraca. Ao longo das próximas edições, continuaremos a explorar os elementos que moldaram a história e a identidade desta cidade que, sem dúvida, é um marco no desenvolvimento do Agreste alagoano.