No dia 30 de outubro de 2024, Arapiraca, a Capital do Agreste, celebra seu centenário, relembrando sua trajetória rica em cultura e tradições. Ao longo dos últimos 100 anos, a cidade foi palco de festas que moldaram a identidade de seus habitantes e se tornaram marcos históricos e culturais, passando de geração em geração.
Uma das mais emblemáticas tradições de Arapiraca é o Reisado, que teve seu auge nas décadas de 1930 e 1940. Liderado por figuras como Mestre Tota, o reisado reunia a comunidade para apresentações vibrantes e cheias de simbolismo. Hoje, mesmo que menos frequente, ainda é lembrado e praticado em algumas ocasiões, mantendo viva a tradição.
Outro evento que deixou sua marca foi a Cavalhada, introduzida por Domingos Mota, que transformou a Avenida Rio Branco em um campo de batalha simbólico, onde cavaleiros encenavam lutas entre mouros e cristãos. Esta festa, muito popular nas décadas de 1930 e 1940, envolvia toda a comunidade e era aguardada ansiosamente todos os anos.
Nas feiras livres da cidade, era comum encontrar emboladores de coco, como Né da Tumba e João Rosa, que animavam o público com versos improvisados e ritmos marcantes. Essas feiras não eram apenas um espaço para o comércio, mas também um ponto de encontro cultural, onde a música e a poesia popular tinham papel central.
Na década de 1960, as Cantigas das Destaladeiras de Fumo se destacavam na zona rural de Arapiraca. Essas canções eram entoadas pelas mulheres que trabalhavam na produção de fumo, criando uma trilha sonora única para o trabalho árduo no campo. Embora hoje essas cantigas sejam raras, ainda ecoam em alguns cantos da cidade durante os meses de colheita.
As vaquejadas, ainda populares em Arapiraca, também desempenham um papel significativo na cultura local. Lideradas por figuras como Chico do Leite, essas competições não só celebram a habilidade dos vaqueiros, mas também fortalecem os laços comunitários, sendo eventos que reúnem famílias inteiras em torno da tradição sertaneja.
O São João de Arapiraca é outra festividade que, ao longo dos anos, se consolidou como uma das mais importantes do calendário cultural da cidade. Com grandes arraiais, quadrilhas e shows, a festa junina se transformou em um símbolo da identidade arapiraquense, atraindo visitantes de toda a região.
Além do São João, as festas de **Carnaval em Arapiraca** têm uma história rica, sendo um dos períodos mais vibrantes da cidade. Nos anos 1950 e 1960, o Carnaval arapiraquense se destacou com o surgimento de blocos como o “Cangaceiros” e o “Cachorro Doido”, que animavam as ruas da cidade com desfiles e fantasias. Com o tempo, o Carnaval de rua perdeu força, mas foi revitalizado na década de 1990 com a criação de blocos como o “Pecinhas de Mola” e o resgate das festas de clubes, que continuam a atrair foliões locais e de cidades vizinha.
Ainda que algumas tradições tenham sido esquecidas, muitas delas continuam vivas graças aos esforços de comunidades e famílias que se dedicam a preservar esse patrimônio. O Coco de Nelson Rosa, por exemplo, permanece ativo e continua a encantar o público em diversas localidades de Alagoas.
A era de ouro da folia: Micaraca e seu legado na cultura de Arapiraca
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Entre as festas que marcaram gerações em Arapiraca, a Micaraca se destaca como um dos eventos mais icônicos dos anos 1990 e início dos anos 2000. Esta micareta, uma versão fora de época do Carnaval, trouxe à cidade a vibração contagiante do axé music e transformou as ruas em um verdadeiro corredor da folia. A Micaraca não era apenas uma festa, mas sim uma celebração que incorporava a energia e o entusiasmo de toda uma geração.
Durante os dias da Micaraca, blocos carnavalescos como "Keké Isso" e "Vumbora" eram os protagonistas, levando multidões a seguir os trios elétricos e criar uma atmosfera de euforia coletiva. Este evento, que atraía tanto os moradores locais quanto visitantes de diversas regiões, se tornou um marco no calendário cultural de Arapiraca. A cidade pulsava ao som da música e ao ritmo dos foliões, consolidando a Micaraca como um dos eventos mais esperados do ano.
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Além de seu impacto cultural, a Micaraca teve um papel importante na economia de Arapiraca, especialmente no comércio e no setor de serviços. Hotéis, bares e restaurantes experimentavam um aumento significativo no movimento, impulsionados pela chegada de turistas e pela demanda crescente durante os dias de festa. A Micaraca, assim, se tornou não apenas um evento de diversão, mas também uma fonte de crescimento econômico para a cidade.
Apesar de não ser mais realizada com a mesma intensidade de seus tempos áureos, a Micaraca deixou um legado duradouro na memória coletiva dos arapiraquenses. O evento, que trouxe uma nova dinâmica à vida cultural e econômica da cidade, ainda é lembrado com carinho e saudade. Muitos recordam os dias de folia e a energia vibrante que tomava conta de Arapiraca, evidenciando o impacto profundo que a Micaraca teve na história local.
O centenário de Arapiraca não é apenas uma celebração de seus 100 anos de existência, mas também uma homenagem às gerações que contribuíram para moldar a cidade como ela é hoje. As festas e tradições que marcaram a história de Arapiraca são mais do que simples eventos; são a alma da cidade, refletindo a riqueza cultural e o espírito acolhedor de seu povo.
A memória dessas festas vive não só nas lembranças dos mais velhos, mas também nas páginas dos livros e nas obras de arte que preservam a história de Arapiraca, como é o caso das exposições na Casa da Cultura, que resgatam as memórias desses eventos que moldaram gerações e continuam a influenciar a vida dos arapiraquenses.
Esta matéria faz parte de uma série especial em comemoração aos 100 anos de emancipação política de Arapiraca. Ao longo das próximas edições, continuaremos a explorar os elementos que moldaram a história e a identidade desta cidade que, sem dúvida, é um marco no desenvolvimento do Agreste alagoano.