A história de Gabriel e Bernardo, gêmeos que passaram nove meses juntos no ventre da mãe, mas levaram dois anos para se reencontrar, emocionou o Brasil e gerou discussões profundas sobre laços afetivos e biológicos.
A troca dos dois bebês, junto com Guilherme, outro recém-nascido envolvido no caso, ocorreu na maternidade do Hospital Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca, e foi revelada após um golpe do destino. Agora, duas famílias do Agreste alagoano estão no centro de um processo judicial que decidirá o futuro das crianças.
O caso, abordado pelo programa Fantástico da TV Globo no último domingo (15), chamou a atenção nacional pela complexidade jurídica e também pelo impacto emocional na vida das famílias envolvidas. Entre encontros emocionantes, batalhas judiciais e um misto de alegria e apreensão, a história lançou luz sobre os desafios e dilemas de erros em maternidades e a importância dos laços criados no ambiente familiar.
A troca dos bebês aconteceu em fevereiro de 2022, quando Débora Maria, de 24 anos, deu à luz gêmeos no Hospital Nossa Senhora do Bom Conselho. Três dias depois, Maria Aparecida, de 28 anos, também teve um filho na mesma unidade de saúde. Por complicações de saúde, os três recém-nascidos foram encaminhados à UTI Neonatal, e foi nesse momento que o erro provavelmente ocorreu.
Dois anos se passaram sem que as famílias desconfiassem da troca, até que Débora, moradora de São Sebastião, recebeu a informação de que havia uma criança em uma creche de Craíbas que era idêntica a um dos meninos que ela criava. A descoberta ocorreu de maneira curiosa: uma mulher que frequentava a mesma creche viu a semelhança e decidiu contar à jovem mãe.
Com a pulga atrás da orelha, Débora começou a pesquisar fotos nas redes sociais e ficou ainda mais intrigada com a semelhança. Em busca de respostas, ela realizou um exame de DNA que revelou o impensável: os dois meninos que ela chamava de filhos não eram irmãos biológicos, e um deles nem mesmo era seu filho.
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Enquanto isso, em Craíbas, a outra família envolvida vivia sua rotina sem desconfiar de nada. Maria Aparecida, mãe de seis filhos, incluindo Bernardo, o mais novo, foi pega de surpresa ao ser chamada pelo Conselho Tutelar e informada sobre a possibilidade de que seu filho também estivesse envolvido na troca. Inicialmente relutante, Aparecida concordou em fazer os exames de DNA, mas com uma condição: testar todas as crianças para esclarecer de vez a situação.
Os resultados confirmaram o erro: Bernardo, o menino que Aparecida criava como filho, era, na verdade, o gêmeo de Gabriel, e Guilherme, o bebê trocado na maternidade, era o filho biológico dela.
A revelação trouxe alegria, mas também muita dor. Débora se sentiu aliviada por reencontrar o filho biológico, mas apreensiva com o futuro. Aparecida, por outro lado, se viu dividida entre o desejo de criar o filho biológico e o medo de perder Bernardo, com quem já havia desenvolvido um forte vínculo emocional.
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Os primeiros encontros entre as crianças foram marcados por emoções intensas. Aparecida lembra do impacto ao ver Bernardo e Gabriel lado a lado pela primeira vez. “Eles se olharam como se já se conhecessem. Acho que pensaram ‘ele se parece comigo’”, conta.
Os vínculos entre Bernardo e os irmãos com quem cresceu também pesam no caso. “Ele é muito apegado à Maria Clara, minha filha mais velha. Quando ela sai pra escola, ele chora”, relata Aparecida. A ideia de separação é um dos maiores temores da família. “Meu medo é dela conseguir ficar com os três”, desabafa.
Débora, por sua vez, prefere o silêncio. A equipe de reportagem encontrou a jovem na quarta-feira (11), na zona rural de São Sebastião, onde vive com o esposo e trabalha na agricultura. Apesar da dificuldade de falar sobre o caso, ela afirmou que a descoberta foi guiada por sua fé: “Foi Deus que mostrou”.
A BATALHA JUDICIAL
Com as tentativas de conciliação mediadas pela Defensoria Pública fracassadas, as famílias recorreram à Justiça para definir com quem as crianças irão ficar. A promotora de Justiça Viviane Karla revelou que o processo está em sua fase final na primeira instância, mas ainda cabem recursos.
Débora e seu esposo manifestaram interesse em ficar com os três meninos, argumentando que os gêmeos Gabriel e Bernardo não deveriam ser separados novamente. Já Aparecida expressou o desejo de manter Bernardo e criar também Guilherme, o filho biológico que agora conheceu.
Enquanto a decisão judicial não sai, as famílias têm permitido que as crianças convivam por meio de visitas supervisionadas. Para especialistas, independentemente do desfecho jurídico, o convívio entre as duas famílias será essencial para preservar o bem-estar emocional das crianças.
A exibição no Fantástico deu visibilidade nacional ao caso, emocionando o público com os relatos das famílias e as imagens dos encontros entre as crianças. Entre sorrisos e abraços tímidos, Gabriel, Bernardo e Guilherme começam a construir uma nova relação, marcada tanto pela confusão inicial quanto pelo afeto que une os três.