Caso Roberta Dias: 13 anos de uma luta incansável por justiça

Por 7Segundos |

O desaparecimento e assassinato de Roberta Dias em 2012 chocaram a população de Penedo, em Alagoas, e continuam marcados pela lentidão do sistema judicial. Mais de uma década depois, o caso segue sem um desfecho no Tribunal do Júri, prolongando o sofrimento da família e levantando questionamentos sobre a eficiência na apuração de crimes de violência contra mulheres no Brasil.

Roberta tinha 18 anos e estava grávida de três meses quando desapareceu no dia 11 de abril de 2012. A gravidez era fruto do relacionamento com Saullo de Thasso Araújo Santos, então com 17 anos. Segundo a denúncia, tanto Saullo quanto sua mãe, Mary Jane Araújo Santos, repudiavam a gestação e planejaram o crime. A jovem foi atraída pelo ex-namorado, que a convidou para uma conversa, e nunca mais foi vista com vida.

No dia do desaparecimento, Roberta havia retornado de uma consulta pré-natal e se encontrado com Saullo na Praça Santa Luzia, no bairro Senhor do Bonfim. De lá, foi levada para um local ermo em um carro, onde Karlo Bruno Pereira Tavares, um dos envolvidos no crime, estava escondido no porta-malas, carregando uma enxada e uma pá. Roberta foi asfixiada com um fio de extensão de som automotivo e teve seu corpo enterrado na região do Pontal do Peba, em Piaçabuçu.

As investigações iniciais classificaram o caso como desaparecimento, e o paradeiro da jovem permaneceu um mistério por nove anos. Em 2021, um crânio humano foi encontrado por populares na região do Pontal do Peba, levantando a esperança de que o caso pudesse finalmente ter um desfecho. A mãe de Roberta, Mônica Reis, identificou a ossada como sendo da filha após encontrar no local um sutiã que havia emprestado a Roberta no dia do desaparecimento.

Em julho do mesmo ano, a Perícia Oficial confirmou que a ossada pertencia a Roberta Dias. Além do crânio, a família encontrou outros ossos e objetos pessoais da vítima durante buscas realizadas com uma retroescavadeira. O sepultamento de Roberta só foi possível em novembro de 2021, marcando o fim de uma longa luta pela recuperação de seus restos mortais.

Apesar das provas robustas, como um áudio gravado em que Karlo Bruno confessa detalhes do homicídio, o processo judicial enfrentou diversos atrasos. Mary Jane Araújo chegou a ser presa, mas foi liberada após 61 dias. Karlo Bruno, por sua vez, nunca foi detido. Ambos foram pronunciados pela 4ª Vara Criminal de Penedo e devem ser julgados por homicídio qualificado, aborto sem consentimento da gestante, ocultação de cadáver e corrupção de menor.

Saullo, por ser menor de idade na época do crime, respondeu ao processo perante a Justiça da Infância e Juventude. Seu envolvimento reforça as denúncias contra sua mãe, apontada como a mandante do crime que visava, além da morte de Roberta, interromper a gestação.

Em um dos trechos do áudio que foi periciado pela Polícia Federal, Karlo Bruno detalha como o crime foi executado. “Matei por uma bosta, por uma besteira”, desabafa ele em uma conversa telefônica com um amigo. A gravação, com duração de 43 minutos, foi entregue à Polícia Civil em 2017, mas a morosidade no processo impediu que o caso avançasse rapidamente para o julgamento.

  • O Tribunal de Justiça de Alagoas tem rejeitado sistematicamente os recursos da defesa dos réus, que buscam anular a decisão de levá-los a júri popular. Entretanto, mesmo após essas decisões, a data para o julgamento ainda não foi definida, aumentando o sentimento de impunidade e angústia entre os familiares.

  • Mônica Reis, que se tornou um símbolo de resistência e luta por justiça, afirma que a demora no julgamento é uma segunda violência contra sua família. “Nós queremos que os culpados sejam punidos, mas a cada ano que passa, o descaso nos machuca ainda mais. Minha filha e meu neto foram brutalmente tirados de mim, e tudo o que pedimos é que a justiça seja feita”, desabafou.

O caso Roberta Dias é um retrato doloroso da violência contra a mulher no Brasil e da vulnerabilidade das vítimas diante de um sistema judicial lento e ineficaz. A cada adiamento, a família enfrenta não apenas a dor da perda, mas também a frustração de ver os acusados ainda sem uma sentença definitiva.

Em 2025, o caso completa 13 anos sem julgamento. A morosidade judicial é uma constante nos casos de feminicídio, e a história de Roberta Dias expõe a necessidade urgente de reformas que garantam mais celeridade e eficiência na apuração de crimes de violência de gênero.

Enquanto isso, a memória de Roberta e de seu filho segue viva através da luta incansável de sua mãe, que carrega nos ombros a responsabilidade de buscar justiça não apenas por sua família, mas por todas as mulheres que foram silenciadas pela violência.