
Se você respira e tem acesso a um celular com acesso à internet, com certeza está acompanhando a febre do momento: Morango do Amor. Imagina só: morango fresco envolto em brigadeiro de Ninho e coberto com uma fina casquinha de caramelo vermelho. A modinha se espalhou por todo o país graças ao TikTok, Instagram e outras redes sociais, abrilhantando vitrines de confeitarias, chegando a provocar filas, venda esgotando quase diariamente e preços que variam entre R$10 e até R$50 por unidade.
Mas será que essa explosão de popularidade justifica investimentos vultosos por parte de microempreendedores? O risco de embarcar em uma trend passageira, sem planejamento financeiro e visão de perenidade, pode resultar em fraturas estruturais após o pico de demanda. Investir muito em estoque, divulgação ou equipamentos antes da consolidação da tendência pode gerar perdas severas caso o interesse do consumidor se esgote tão rapidamente quanto surgiu.

ESPECIALISTAS ACONSELHAM CAUTELA E PLANEJAMENTO
Segundo Vânia Brito, analista de Relacionamento Empresarial do Sebrae Alagoas, o Morango do Amor é um exemplo clássico de moda viral, que tende a atingir um auge intenso e depois entrar rapidamente em declínio.
“O Morango do Amor tem tudo para ser uma tendência marcante de curto prazo, impactando confeitarias e gerando visibilidade nas redes sociais durante julho de 2025. No entanto, como toda moda viral, o seu apogeu deve ser limitado, podendo se estender por algumas semanas, com possibilidade de se tornar um item sazonal ou fixo em cardápios criativos", explicou a profissional.
Ainda de acordo com Vânia, produtos inovadores, quando lançados no mercado, passam por um ciclo de vida característico, enfrentando riscos, oportunidades e reações variadas do público. O sucesso, ou fracasso, depende de muitos fatores, como timing, adoção do consumidor, marketing e capacidade de escalar.

Vânia Brito, analista de Relacionametno Empresarial do Sebare Alagoas
"No caso do Morango do Amor, a fase de incerteza e resistência inicial ocorreu assim: parecia exagerado para alguns até viralizar. Já na fase de adoção acelerada, ele gerou desejo imediato devido à estética, status ou sabor e explodiu em popularidade. Podemos dizer que esse produto está na fase de crescimento e saturação, ou seja, o mercado de massa começou a consumir, surgiram vários concorrentes oferecendo o produto e se inicia uma saturação do mesmo, o que leva à perda do fator ‘novidade’, o produto deixa de ser diferencial e vira mais do mesmo", continuou.
A especialista do Sebrae esclarece que as marcas e confeitarias que estão adotando agora ainda podem ter ganhos, mas o timing é apertado. A tendência mostra o padrão clássico de produto viral: rápido ciclo de adoção, pico de demanda intenso e provável queda igualmente rápida.

LIÇÕES DO PASSADO
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Uma empresária arapiraquense, que antes da pandemia investiu todos os recursos em uma loja especializada em máscaras, álcool 70, oxímetros e termômetros, vivenciou uma trajetória que hoje vê com arrepios. No início, vendas dispararam: produtos vendidos em menos de 24 horas e faturamento altíssimo. Mas os órgãos de defesa do consumidor e o Ministério Público passaram a investigar cobranças abusivas, o que gerou denúncias formais.
Após poucos meses, o mercado saturou, o estoque parou, e ela teve que encerrar o negócio, pagar multas contratuais do aluguel e enfrentar ações judiciais.
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Apesar de admitir que escalonou sem ética, cobrando preços exorbitantes, ela afirma: “Me arrependo profundamente de ter me aproveitado de um momento tão difícil. Mas aquela alta repentina serviu como lição sobre os riscos de investir as economias de uma vida em momentos de crise, sem planejamento ou com pensamento no futuro. Perdi muito mais do que ganhei, mas aprendi com o erro”.
IMPACTOS POSITIVOS NA CADEIA PRODUTIVA
Mesmo tendências efêmeras como o Morango do Amor podem gerar efeitos positivos quando exploradas com cautela. Confeitarias que incorporaram o doce ao portfólio reportaram aumento na demanda de insumos como morangos frescos, leite em pó, chocolate branco e corante alimentício vermelho.
Produtores rurais e distribuidores locais também sentiram o reflexo, com alta nas vendas de frutas e derivados, além de movimentar negócios de embalagens e palitos temáticos. Segundo reportagens nacionais, algumas docerias registraram esgotamento de produtos quase todos os dias, o que tem impulsionado o comércio de matéria-prima.
COMO APROVEITAR O BOOM SEM ARRISCAR TUDO
Para microempreendedores, o ideal é aproveitar o buzz do momento mantendo o pé no chão. Lançar o Morango do Amor como um item sazonal ou promocional, sem cancelar outras linhas regulares, permite testar a aceitação sem comprometer recursos.
Operar com estoque restrito, ajustar produção com base na demanda real e reservar parte do lucro para reinvestimentos em inovação gradual são estratégias recomendadas por especialistas na área. O objetivo é extrair receitas adicionais em vez de apostar a sobrevivência do negócio em uma única moda.