Politicando
Em nota pública, Ronaldo Medeiros acusa Paulão de agir de forma ‘autoritária e centralizadora’ no PT de Alagoas
Deputado estadual diz ainda que Paulão não consulta as instâncias partidárias para tomar decisões
Em nota distribuída na noite desta quinta-feira (20), o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT) adicionou mais elementos de tensão na relação entre ele e o deputado federal Paulão (PT).
Se até este momento Medeiros agia de forma discreta, apenas estimulando o diálogo entre Paulão e o MDB em torno de uma candidatura única, no longo documento publicado nas redes o deputado literalmente eleva a temperatura do debate, acusando diretamente Paulão de agir em defesa de interesses próprios.
Medeiros e Paulão integram tendências internas diferentes dentro do PT, e há na contagem final uma leve vantagem de Paulão - o que, nas palavras de Medeiros, o faz agir de ofício, sem consultar as instâncias partidárias e nem mesmo os demais dirigentes de sua tendência.
Ronaldo revelou ainda o principal motivo que o fez deixar o PT, ainda em 2017: “a forma autoritária e centralizadora como o companheiro Paulão dirige o partido em Alagoas”, disse.
Ainda segundo o deputado estadual, Paulão resolveu ser candidato a senador em 2026 sem sequer discutir com as instâncias partidárias, tampouco ouviu os demais companheiros petistas ao declarar que o PT vai deixar os cargos no governo de Paulo Dantas (MDB).
Medeiros afirma que é por conta dessa atuação individualista de Paulão que o PT em Alagoas conta com apenas um prefeito, além de um punhado de vereadores.
As declarações bombásticas do deputado tem poder de desestabilizar mais ainda a já instável candidatura de Ricardo Barbosa à prefeitura de Maceió, e servem como combustível aos que defendem a aderência do PT à candidatura de Rafael Brito.
Veja a nota na íntegra:
NOTA – DEPUTADO ESTADUAL RONALDO MEDEIROS
Assisti à entrevista do companheiro Paulão ao portal Cada Minuto.
Primeiro porque o conheço há muitos anos, pois atuamos juntos no movimento sindical, na fundação da CUT em Alagoas, na fundação do PT em Palmeira dos Índios e por sempre ter votado e feito campanha em suas disputas para deputado federal.
Me estranha ser tratado como adversário do companheiro Paulão. Nossos adversários, são a extrema-direita, são aqueles que sugam as riquezas do povo para deixá-lo pobre, são aqueles que desejam um Brasil submisso perante potências estrangeiras, que entregam nossas riquezas ao grandes capitalistas internacionais, são aqueles que tentam nos transportar de volta à Idade Média com uma agenda pseudo moral no Congresso Nacional.
Quando saí do PT foi pelas mesmas razões que os companheiros Judson Cabral e o finado Izac Jacson: a forma autoritária e centralizadora como o companheiro Paulão dirige o partido em Alagoas.
Mesmo não sendo dirigente, é de seu gabinete que saem as decisões políticas adotadas pelo partido. Tudo bem que o parlamentar influencie os rumos do PT no estado, mas a tomada de decisão deve se dar nas instâncias coletivas.
A melhor prova do que afirmo é a antecipação de sua pré-candidatura ao Senado para 2026, sem ao menos consultar sua própria tendência interna. Toda e qualquer candidatura majoritária, essencialmente, requer construção coletiva e planejada para que toda uma engrenagem política passe a funcionar em torno dela.
O foco do companheiro deveria ser a pré-campanha de Ricardo Barbosa à Prefeitura de Maceió. Mas Paulão prefere atropelar mais uma vez o partido ao anunciar rompimento com o governador Paulo Dantas, caso o PT tenha que abrir mão da disputa em Maceió para manter seus espaços no governo. Em momento algum, esse tema foi pauta de discussão nas instâncias deliberativas do PT, tampouco o autorizou a tratar disso em entrevistas.
O clima que Paulão aparenta construir se assemelha ao açodamento de 2016, quando o companheiro rompeu com o governo Renan Filho pelas redes sociais. É evidente que em seguida o PT reafirmou a posição, e por unanimidade, para proteger Paulão, não lhe tirando autoridade política.
O PT voltou ao governo Renan Filho pouco tempo depois. Mas até quando o PT vai girar em torno de Paulão?
Quando eu saí do PT, eu nunca deixei de defendê-lo e as suas lideranças. Tanto que sempre continuei associado ao partido pelas pessoas e até por colegas parlamentares, defendendo e denunciando o golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e atuando com entusiasmo na campanha de Fernando Haddad à Presidência da República em 2018. Depois, regressei ao partido que ajudei a fundar em Alagoas e luto para fortalecê-lo politicamente.
Na Assembleia Legislativa, fui líder do governo Renan Filho, para minha surpresa, a convite dele, Renan Filho. E me orgulho disso. O governo Renan Filho mudou paradigmas na saúde em Alagoas, com a construção de vários hospitais e UPAS; na segurança pública com os CISPS; na construção de estradas e duplicações; na educação, com construção de escolas e programas como o Escola 10.
Também exerci a função de vice-presidente da Assembleia Legislativa e que mal há nisso? Nenhum.
Agora, mal há na constante desconstrução partidária para se manter no centro do PT de forma artificial e protocolar, se impondo pela quantidade de cadeiras nas direções e não pelo convencimento, pela construção de consensos e unidade interna.
E sem ao menos consultar o conjunto de sua tendência, decidindo tudo de seu gabinete, cercado de duas ou três pessoas no máximo.
O resultado disso tem sido um partido com baixa representação, ocupando somente uma prefeitura entre as 102 de Alagoas e um número pequeno de vereadores no estado.
Em relação à retirada de meu nome para a disputa à Prefeitura de Maceió, isso ocorreu por razões de construção política, das necessidades que uma disputa majoritária requer, entre elas a de real unidade interna num partido como o Partido dos Trabalhadores.
É chato expor problemas internos do PT. Roupa suja devemos lavar em casa. Ainda mais nesse momento, pois precisamos focar na sustentabilidade do governo Lula, aqui em Alagoas e nacionalmente, e criar crises internas e externas não deveria ser pauta do companheiro Paulão.
Neste ano, temos as eleições municipais e precisamos eleger o maior número de prefeitos e vereadores possível.
Precisamos de um PT forte, atuante e mais influente na política em Alagoas.
Sobre o blog
O objetivo do blog é analisar a conjuntura política na capital e no interior de Alagoas.