Alberto Sandes

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Lipedema: Muito Além da 'celulite'; entenda a condição

Questão tem suas próprias características, impactos e tratamento

15/10/2024 11h11 - Atualizado em 15/10/2024 11h11
Lipedema: Muito Além da 'celulite'; entenda a condição

Quando falamos de "celulite", a maioria das mulheres logo imagina aqueles furinhos incômodos que afetam a estética das pernas e quadris. No entanto, há uma condição muito mais complexa e frequentemente ignorada: o “lipedema”. Apesar de ser muitas vezes confundido com a celulite ou até com obesidade, o lipedema tem suas próprias características, impactos e, claro, tratamentos que merecem ser discutidos. Hoje, vamos abordar de forma clara e objetiva essa condição que afeta a saúde física e emocional de milhares de mulheres.

O Que é Lipedema?


O lipedema é uma desordem crônica do tecido adiposo, caracterizada por um acúmulo anormal de gordura principalmente nas pernas e, em alguns casos, nos braços. Essa gordura tem uma distribuição desigual, resultando em dor, sensibilidade e, muitas vezes, uma aparência desproporcional entre o tronco e os membros. Embora sua causa exata ainda seja desconhecida, há uma forte correlação genética e, frequentemente, o lipedema surge ou piora durante períodos de mudanças hormonais, como a puberdade, gravidez ou menopausa.

Epidemiologia e Diferença para Celulite


Estima-se que 1 em cada 10 mulheres no mundo possa sofrer de lipedema, embora muitas não tenham diagnóstico ou vivam anos confundindo a condição com celulite. A principal diferença entre as duas está na natureza do tecido afetado. Enquanto a celulite é um acúmulo de gordura superficial que causa ondulações na pele, o lipedema envolve o tecido adiposo mais profundo, gerando inchaço, dor e, em casos graves, limitação física. Além disso, ao contrário da celulite, o lipedema não responde bem à dieta ou ao exercício físico convencionais, o que leva muitas mulheres a um ciclo frustrante de tentativas de emagrecimento sem sucesso.

O Impacto Social e Psicológico

Imagine viver anos lutando contra o espelho, acreditando que a falta de resultados vem de algum erro pessoal ou de “preguiça”. Isso é o que muitas mulheres com lipedema experimentam. O impacto social e emocional é devastador. Elas são frequentemente julgadas, rotuladas como obesas ou descuidadas, e sofrem em silêncio com dores que não desaparecem com o tempo.

Estudos recentes apontam que mulheres com lipedema apresentam maiores taxas de depressão, ansiedade e isolamento social. A frustração aumenta à medida que tratamentos estéticos convencionais ou rotinas de exercícios não surtem efeito. E é aí que entra a importância de um diagnóstico precoce e adequado.

Diagnóstico: O Caminho para o Tratamento


O diagnóstico do lipedema ainda é negligenciado por muitos profissionais de saúde, o que contribui para o subtratamento da doença. Uma boa avaliação clínica e a identificação dos sintomas característicos, como a dor ao toque, o inchaço que piora ao longo do dia e a desproporção corporal, são essenciais.

Mas o diagnóstico vai além do exame físico. Ferramentas como a ultrassonografia podem ajudar a diferenciar o lipedema de outras condições, como o linfedema ou obesidade, e garantir um tratamento mais assertivo.

Tratamento: Há Esperança?


Aqui é onde entramos em uma questão delicada: muitas mulheres são informadas que o lipedema é uma condição sem cura, apenas controlável. Embora não exista uma solução mágica, há sim tratamentos eficazes para melhorar a qualidade de vida dessas pacientes.

Além das abordagens tradicionais, como drenagem linfática manual, uso de meias de compressão e, em alguns casos, a lipoaspiração específica para lipedema, novas terapias vêm ganhando destaque no manejo do lipedema, incluindo o uso de antioxidantes, suplementos naturais e tratamento hormonal.

O Papel dos Antioxidantes e Suplementos Naturais


Estudos recentes indicam que o processo inflamatório subjacente ao lipedema pode ser modulado com o uso de antioxidantes, como a vitamina C, vitamina E e compostos naturais como o extrato de cúrcuma e resveratrol. Esses suplementos podem ajudar a reduzir a inflamação e melhorar a saúde vascular, dois fatores importantes para controlar o inchaço e a dor.

Além disso, óleos de peixe ricos em ômega-3, conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias, podem ser usados para ajudar no controle da dor e reduzir o desconforto causado pela retenção de líquidos. Embora os suplementos não sejam uma cura, eles têm sido uma adição eficaz para um tratamento mais completo e menos invasivo.

Tratamento Hormonal: Uma Abordagem Promissora


Outra abordagem que vem ganhando força é o tratamento hormonal. Como o lipedema está intimamente ligado a variações hormonais, muitos especialistas sugerem que um tratamento hormonal adequado, feito sob supervisão médica, pode modular o avanço da doença, principalmente em momentos de alterações hormonais significativas como a menopausa.

A modulação hormonal visa restabelecer o equilíbrio de estrogênio e progesterona no organismo, ajudando a reduzir a inflamação crônica e o acúmulo de gordura disfuncional. No entanto, é fundamental que esse tipo de tratamento seja prescrito e acompanhado por um especialista, visto que a automedicação pode trazer sérios riscos.

Prognóstico: O Futuro da Mulher com Lipedema


Com o tratamento adequado e o diagnóstico correto, as mulheres com lipedema podem viver com menos dor e mais mobilidade. Embora a condição seja crônica, uma abordagem combinada – que envolva terapias físicas, dieta anti-inflamatória, suplementação adequada e, quando indicado, tratamento hormonal – pode gerar grandes melhorias na qualidade de vida.

Conclusão: Não é Apenas Estética


O lipedema não é uma questão meramente estética, e tratá-lo como tal apenas aumenta o sofrimento de quem convive com essa condição. Desinformação e preconceito são os maiores inimigos aqui. Portanto, se você percebe que algo não está certo em seu corpo, procure orientação médica.

O lipedema é uma doença, e não um resultado de maus hábitos. Quando olharmos para o lipedema com mais seriedade e de forma holística, daremos a essas mulheres a chance de viverem sem dor, com dignidade e a autoestima restaurada.

Fica o meu convite para que todas as mulheres comecem a observar seus corpos com mais amor e atenção. Afinal, reconhecer o problema é o primeiro passo para uma solução.

Sobre o blog

Professor Alberto Sandes, MD
Mestre em Ensino à Saúde • Portugal
Especialista em Saúde da Mulher
Endocrinologia Ginecológica
Nutrologia
Medicina do exercício e do esporte
Bem-estar feminino e longevidade
CRM 5953-AL | RQE 2816

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