Segundo estudos, metade das mães de crianças com autismo sofrem de sintomas de depressão,as taxas são altas: enquanto 50% das mães de crianças com autismo apresentavam níveis elevados de sintomas depressivos durante um período de 18 meses, esse número estava entre 6% e 13% para mães cujos filhos não tinham autismo.
Para avaliar os sintomas depressivos, os pesquisadores usaram uma medida chamada Inventário de Sintomas Depressivos, que as próprias mães preencheram. As mães também relataram os comportamentos das crianças usando a Escala de Comportamento Desafiador da Criança. A equipe trabalhou com 86 pares mãe-filho, metade dos quais incluía crianças com autismo e metade com crianças neurotípicas. Cerca de 75% das crianças incluídas no estudo tinham idade escolar primária ou menos, embora algumas tivessem até 16 anos.
Além das demandas diárias, que já são cansativas por si só, a falta de suporte do parceiro ou da família — a rede de apoio — também é uma queixa frequente entre as mães de autistas.
Um exemplo disso é a confeiteira Luana Rodrigues. Ela, que é mãe solo, e não somente de uma criança atípica, mas sim de cinco, conta os desafios de dar conta dos cuidados com todos os filhos, além de ter que driblar as adversidades de uma rotina exaustiva de trabalho formal e informal para conseguir trazer sustento para sua casa.
A história da Luana se confunde com a história da maioria das mães de PCDs no Brasil. Assim como boa parte dessas mulheres, ela é mãe solo, tendo se divorciado do genitor dos filhos há cinco anos. Luana, que foi vítima de violência doméstica, precisou solicitar medida protetiva da justiça e poder viver em paz com suas crianças. Hoje, os filhos dela recebem pensão do genitor, porém, como a maioria desses casos no país, o dinheiro não é suficiente para prover as vidas de todos eles.
Além de tudo, durante sua infância, Luana sofreu abuso sexual do seu próprio pai. Os abusos começaram quando ela tinha apenas 12 anos de idade e seguiram até sua vida adulta, com o ciclo de abusos sendo encerrados aos seus 23 anos de idade. Com todas essas adversidades, Luana relata que já chegou a pensar em tirar a própria vida.
"Eu tentei tirar minha vida, pensei muito nisso. Mas não poderia deixar meus filhos desamparados, eles precisam de mim. Criei força por eles."
Luana não tem medo de se mostrar vulnerável, ela acredita que sua luta pode servi de exemplo para várias outras mulheres que vivem situações parecidas. E a depressão é algo que ela precisa lidar no seu dia a dia.
"A depressão veio com o fim do casamento, com o meu último parto, já estava passando por violência psicológica, eu tive uma gestação de altíssimo risco, né, quase morri com o meu filho, então, ali eu já estava adoecendo mentalmente. Foi o primeiro quadro depressivo. Veio um segundo, e com o diagnóstico do meu filho mais velho, e a suspeita dos demais, né, do Davi da Helena, um quadro mais grave. Eu adoeci mesmo." conta em depoimento.
Para fugir dessa realidade e ainda conseguir uma renda extra para sua família, Luana resolveu começar a empreender na área de confeitaria.
O amor por bolos estava na família
Sua única confidente e protetora era sua vó paterna, a dona Zenir. Todas as lembranças felizes de infância, tem a dona Zenir envolvida, assim com o cheiro delicioso de bolo sendo assado.
Luana conta que sua avó a ensinou a amar os bolos, assim ela se tornou confeiteira, ramo que exerce já há 15 anos. Ela relata que enquanto brincava de bonecas no terraço da avó, o cheiro de bolo ia tomando conta do ambiente, e desse amor compartilhado surgiu o Terraço do Bolo.
Assim ela se tornou confeiteira, ramo que exerce já há 15 anos. No prédio em que mora, seus vizinhos chegaram a denunciar sua produção de bolos. Alegando que descumpria as normas do condomínio, assim mais uma vez Luana se sentiu desamparada, sem saber como manter as despesas do seu lar. E após muito esforço, e ajuda de pessoas de fora, a confeiteira conseguiu um espaço fora do seu apartamento para dar seguimento a sua profissão.
Uma história de amor que comoveu o Brasil
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A maternidade da Luana é bastante desafiadora, ao todo ela possui 5 filhos dos quais, 4 são meninos e todos foram diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além disso, sua filha mais nova também foi diagnosticada com TDAH. Ela conta que seu filho mais velho foi o primeiro a ser diagnosticado, e que os especialistas já desconfiaram que o TEA poderia estar presente em outros membros da família.
"Ele iniciou as terapias, medicação e aos 4 anos saiu o diagnóstico. Lembro do quanto chorei, mas algo me conformava também pois se encerraram as dúvidas e acendia um farol para me guiar de como ajudar meu filho. Porém, antes do diagnóstico dele, a equipe que o acompanhou notou atrasos no meu caçula e eu notei dislexia na minha filha pois já dei aula particular a crianças Atípicas anos atrás." Relata a mãe.
Desde então a vida de Luana ficou totalmente direcionada para seus filhos, chegando até mesmo a perder sua vaidade. Durante nossa entrevista, a mulher revelou que não lembrava a última vez que tinha pintado as unhas ou até mesmo passado em algum salão de beleza.
Esse ano, sua história ficou conhecida por todo Brasil. Uma equipe do Programa "A Hora do Faro" na Rede Record de Televisão, ficou ciente da tragetória da confeiteira, e ela foi convidada até São Paulo, para contar sua história no programa.
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Durante a ocasião, Luana foi surpreendida. Ela acreditava que iria dar entrevista para um site. E se encheu de emoção, quando ao vivo, ouviu seu nome sendo chamado pelo apresentador.
Além de contar sua história e emocionar todo o Brasil, Luana ainda foi premiada com uma quantia em dinheiro, que seria destinada para poder proporcionar mais lazer para ela e seus filhos.
Mas seus instintos maternos separaram o valor recebido para arcar com as despesas médicas de seus pequenos, em especial gastos com planos de saúde. Porém a vida ainda tinha outros planos para a família, planos estes nada agradáveis.
É que no fim de julho, o prédio que ela morava com as crianças no bairro do Pinheiro teve sua garagem incendiada. Esse fato acabou afetando a rede elétrica da construção, impossibilitando os moradores de voltarem para o imóvel. Agora Luana e seus filhos enfrentam uma nova luta: Arrumar um local para ficar até que os reparos necessários sejam feitos.
E foi então que o dinheiro arrecado no programa se fez um grande aliado, porque sem rede de apoio a família agora "salta" de casa em casa usando o dinheiro para aluguel e outras necessidades.
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Mas Luana não se deixa abalar, com espírito forte, a mãe solo guarda no coração a emoção que foi ser reconhecida por sua força, ao vivo para todo Brasil ver.
"Eu sou da Bahia, mas ver o Rodrigo Faro me chamando de Alagoana, contando minha história me fez me sentir especial, e acolhida por essa terra que é tão minha." Conta ela emocionada.
Mas a luta dessa mãe inspiradora continua. Seus filhos não conseguem entender que não podem voltar para casa e agora vivem em crises constantes. Ela inclusive compartilhou com a nossa equipe, um vídeo que registra o momento que um dos seus filhos chora, implorando para voltar para casa.
"É muito difícil ver seus filhos chorando, pedindo para voltar para casa e sem saber o dia de amanhã. Eu queria fazer algo, mas me sinto impotente. Não consigo nem dormir direito com essa situação."
Luana conta ainda que vai entrar com uma ação judicial contra a seguradora contratada para indemnizar os moradores do imóvel, já que até o momento nenhum auxílio foi prestado, nem para ela, nem para os outros moradores. Um prazo de três meses aproximadamente foi dado para que ela e sua família pudessem voltar para o local. Com o dinheiro chegando ao fim, ela se preocupa agora com o futuro de sua família.