O Brasil enfrenta um cenário alarmante em 2024, com 180.137 focos de incêndios registrados até setembro, segundo o sistema BDQueimadas do INPE. O número representa mais da metade dos focos na América do Sul e um aumento de 108% em relação ao mesmo período de 2023.
Além das queimadas florestais, outros tipos de incêndios, como os causados por fiações elétricas antigas e explosões de gás, também contribuem para a crise. O Brasil já ocupa o 5º lugar no ranking mundial de poluição atmosférica, em grande parte devido à fumaça das queimadas. O efeito dessa poluição se reflete na saúde da população, trazendo sérios riscos ao sistema respiratório e cardiovascular.
A pneumologista pediátrica Dra. Rita Silva, em entrevista ao 7Segundos, destacou as consequências graves para a saúde respiratória. "O impacto das queimadas na saúde respiratória é enorme, pois o ar inalado deve chegar aos pulmões aquecido, filtrado e umedecido. Quando expostos à fumaça, seja a curto ou longo prazo, partículas tóxicas se depositam nas vias aéreas e pulmões, causando inflamações. Isso pode resultar em infecções agudas ou, se a exposição for constante, levar ao desenvolvimento de doenças crônicas como o enfisema e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)."
A pneumologista também explicou que os grupos mais vulneráveis são crianças menores de dois anos, idosos acima de 60 anos, e portadores de doenças inflamatórias, como asma. "O pulmão de uma criança ainda está em desenvolvimento, o que a torna mais suscetível aos danos causados pela inalação de fumaça. A exposição precoce pode resultar em perda de função pulmonar ao longo da vida", afirmou. Ela ainda ressalta que, no caso dos idosos, que naturalmente perdem capacidade pulmonar com o envelhecimento, a exposição pode agravar doenças preexistentes, aumentando o risco de crises respiratórias agudas.
Os produtos tóxicos presentes na fumaça variam conforme o material queimado – seja madeira, lixo, plástico ou papel. Esses compostos, ao serem inalados, geram uma inflamação nas vias respiratórias. "É muito comum em áreas rurais, onde há o uso frequente de fogões a lenha, o desenvolvimento da doença pulmonar que obstrui as vias aéreas, tornando a respiração difícil (DPOC) em pessoas que se expõem diariamente à fumaça. A DPOC é a mesma doença pulmonar causada pelo tabagismo, pois a fumaça modifica a estrutura das vias aéreas ao longo dos anos", explicou a pneumologista.
Outro ponto de alerta da médica é que, muitas vezes, os sintomas iniciais de doenças relacionadas à inalação de fumaça podem ser sutis. "Os sintomas podem ser leves, como uma tosse seca ou um pigarro ocasional. Isso faz com que muitas pessoas não associem o problema à inalação de fumaça. No entanto, ao realizar exames como a espirometria, já é possível notar perda da função pulmonar. Quando os sintomas se tornam evidentes, como falta de ar ou tosse persistente, o comprometimento do pulmão já é significativo", alertou.
Para proteger a saúde respiratória durante períodos de queimadas intensas, a principal recomendação da especialista é evitar a exposição à fumaça. "A melhor medida é se afastar do ambiente afetado. No entanto, se isso não for possível, o uso de panos molhados ou máscaras úmidas pode ajudar a filtrar as partículas tóxicas. Esses métodos minimizam a inalação de material nocivo, mas o ideal é evitar qualquer contato prolongado com a fumaça."
O aumento dos incêndios no Brasil em 2024 não só agrava a destruição ambiental, como também representa uma séria ameaça à saúde pública. Com as previsões de que as mudanças climáticas intensifiquem os episódios de queimadas, medidas de prevenção e cuidados com a saúde respiratória tornam-se cada vez mais urgentes para a população brasileira.