Governo Lula estuda proibir alunos de usar celular na escola; educadores avaliam a medida como positiva

Brasil tenta seguir a recomendação da Unesco, que pede o banimento dos aparelhos nas unidades escolares

Por Felipe Ferreira |

O governo federal estuda proibir a utilização de aparelhos celulares por alunos em escolas públicas e privadas. Um projeto de lei que trata sobre o tema está sendo desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), que pretende encaminhar o texto para o Congresso Nacional ainda neste mês.

O governo Lula 3 pretende seguir a recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que emitiu um relatório sugerindo o banimento de celulares em escolas. De acordo com a Unesco, restrições desse tipo já são adotadas na França, nos EUA, na Finlândia, na Itália, na Espanha, em Portugal, na Holanda, no Canadá, na Suíça e no México.

A medida divide a opinião de pais e professores que defendem pontos divergentes. O portal 7Segundos consultou especialistas sobre o tema.

A psicopedagoga Patrícia Dantas avalia como assertiva a iniciativa do governo federal e não concorda com o uso de aparelhos celulares nas escolas quando o mesmo não for utilizado para fins educacionais.

“O uso de telas diminui o contato social entre os alunos”, avalia a psicopedagoga. Patrícia Dantas aponta, ainda, que umas das maiores preocupações das crianças quando sabem que vão ficar sem o aparelho na escola, é não saber o que fazer durante o recreio.

Patrícia Dantas é psicopedagoga e avalia que a medida estudada pelo governo federal é válida

“O recreio serve para a hora do lanche, além de ser um importante momento de socialização entre as crianças e adolescentes. Esse momento de socialização está sendo perdido, deixando lacunas no desenvolvimento dessas crianças e adolescentes”

A Coordenadora Pedagógica de 1º ao 5º ano na Escola Estadual Prof. Malba Lins, e professora de Ciências da Natureza da Escola Estadual Profª Maria das Graças de Sá Teixeira, Lidiana Costa, tem opiniões divergentes a depender da faixa etária do aluno.

“Do 1º ao 5º ano não vejo necessidade alguma do aluno levar celular para a sala de aula, porque a gente utiliza outros aparelhos como projetores, televisão. (...) Já em relação ao EJA Modular, eu vejo que há necessidade. Eu trabalho nas minhas aulas usando o celular como um instrumento. Nem sempre o laboratório de informática está disponível no horário, então, eu aproveito o celular para mostrar vídeos ou apresentações de slides. “Como os alunos são adultos não precisa ficar chamando atenção”, avalia Lidiana.

Lidiana Costa tem opiniões diferentes sobre o tema a depender da faixa etária do aluno

Em Maceió, algumas escolas já adotam esse modelo

  • A pedagoga escolar Vilma Muritiba contou ao 7Segundos que na capital alagoana já há unidades escolares que baniram o uso dos aparelhos em suas dependências.

    “Em Maceió, algumas escolas já adotam esse modelo, que foi alcançado após reuniões com o Conselho Escolar”, disse. “Vendo que o celular está indo na contramão das necessidades reais de aprendizagem do aluno, as escolas já estão adotando essa postura de guardar os celulares dos alunos e somente devolver ao final da aula”, contou.

  • Na avaliação da pedagoga, a medida que vem sendo estudada pelo governo federal é benéfica já que os alunos não conseguem socializar. “Nossos jovens estão perdendo a habilidade de estudar, habilidade de serem pesquisadores, de estarem atentos ao conteúdo para usar o celular como meio de fuga e entretenimento por mero entretenimento. (...) Vemos alunos nas salas de aulas com fone de ouvido, jogando, entretidos nas redes sociais e se desconectando completamente do ambiente escolar”.

Como os pais enxergam a medida

A grande preocupação dos pais sobre a proibição do uso de celulares nas escolas é a comunicação com seus filhos. Sobre esse ponto, Lidiana Costa diz que os pais podem entrar em contato com os alunos através do contato direto com a escola. “Na maioria das vezes, o celular, ao invés de aliado, atrapalha no desenvolvimento cognitivo do aluno, além de dispersar o aluno em sala de aula”, diz.

Depois das eleições municipais

O presidente da Comissão de Educação do Senado Federal, Flávio Arns (PSB-PR), disse que o colegiado vai iniciar o debate sobre a proibição dos celulares nas salas de aula logo após as eleições municipais deste ano.

Conforme o senador do PSB, nada impede os senadores de apresentarem outro projeto a partir da discussão na comissão. Arns explicou não ter sido procurado ainda pelo MEC para tratar sobre o assunto, mas defendeu um amplo debate em torno do tema.

As escolas têm liberdade de orientar os alunos

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) encaminhou uma nota ao portal 7Segundos, esclarecendo que as escolas têm liberdade de orientar os alunos quanto à proibição de celulares nas salas de aula.

“Na rede pública estadual, os gestores das unidades de ensino, conforme regimento próprio, têm a liberdade de orientar os estudantes no sentido de se evitar o uso do celular, não havendo norma que proíba a utilização desta ferramenta nas dependências da escola - já que a tecnologia deve ser vista como uma aliada no processo de ensino e aprendizagem”, diz um trecho na nota.

Segundo o Ministério da Educação, a iniciativa vai dar segurança jurídica para estados e municípios que já vinham discutindo a proibição.

A data da divulgação das medidas ainda não foi divulgada pela pasta.