Na busca por oferecer o melhor para seus animais de estimação, muitas pessoas acabam tratando seus pets como membros da família e em alguns casos, como verdadeiros filhos. Entretanto, essa "humanização" pode ter efeitos prejudiciais ao bem-estar dos animais, como alerta o veterinário Henrique Camilo. Em entrevista à Rede Antena 7, explicou como o comportamento dos tutores, muitas vezes impulsionado pelo amor incondicional aos pets, pode acabar gerando consequências inesperadas para esses animais.
Camilo destacou que muitas pessoas tratam seus cães como tratariam uma criança, o que nem sempre é benéfico para o animal. "As pessoas têm muito amor pelo cão, e, por serem humanas, vão expressar esse amor de forma humana. Muitas vezes, a pessoa trata o pet como gostaria de ser tratada, ou como se o pet fosse realmente seu filho. Mas é essencial lembrar que uma das simples verdades do bem-estar animal é permitir que o animal seja livre para expressar sua natureza animal", explicou o adestrador.
Para Camilo, é importante que os tutores compreendam que os cães possuem necessidades diferentes das nossas. "Eles precisam de estímulos sociais e mentais específicos, que permitam extravasar seu instinto natural, como a caça, por exemplo. Usar uma bolinha ou brinquedo para estimular esse comportamento é uma maneira saudável de satisfazer essa necessidade", afirma. No entanto, a prática de forçar o animal a seguir rotinas e comportamentos estranhos a sua natureza pode gerar estresse e ansiedade.
Ao serem privados de expressar comportamentos naturais, muitos animais podem desenvolver problemas emocionais e físicos. Segundo Camilo, as consequências da privação de liberdade animal se manifestam principalmente em estresse e ansiedade, condições que podem impactar severamente a saúde do pet. Ele cita que o estresse crônico aumenta os níveis de cortisol, o que, em longo prazo, pode desencadear doenças autoimunes e outros problemas graves.
O comportamento compulsivo, como lambedura excessiva, destruição de objetos, vocalizações constantes e até problemas de pele em gatos, também são sinais de que o animal está sob estresse elevado. "É comum encontrar animais com problemas de saúde que são difíceis de tratar devido ao estresse. Às vezes, o tratamento não é eficaz não pela falta de competência do veterinário, mas porque o organismo do animal, estressado, não responde ao tratamento como deveria", alerta.
O dilema do conforto humano versus o conforto animal
Um exemplo comum trazido pelo adestrador é a insistência dos tutores para que o cão durma em camas macias e aquecidas, muitas vezes ignorando que o animal prefere superfícies mais frias, como o chão ou até a grama. "A temperatura dos cães é diferente da nossa; o que seria desconfortável para nós pode ser ideal para eles. Forçar o animal a dormir onde achamos mais confortável para nós pode não ser o melhor para ele", ressalta.
Camilo incentiva os tutores a aceitarem que os animais têm necessidades próprias e a respeitar sua individualidade. "O cão, assim como a criança, precisa de tempo de qualidade e estímulos adequados, mas essas necessidades devem ser atendidas de acordo com a natureza de cada espécie, e não com as expectativas humanas."
Casos de "heranças milionárias" deixadas para pets, como o da empresária dona da Jaguar Land Rover que deixou parte de sua fortuna para seu cachorro , ilustram como a humanização de animais está em alta ao redor do mundo. Embora esse amor excessivo pelos pets seja positivo até certo ponto, ele precisa ser equilibrado com um entendimento real das necessidades dos animais.
É fundamental que os tutores busquem orientação profissional sobre o comportamento animal para garantir um ambiente saudável e equilibrado para seus pets.