Em tempos de feeds repletos de corpos esculpidos, passarelas retomando padrões ultramagros e tendências como o *heroin chic* ressurgindo, a pergunta surge: estamos revivendo a obsessão pela magreza a qualquer custo? O reflexo no espelho e nas redes sociais parece trazer mais dúvidas do que respostas, alimentando um ciclo de inseguranças e soluções rápidas, muitas vezes arriscadas.
No centro desse debate está o Ozempic, um medicamento originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2, que se tornou a mais nova obsessão da cultura da magreza. Para entender o impacto desse fenômeno, conversamos com o farmacêutico Júlio Gomes, que explicou como o medicamento, apesar de eficaz em suas indicações, tem sido usado de forma indiscriminada para fins estéticos, gerando riscos para a saúde e um debate ético sobre sua prescrição.
O que é o Ozempic e por que ele virou moda?
O Ozempic é um medicamento injetável cujo princípio ativo, a semaglutida, atua no controle da glicemia e na regulação do apetite, promovendo perda de peso como um efeito secundário. Apesar de indicado exclusivamente para o tratamento de diabetes tipo 2, celebridades e influenciadores têm impulsionado seu uso *off-label* como uma "fórmula mágica" para emagrecimento rápido."O medicamento desacelera o esvaziamento gástrico e reduz o apetite, o que leva à perda de peso significativa. Esses efeitos, aliados à influência midiática, criaram uma febre pelo uso do Ozempic em pessoas que não têm indicação médica", explica Júlio.No entanto, essa prática não é isenta de riscos. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão náuseas, vômitos, diarreia e constipação. Há também riscos mais graves, como pancreatite, hipoglicemia e problemas renais. O uso prolongado em pessoas sem diabetes pode acarretar complicações ainda menos previsíveis, alerta o especialista.
Quando a busca pela estética compromete a saúde
O aumento na demanda pelo Ozempic evidencia como a cultura da magreza está sendo reforçada por novos mecanismos de pressão estética. Redes sociais, publicidade velada e a idealização de corpos “perfeitos” alimentam o desejo por soluções rápidas e acessíveis, ignorando os custos físicos e emocionais. Além dos riscos à saúde individual, o uso indiscriminado tem gerado desabastecimento, prejudicando pacientes que dependem do medicamento para controlar o diabetes. "Muitos relatam dificuldades para encontrar o Ozempic em farmácias, o que compromete o tratamento de uma doença crônica com complicações potencialmente graves", explica Júlio.
A influência da moda e das redes sociais
Ao mesmo tempo em que a sociedade parece caminhar em direção a uma maior inclusão de corpos diversos, passarelas e tendências midiáticas contradizem esse progresso. A volta do estilo ultramagro, antes criticado, e o uso de filtros que deformam a realidade estão reconfigurando o padrão estético.
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A influência da moda e das redes sociais
Ao mesmo tempo em que a sociedade parece caminhar em direção a uma maior inclusão de corpos diversos, passarelas e tendências midiáticas contradizem esse progresso. A volta do estilo ultramagro, antes criticado, e o uso de filtros que deformam a realidade estão reconfigurando o padrão estético.
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Alternativas e conscientização
Para quem busca perder peso, Júlio Gomes reforça a importância de uma abordagem segura e sustentável. “Mudanças no estilo de vida, acompanhamento nutricional e, quando necessário, medicamentos adequados são caminhos mais seguros. O uso de medicamentos fora de prescrição não é apenas arriscado, mas também irresponsável.” Afinal, a cultura da magreza está de volta?
Os sinais estão por toda parte, mas a resposta talvez dependa de como escolhemos reagir. Enquanto medicamentos como o Ozempic permanecem no centro das atenções, a real mudança talvez esteja em romper com a lógica do imediatismo e abraçar uma visão mais equilibrada e inclusiva de saúde e beleza.