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Psicóloga analisa impacto de nova lei que proíbe celulares nas escolas na educação e saúde mental
Com a sanção da lei, o Brasil inicia um debate profundo sobre o papel da tecnologia na educação e os limites necessários para equilibrar avanço tecnológico e desenvolvimento humano
Por Lane Gois | 7Segundos
A sanção da Lei 15.100/25 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, proibindo o uso de celulares e dispositivos eletrônicos por alunos em escolas, reacendeu debates sobre educação, interação social e saúde mental. A medida é vista como uma tentativa de recuperar o foco pedagógico e promover relações interpessoais no ambiente escolar, mas também gera desafios e questionamentos sobre sua implementação.
O 7Segundos consultou a psicóloga Vitória Fernanda que trouxe uma análise aprofundada sobre os impactos psicológicos da restrição do uso de celulares nas escolas. Para ela, a medida é um passo positivo, mas exige preparo das instituições de ensino e das famílias para que os benefícios sejam amplamente sentidos.
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É preciso psicoeducação e adaptação
Vitória defende que a transição para um ambiente escolar sem celulares deve ser acompanhada de um processo educativo e gradual, tanto para alunos quanto para pais e educadores.
“A abstinência do uso de celulares pode gerar resistências, como irritabilidade, desinteresse pela escola e até desistências. Por isso, é essencial implementar a psicoeducação. Esse processo deve começar no ambiente familiar, preparando os alunos para compreenderem os benefícios e desafios dessa mudança,” explicou.
Segundo ela, a inclusão dos pais no debate é fundamental. “O primeiro passo é criar um diálogo com as famílias para que entendam os motivos e colaborem com a adaptação. A escola sozinha não pode carregar todo o peso dessa transição,” afirmou.
Impacto no desenvolvimento social e emocional
A psicóloga destacou que o uso excessivo de celulares tem prejudicado a interação social e emocional dos alunos.
“Vemos cada vez mais crianças e adolescentes criando perfis virtuais em detrimento de suas relações reais. Isso compromete o desenvolvimento de habilidades sociais e aumenta os riscos de problemas emocionais, como ansiedade e isolamento,” analisou.
Para ela, a retirada gradual dos dispositivos pode fortalecer as conexões humanas dentro do ambiente escolar. “Com menos tempo nas telas, os alunos passam a interagir mais entre si e com os professores. Isso estimula o diálogo, o contato olho no olho e a empatia, elementos essenciais para o crescimento pessoal e emocional,” acrescentou.
Benefícios e desafios da restrição
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Vitória acredita que a medida também pode impactar positivamente o desempenho acadêmico. “Com menos distrações, os alunos tendem a melhorar o foco e a atenção nas aulas, o que é essencial para combater o déficit de aprendizagem que temos observado,” afirmou.
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No entanto, ela alertou para a importância de supervisionar o processo de adaptação. “Se a restrição for imposta sem acompanhamento, pode haver resistência e até rejeição por parte dos alunos. É fundamental que a escola ofereça espaços de acolhimento e promova atividades que compensem a ausência do celular,” recomendou.
Apsicoeducação como pilar fundamental
Uma das sugestões da psicóloga é que as escolas invistam em programas de conscientização sobre o uso equilibrado da tecnologia.
“Os alunos precisam entender os efeitos positivos e negativos do uso do celular. Compreender que ele pode ser uma ferramenta útil, mas que também traz riscos quando usado em excesso, como ansiedade e dificuldade de se desconectar,” explicou.
Ela também defendeu que os professores sejam capacitados para lidar com as mudanças. “Treinamentos e espaços de discussão entre os educadores são necessários para que a transição seja bem-sucedida.”
Uma sociedade mais conectada com o humano
Ao final, Vitória comparou a dependência do celular às dificuldades enfrentadas por dependentes químicos. “A abstinência pode ser dolorosa, mas também é uma oportunidade de reconexão com o que realmente importa: o contato humano. Quando o uso do celular é reduzido, abrimos espaço para criar uma sociedade mais consciente e conectada emocionalmente,” concluiu.
Com a sanção da lei, o Brasil inicia um debate profundo sobre o papel da tecnologia na educação e os limites necessários para equilibrar avanço tecnológico e desenvolvimento humano. A medida, embora desafiadora, pode ser um marco na construção de um ambiente escolar mais saudável e humano.