
Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. E é nesta data que muitas instituições e entidades públicas e privadas publicam mensagens em alusão ao tema, e promovem ações voltadas para o público autista. Tudo isso é bastante válido, e ajuda a propagar informações valiosas para a comunidade, e também para a sociedade como um todo. Entretanto, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não existe somente no dia 2 de abril.
Famílias atípicas, que são aquelas que possuem um ou mais membros com algum tipo de deficiência, como é considerado o autismo, enfrentam verdadeiras guerras diárias para garantir que essas pessoas tenham direitos básicos respeitados. Acesso a tratamento eficaz, opções de lazer em ambientes adequados às suas necessidades, a chance de estudar em escolas regulares e aprender, são apenas algumas das metas que pessoas com TEA buscam alcançar cotidianamente.
Em razão disso, o dia 2 de abril acaba se tornando uma grande vitrine para a exposição de diversas pautas importantes e que realmente fazem parte das vidas dessas pessoas.
Conscientizar sobre o que?
Muito se fala, neste dia, sobre conscientização da população sobre o autismo e tudo o que envolve o transtorno. Mas pouco, ou quase nada, se escuta ou se leva em consideração quando quem fala, quem reivindica sobre o tema, são as famílias, os cuidadores das pessoas com TEA, ou os próprios autistas.
Quase que diariamente essas pessoas enfrentam questões que acabam comprometendo o direito a saúde – Como quando um plano de saúde promoveu, em Alagoas, um Seminário para membros do judiciário afim de persuadir magistrados a favorecer as operadoras de saúde em ações judiciais para obtenção de tratamento adequado;
Ou, mais recentemente, quando a Secretaria Municipal de Educação de Maceió divulgou uma portaria que estabelecia que um auxiliar de sala poderá ficar responsável, agora, por até seis crianças autistas simultaneamente;
Ou os inúmeros casos de violência bullyng que crianças e jovens autistas sofrem constantemente.

Mãe atípica solo: a realidade da maioria
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Marcélia Santos é mãe do Davi, 12 anos, autista nível 2 de suporte. Em uma breve entrevista ao portal 7Segundos, ela conta que apesar de vivermos hoje em uma sociedade cada vez mais moderna, e com acesso a todo o tipo de informação na palma da mão, a comunidade autista ainda sofre bastante com a propagação de desinformação e com o desrespeito a individualidade de cada autista e seus padrões específicos de comportamento.
Além disso, Marcélia pontua a dificuldade de acesso aos tratamentos considerados mais eficazes para pessoas autistas, como a terapia ABA, que encarece mais e mais a cada ano. “Nem todos têm poder aquisitivo para custear, mal temos p pagar o plano de saúde imagina terapias integrativas”, desabafa.
Vale lembrar que os planos de saúde são obrigados a fornecer todo o tratamento prescrito pelo médico que acompanha o indivíduo autista, sem limitação de tempo.
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Embora isso seja determinado pela justiça, os planos de saúde seguem buscando manobras para tentar se esquivar dessa obrigação, e manter seus lucros bilionários intactos.
Para a mãe de Davi, que é mãe solo e, como muitas, sem rede de apoio, a maternidade atípica, sendo residente em Maceió, acaba sendo um árduo exercício de vida diária. Ela conta que o filho mostra todos os dias para ela que ele pode sim se desenvolver e ser inserido na sociedade, por mais que se pense o contrário. “De um ano para cá estamos passando por mudanças gigantescas, ele entrou na adolescência e tem sido bem desafiador, mostrou coisas que eu jamais pensei que passaria, mas estamos aqui. Muitas vezes penso em desistir de tantas coisas, mas depois olho para ele, olho p mim, o quanto percorri para estarmos aqui, respiro fundo e sigo”, revela Marcélia.
Em Maceió, alguns movimentos independentes se organizaram para espalhar a conscientização a partir do ponto de vista de quem vive o autismo. Um desses grupos é o Autismo Especialmente Arte. Formado por uma turma de jovens autistas, com idades entre 11 e 26 anos, que decidiram unir o amor pela arte e a vontade de estreitar laços de amizade, esse grupo já promoveu mais de 15 exposições com esculturas, desenhos, pinturas, bijuterias e apresentações musicais, tudo feito por pessoas dentro do espectro.

A fundadora do Autismo Especialmente Arte, Claudia Nicácio, também é mãe do Daniel Nicácio, autista nível 2 de suporte que integra o grupo. Ela conta que o filho foi a grande inspiração para o desenvolvimento do projeto, que nasceu, segundo Cláudia, da intenção de oferecer para seu filho, e para outros jovens autistas, um espaço seguro onde eles pudessem socializar, se divertir e criar laços de amizade entre si.

Uma das principais características das pessoas com TEA é o comprometimento na habilidade de socializar. Muitas vezes o autista tem imensa vontade em ter contato com outras pessoas, realizar atividades em grupo, porém, acaba sendo excluído por aqueles que desconhecem sobre o assunto. Cláudia explica que a existência de um grupo focado em trazer jovens autistas para um momento de socialização sem exclusões mostra que utilizando os meios e a ferramenta adequada, é possível sim obter uma evolução e melhora no que tange aos problemas apresentados pela grande maioria dos autistas: exclusão e falta de amigos.

Exposição no Dia Mundial do Autismo
Em Alagoas, diversas atividades estão sendo promovidas em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Uma delas é justamente uma exposição do grupo Autismo Especialmente Arte, que acontece nesta quarta-feira (2), no Shopping Pátio Maceió, localizado no bairro Benedito Bentes, parte alta da capital alagoana.
A exposição acontece das 9h as 17h, e contará com a exposição de esculturas, desenhos, bijuterias além de apresentações de canto ao vivo. Sem dúvidas um evento sensível feito por pessoas que vivem o autismo e que vale a pena prestigiar.
Outros eventos previstos:
Caminhada do Autismo 2025
Data: 6 de abril (domingo)
Local: Corredor Vera Arruda, Jatiúca, Maceió
Horário: A partir das 8h
Organização: Mobilização Alagoas, em parceria com famílias atípicas e apoiadores locais.
Tema: “Informação Gera Empatia, Empatia Gera Respeito: Maceió se une pela inclusão e conscientização”.
Objetivo: Conscientizar sobre o TEA, promover inclusão, celebrar o Dia Mundial do Autismo (2 de abril) e compartilhar histórias de vida entre famílias. O evento incluirá atividades de acolhimento e palestras com ativistas como Cibelly Procópio e Liviane Lima, mães de crianças autistas e líderes da Mobilização Alagoas .
Programa "Autismo em Foco: Conhecimento que Transforma"
Capacitação
Data: 28 de março (sexta-feira)
Local: Auditório do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Marechal Deodoro.
Organização: Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef).
Público-alvo: Servidores públicos, profissionais de áreas correlatas e interessados no tema.
Conteúdo: Aspectos legais, direitos fundamentais, diagnóstico do autismo e abordagem humanizada. Alinha-se com políticas nacionais de inclusão, como a Lei Brasileira de Inclusão .
Projeto Salto Azul
Data: 28 a 30 de março (evento pré-Abril Azul)
Local: Auditório da Justiça Federal (dias 28 e 29) e Praia de Pajuçara (dia 30), Maceió.
Atividades: Palestras sobre direitos dos autistas, musicoterapia e atividades esportivas (paraquedismo, ciclismo, surf, etc.). O evento visa unir esporte e educação para simbolizar a superação de barreiras sociais .
Parcerias e Apoio
As ações contam com envolvimento de instituições como a Mobilização Alagoas (@mobilizacaoalagoas no Instagram) e projetos como o Autistas Regatianos (torcida inclusiva).
Embora o Dia Mundial do Autismo seja celebrado em 2 de abril, as atividades em Alagoas se estendem ao longo do mês, integrando-se ao movimento global Abril Azul.