Vivemos na era da exposição. Cada clique, cada post, cada story transformou-se em uma vitrine, muitas vezes mais importante do que a própria experiência vivida. Mas até que ponto essa superexposição é saudável? O quanto o desejo por curtidas e validação virtual tem adoecido as pessoas?

Para refletir sobre essas questões, a psicóloga Nayara Lucas conversou com a Rede 7 Segundos, em uma entrevista especial sobre os impactos da vida digital na saúde mental.
A busca por validação e o risco da comparação constante
“Hoje em dia a gente tem essa necessidade de engajamento, de se provar. Provar que cresceu na vida, provar que é bonito, que conquistou algo. E isso, em muitos casos, virou quase uma obrigação”, explica Nayara.
De acordo com a psicóloga, as redes sociais criaram um ambiente em que as pessoas se sentem constantemente medidas por padrões irreais. “É uma comparação que não acaba nunca. As pessoas acreditam que nunca são suficientes: não viajam o bastante, não têm o corpo ideal, não são ricas o suficiente. Isso gera ansiedade, depressão, baixa autoestima. É um adoecimento coletivo”, analisa.
O limite entre o compartilhar e o se expor
Quando perguntada sobre até onde é saudável se expor nas redes, Nayara é enfática: “O ideal seria que houvesse ponderação. Porque, uma vez que algo é postado, a gente perde o controle. Aquele vídeo, aquela foto... tudo pode ser replicado e usado de formas que a pessoa nem imagina.”
Ela alerta que muitas pessoas ultrapassam esse limite sem perceber. “Só notam quando a exposição já gerou um problema. O que era pra ser diversão se transforma em dor.”
Críticas e ódio virtual: quando o público invade o pessoal
A psicóloga comenta ainda o impacto das críticas e comentários maldosos, especialmente sobre quem vive da internet. “Mesmo os influenciadores, que parecem lidar bem, sofrem muito com isso. Muitos dizem que estão bem, mas a crítica fere, sim”, afirma.
Segundo Nayara, a chave para lidar com o julgamento alheio está no autoconhecimento. “Quando a pessoa tem clareza de quem é, ela consegue filtrar o que vem do outro. Nem toda crítica é construtiva e nem toda opinião precisa entrar dentro de você.”
A infância transformada em conteúdo
Um dos pontos mais sensíveis da conversa é a exposição infantil. Nayara faz um alerta sobre a banalização da imagem de crianças nas redes. “É bonitinho, é fofinho, mas é preciso pensar em quem está vendo aquela criança. A gente não sabe o olhar do outro. Muitas vezes, os pais expõem os filhos a pessoas desconhecidas, e isso é perigoso”, ressalta.
A psicóloga explica que os riscos vão além da segurança física. “Essas crianças crescem acreditando que precisam performar, agradar, se comparar. Quando chegam à adolescência, muitas já apresentam sintomas de ansiedade, depressão e distorção de autoimagem.”
Ela também destaca o fenômeno da adultização precoce: “Meninas pequenas vestidas e dançando como adultas. E os pais, por vezes, perdem o controle. O acesso às redes precisa ter limite e esse limite deve partir dos responsáveis.”
A ilusão da vida perfeita
O maior desafio, segundo Nayara, é fazer com que adolescentes e adultos compreendam que o que se vê na internet é um recorte, não a realidade.
“Tudo no marketing digital é feito pra vender. A gente esquece disso. As influenciadoras, as marcas, todo mundo quer vender um estilo de vida. É importante conversar com os jovens sobre isso e ajudá-los a entender o que é real e o que é apenas uma vitrine.”
Quando a fama acaba
A psicóloga também comenta o fenômeno das “famas instantâneas”, quando um vídeo viraliza e transforma alguém em celebridade da noite para o dia.
“É preciso saber lidar com a frustração. Quando a fama vem de um conteúdo pontual, ela não se sustenta. E muitas pessoas entram em crise quando percebem que aquele momento passou. O mundo digital é efêmero, e isso precisa ser entendido.”
“Existe vida fora do celular”
Ao final da entrevista, Nayara deixa uma mensagem simples, mas poderosa:
“A nossa vida não deve girar em torno do celular. Existe um mundo real lá fora, com amigos, família, pessoas de verdade. A vida acontece fora da tela. Então, se você sente que está viciado no celular, comece a agir com intencionalidade: deixe o aparelho de lado, vá à praia, assista a um filme, converse. O celular é importante, mas a vida é muito mais.”
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