Checado: ter Covid-19 após vacina não indica ineficácia de imunizante
Especialistas reforçam importância de medidas de prevenção até imunização atingir toda população
Circulam nas redes sociais várias desinformações sobre a imunização contra a Covid-19. São ideias enganosas de que a vacina não teria eficácia com a justificativa de que pessoas imunizadas também são contaminadas e até morrem. Os especialistas lembram que a vacina reduz imensamente o risco de contágio e de agravamento da doença, mas que é necessário manter o uso de máscaras e o distanciamento social para garantir maior proteção enquanto o vírus ainda estiver circulando.
Muitas postagens que colocam em dúvida a eficácia da vacina surgiram após o caso da morte do ator Tarcísio Meira e do contágio da atriz Glória Menezes e do apresentador Sílvio Santos, mesmo imunizados. “A maior tristeza é ter dado a esses idosos a esperança de uma proteção inexistente”, diz uma mensagem no Twitter. “A vacina não protege e pronto”, julga outro internauta.
Essas ideias sobre a imunização estão equivocadas. O primeiro ponto a ser esclarecido é que a vacina é confiável e apresenta eficácia. Após ensaios clínicos, as farmacêuticas fornecem informações que comprovam a eficácia da vacina aos órgãos reguladores nacionais. No Brasil, por exemplo, a Anvisa foi a responsável por autorizar a vacinação emergencial contra a Covid-19. Nos Estados Unidos quem teve essa responsabilidade foi a Agência Reguladora de Medicamentos e Alimentos(FDA, sigla em inglês).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), agência internacional especializada em saúde pública, também atua na verificação da qualidade, segurança e eficácia das vacinas. No site, é possível ter acesso aos documentos que detalham as informações dos imunizantes recomendados pelo órgão.
O fato de alguém se contaminar após tomar a vacina não significa que o imunizante não tenha eficácia. A microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, lembrou durante um debate no UOL, que nenhuma vacina é 100% eficaz com 0% de efeitos colaterais, mas que a imunização reduz bastante os riscos: "Nem vacinas, nem medicamentos têm 100% de eficácia. O que existe sempre é uma redução do risco e um aumento do benefício. A vacina vai reduzir o seu risco de adoecer em 70%, 50%, de acordo com a eficácia dela".
No caso do apresentador Silvio Santos, da atriz Glória Menezes e do ator Tarcísio Meira, que faleceu, a infectologista Luana Araújo pontuou, em entrevista à CNN Brasil, que a resposta imunológica das pessoas varia a depender de diversos fatores e que os idosos são um grupo mais vulnerável.
“Infelizmente algumas pessoas são mais vulneráveis, seja por limitação da própria vacina, seja por responder menos ao estímulo da vacina do que uma pessoa sem comorbidade ou jovem. No caso dos exemplos citados, estamos falando de três idosos e é importante lembrar que a gente não só envelhece por fora, mas por dentro também, então o sistema respiratório e o sistema imunológico também envelhecem”, disse Luana Araújo.
É por isso que os especialistas orientam que o uso de máscara e o distanciamento social são importantes na atual situação da pandemia no Brasil, onde tem variantes em circulação e está apenas com 28% da população totalmente imunizada. “Quando a vacina se soma a outras estratégias, como uso de máscara, distanciamento social, higiene das mãos e ventilação natural, ajuda a reduzir os riscos de contaminação”, informa a médica.
“Costumo comparar a vacina ao cinto de segurança. Em um acidente grave, ele ajuda a pessoa a não ser arremessada fora do carro, evita ter um traumatismo craniano, mas se o motorista está bêbado, o carro está com o pneu careca e com velocidade acima do permitido, só o cinto em si não vai conseguir proteger tanto quanto poderia. É necessário vacinar o máximo de pessoas ao mesmo tempo o mais rápido possível e até lá seguir todos os outros meios que ajudam na prevenção”, acrescentou Luana.
Com relação o uso de máscara, a infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), disse em entrevista à coluna Saúde da Revista Veja que o item será necessário até quando, no mínimo 80%, da população acima de 18 anos estiver vacinada com as duas doses. “Também precisamos de uma redução nas taxas de infecções, internações e mortes. Isso deve ocorrer lá para o final de 2021”, aponta a professora.