José Ventura
O Tronco
Não vai longe o tempo o tempo em que a novela Sinhá Moça representou a ostentação do senhor Barão, proprietário de terras, de cana de açúcar e fortuna financeira. Representou também a vida sub-humana dos escravos que lhes serviam em suas propriedades
A representação novelesca personificava o registro da história que aprendemos em livros didáticos nas escolas e em leituras da espécie.
Á época, dois tipos de pena eram aplicadas aos escravos considerados rebeldes.
A pena oficial tipificada pelas Ordenações Filipinas que previa pena de morte ou degredo em masmorras em companhia de ratos e doenças afins. A outra pena era praticada pelos senhores, a revel da repreensão oficial, e consistia dentre outros meios de suplício, o tronco.
O escravo era imobilizado num grosso e alto toro de madeira, em posições físicas que lhes roubavam suas forças de reação e que lhes geravam fragilidade do corpo e bagaço moral.
Pois bem. Com a abolição da escravatura tais penas, pelo teor da crueldade, foram abolidas, sobrevivendo um excesso às vezes aqui ou acolá, que o Estado ainda tolerava com grossas vistas, até refutá-las definitivamente com da Carta Maior promulgada em 1988.
Recentemente o Brasil e o mundo presenciaram a restauração do mesmo instrumento de tortura usado pelos senhores do Brasil colônia. As cenas reais mostradas nas cidades de Itajaí, Santa Catarina e do Rio Janeiro, comprovam que, quando o Estado não age com sua máquina repressiva contra o crime, o cidadão o substitui, mesmo sabendo que está rompendo com os princípios constitucionais.
A prática privada de repreender o delito, e em especial com métodos copiados da insanidade humana de tortura, não se mostra a mais adequada. Esses métodos privados que são também os fora da lei, não tem limite na aplicação do castigo, porque são incentivados pelo ódio e pela vontade de vingar. Sempre desproporcional à infração.
O retorno dessa prática repressiva pelas mãos do homem comum, e não pelo Estado, preocupa a todos que refutam qualquer espécie de violência, já que sabemos que esta gera aquela, e aquela gera outras que podem se alargar em diferentes formas e vitimar pessoas voltadas e comprometidas com o bem.
As mentes medieval e colonial não viam assim. Executavam a Lei de Talião, combatendo a violência com a mesma violência, criando assim um campo fértil para o crescimento de exuberante disseminação dessa prática abominável.
Diante dessa insanidade humana que encolhe a dignidade das pessoas e afronta o amor, o perdão e a tolerância, vimos de olhos arregalados pela surpresa e espanto, uma apresentadora de programa de TV fazer apologia ao tronco transformado em poste de cimento, a castigar pessoas que cometeram delitos.
Tenho por nivelado o animus dessa apresentadora ao espírito fora da lei, de quem foi amarrado ao poste e de quem o amarrou.
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