Um festival de música na Malásia foi cancelado depois que o vocalista Matty Healy, da banda britânica The 1975, criticou as leis anti-LGBTQIA+ do país e beijou o baixista do grupo no palco.

O caso aconteceu no Good Vibes Festival, em Kuala Lumpur, na noite de sexta-feira (21), e o Ministério das Comunicações local cancelou o restante do evento — que tinha duração prevista de três dias.

Atos homossexuais são ilegais na Malásia e puníveis com multas e até 20 anos de prisão.

Em um discurso cheio de palavrões durante a apresentação da banda na sexta-feira, que viralizou em um vídeo nas redes sociais, Healy disse: “Não vejo sentido em convidar o The 1975 para um país e depois nos dizer com quem podemos fazer sexo”.

“Infelizmente, você não recebe um set de músicas edificantes, porque estou furioso pra ca*****. E isso não é justo com vocês, porque vocês não representam seu governo. Vocês são jovens e tenho certeza que muitos de vocês são gays e progressistas”, afirmou o artista se dirigindo para o público.

Healy acrescentou que a banda considerou cancelar o show, mas decidiu fazê-lo para não decepcionar os fãs.

“Se você quer me convidar para fazer um show aqui, pode ir se f****. Vou pegar seu dinheiro, você pode me banir, mas já fiz isso antes e não me sinto bem”, pontuou o vocalista antes que o baixista Ross MacDonald se aproximasse dele e o beijasse no palco.

Atitude gerou polêmica
O Good Vibes Festival publicou um comunicado após o caso: “Lamentamos profundamente anunciar que a programação restante do Good Vibes Festival 2023, planejada para hoje e amanhã, foi cancelada após a polêmica conduta e comentários feitos pelo artista britânico Matty Healy, da banda The 1975”.

“Essa decisão adere à diretiva de cancelamento imediato emitida às 13h20 [horário local], 22 de julho de 2023, pelo Ministério das Comunicações e Digital. O Ministério sublinhou sua postura inabalável contra quaisquer partes que desafiem, ridicularizem ou violem as leis da Malásia”, acrescentou a nota.

“Pedimos sinceras desculpas a todos os detentores de ingressos, fornecedores, patrocinadores e parceiros”, concluiu.

O ministro das Comunicações, Fahmi, disse que a Malásia está comprometida em apoiar o desenvolvimento das indústrias criativas e a liberdade de expressão, informou a Reuters.

“No entanto, nunca toque nas sensibilidades da comunidade, especialmente aquelas que são contra as tradições e valores da cultura local”, advertiu ele, segundo a agência.

A CNN entrou em contato com o Ministério de Assuntos Internos da Malásia e o Gabinete do primeiro-ministro, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.

As ações de Healy geraram polêmica nas redes sociais, com alguns fãs reclamando que isso poderia resultar em mais repressão à expressão artística, tornando mais difícil para os artistas se apresentarem na Malásia no futuro.

Membros da comunidade LGBTQIA+ do país também fizeram críticas, com alguns chamando as ações do britânico de “performativas” e alertando que isso poderia levar a mais discriminação.

Não é a primeira vez que o vocalista do The 1975 causa polêmica. Healy foi criticado no início deste ano por aparecer para fazer uma saudação nazista no palco durante uma música chamada “Love it If We Made It”, enquanto cantava letras que criticavam Kanye West.

Em 2019, ele beijou um fã durante um show em Dubai, desafiando as leis anti-LGBTQIA+ da região. Na época, ele postou no Twitter: “Obrigado, Dubai, você foi tão incrível. Não acho que poderemos voltar devido ao meu ‘comportamento’, mas saiba que eu te amo e não teria feito nada diferente se tivesse a chance novamente.

Cancelamento de shows em Taiwan e na Indonésia
Neste domingo (23), a The 1975 informou que cancelou shows na Indonésia — que tem maioria muçulmana — e em Taiwan.

“Infelizmente, devido às circunstâncias atuais, é impossível prosseguir com os shows programados”, disse o grupo em comunicado, sem dar mais detalhes.

A 1975 tocaria em Jacarta, capital da Indonésia, neste domingo. No país, a homossexualidade é um assunto tabu, embora não seja ilegal, exceto na província de Aceh, controlada pela sharia, conforme noticiou a Reuters.

Ainda segundo a agência de notícias Reuters, Taiwan garante direitos LGBTQIA+ a seus cidadãos, incluindo a permissão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2019. Não ficou claro o motivo do cancelamento na ilha asiática.

*com informações da Reuters e de Heather Chen, Teele Rebane e Lauren Kent, da CNN