Epidemia de burnout? Pesquisa revela crise de saúde mental entre trabalhadores brasileiros

Com um mercado de trabalho cada vez mais exigente e desafiador, o esgotamento profissional tornou-se uma questão urgente

Por Lane Gois |

Jornadas de trabalho exaustivas, acúmulo de responsabilidades e a sensação de viver em função do emprego têm evidenciado uma grave crise de saúde mental entre os brasileiros. Mas será que o país está enfrentando uma verdadeira epidemia de burnout?

Para entender melhor o impacto da saúde mental na vida dos trabalhadores, o portal 7Segundos entrevistou a psicóloga Anna Clara. Segundo a especialista, a saúde mental no ambiente corporativo tornou-se um tema de extrema relevância, devido à sobrecarga de trabalho, jornadas extensas e precarização das condições laborais.

Psicóloga Anna Clara


Os principais fatores que contribuem para o adoecimento mental incluem:

- Excesso de trabalho e cobrança constante por produtividade, falta de autonomia e suporte organizacional
- Ambiente corporativo tóxico, com lideranças autoritárias e ausência de reconhecimento
- Metas excessivas e pressão constante

A psicóloga destacou que o aumento nos diagnósticos de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e síndrome de burnout, reflete tanto uma maior conscientização sobre saúde mental quanto uma redução do estigma, incentivando mais pessoas a buscarem ajuda. No entanto, também há debates sobre a ampliação dos critérios diagnósticos e a medicalização do sofrimento, transformando reações naturais ao estresse em possíveis transtornos psiquiátricos.

Impacto da pandemia


Anna Clara explicou que a pandemia da Covid-19 agravou ainda mais a saúde mental dos trabalhadores, impondo desafios como sobrecarga emocional, insegurança financeira e instabilidade profissional. “Profissionais da saúde e trabalhadores essenciais enfrentaram altos níveis de estresse e esgotamento, enquanto aqueles que passaram para o home office lidaram com jornadas prolongadas e dificuldades em equilibrar vida pessoal e profissional. Como consequência, houve um aumento nos diagnósticos de transtornos mentais e na necessidade de políticas voltadas ao bem-estar dos trabalhadores”, destacou a psicóloga.

Como enfrentar o problema?


Anna Clara explica que o estresse pode ser melhor administrado com estratégias de bem-estar, como mindfulness, pausas estratégicas e respiração consciente. Além disso, buscar apoio psicológico, manter uma rede de suporte social e adotar hábitos saudáveis, como boa alimentação, sono de qualidade e prática de atividades físicas, são fundamentais para reduzir o impacto do estresse ocupacional.

Para as empresas, investir em programas de bem-estar organizacional, políticas de flexibilização da jornada e iniciativas preventivas, como treinamentos sobre saúde mental, são medidas essenciais para evitar o agravamento dessa crise.

De acordo com um levantamento inédito realizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os principais motivos para pedidos de demissão de trabalhadores com carteira assinada incluem a busca por outro emprego, salários baixos e problemas no ambiente de trabalho, como falta de reconhecimento profissional, estresse excessivo e questões éticas com a gestão da empresa.

A pesquisa, conduzida entre 10 e 21 de junho de 2024, ouviu 53.692 trabalhadores que pediram desligamento voluntário entre novembro de 2023 e abril de 2024. Os dados foram coletados pela Carteira de Trabalho Digital, a pedido do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para compreender o aumento dos pedidos de demissão, conforme indicam os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em 2023, 7,4 milhões de trabalhadores pediram demissão, representando 34% dos desligamentos. De janeiro a junho deste ano, esse número já alcançou 4,3 milhões, equivalente a 36% das saídas.

Os principais fatores que levaram os trabalhadores a pedirem demissão foram:


- 36,5% já tinham outro emprego em vista
- 32,5% reclamaram de baixos salários
- 24,7% apontaram falta de reconhecimento profissional
- 24,5% mencionaram problemas éticos dentro da empresa
- 16,2% relataram dificuldades com a chefia imediata
- 15,7% citaram a falta de flexibilidade na jornada de trabalho

NR-1

O estudo também revelou um dado alarmante: 23% dos trabalhadores mencionaram o adoecimento mental por estresse ocupacional como uma das razões para sua saída. Em resposta a essa crescente crise de saúde mental, o governo federal anunciou medidas mais rigorosas. O Ministério do Trabalho atualizou a Norma Regulamentadora NR-1, que estabelece diretrizes sobre a saúde no ambiente de trabalho. Com essa mudança, a fiscalização será intensificada, podendo resultar em multas e, em casos mais graves, no fechamento de empresas que descumprirem as exigências.

Com um mercado de trabalho cada vez mais exigente e desafiador, o esgotamento profissional tornou-se uma questão urgente. O desafio agora é criar ambientes de trabalho mais saudáveis, que permitam aos trabalhadores manter um equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida sem comprometer a saúde mental.