José Ventura

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José Ventura

João Lúcio

24/02/2014 07h07

A pessoa nasce, cresce, passa a adolescência, alcança a vida adulta, chega a velhice e nem sempre se dá conta de que todos os dias está escrevendo sua própria história. História que é conhecida pelos registro de nossos pais, tios e amigos, nas menções feitas aquela pessoa com quem dividiram o tempo na infância e cresceram juntos.

Foi através do meu pai que conheci a história de João Lúcio da Silva. Logo que aportei na idade da razão, meu pai me desfilava a história do amigo e compadre, história que, no fulgor de minha idade, me encantava, me deleitava diante da grandeza de seus atos.

Já adolescente, percebi que o amigo do meu pai era vocacionado para política partidária. Era líder por excelência. Eleito e reeleito prefeito de Arapiraca, depois Sena-dor da República, passou pela vida pública sem tingir seu nome com as tintas que hoje borram as manchetes noticiosas e envergonham o cidadão.

Os valores políticos da época se exauriam na vontade macabra do crime ou na valentia cívica em resistência á violência. Era a essência da disputa partidária. O eleitor não prestigiava tanto o que o gestor público tinha a oferecer á população; era mais sim-pático ás façanhas pessoais do seu líder político.

João Lúcio se identificava com a paz. Era avesso à violência mesmo quando a violência se oferecia como guardiã da própria vida.

O tempo avançou e com o tempo fui percebendo que meu pai não me falava do amigo por mera amizade pessoal. Ele me falava pela voz dos valores morais e cristãos revelados a cada passo da vida privada, seguida na vida pública.

Neste momento em que escrevo esta crônica, veio-me a lembrança do “Vidas Secas” de Graciliano. “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”.

No meio a tanta aspereza e intolerância nos dias atuais, cansados e famintos, vivemos o exemplo de pessoas que, na imensidão avermelhada da aridez humana, nos mostraram abrigo na sombra da verdejante humildade, florida por um coração de paz.

Já dissemos em crônica publicada nesse blog, que o tempo é o alimento maior da saudade. Quanto mais o tempo segue o caminho da eternidade, mais se aguça a saudade que temos.