José Ventura

José Ventura

José Ventura

Entre o Ódio e a Razão

04/03/2014 09h09

Por mais que queiramos ser compreensivos, mansos de coração e afeiçoados ao amor, existem momentos em que rompemos esse sentimento de paz e entramos em campo de conflito.

A indignação que temos com a violação da vida humana em suas diversas formas de violência, incluindo a violência da injustiça, faz ribombar uma indisfarçável vontade de vingar com imaginária crueldade. É a voz da revolta e o eco do ódio que dizem, “mata, queima vivo, esfola, bandido bom é bandido morto.”

Nesse estado de animação da alma, não há por quem esperar. É amarrar aos postes, é bater, humilhar e enfiar um pneu em chamas amarrado ao pescoço e deixar o bandido arder até sua alma ser recebida em festa nos porões dos infernos.

Há menos de uma semana dois rapazes foram presos acusados da morte de um destacado empresário na capital do Estado. O furor da população os teria levado ao lincha-mento público, não fosse a ágil interferência da polícia que apresentou, em tempo louvável, o verdadeiro matador do empresário.

Já este ano, um ator de novelas de tv, de cor preta, acusado de roubo, amargou dias de cárcere, em companhia de perigosos condenados. Sua inocência foi estampada quando a vítima daquele roubo confessou não ser aquele o homem quem a roubou.

Mergulhando no tempo, lembramos da história dos Irmãos Naves. Para confissão de um crime, torturaram-lhes com velado amor á crueldade. O fato ganhou registro em livro e em filme, para após quase três décadas presos, a Justiça de Minas Gerais reconhecer a inocência.

A literatura criminal está eivada de fatos iguais. Somos reféns do medo. Medo da violência real e medo da injusta acusação de delitos que não se cometeu.

Surge então o conflito de racionalidade. Sabe-se que um bandido pode tirar a vida de muitas pessoas que só constroem a paz e a harmonia na comunidade. Sabe-se também que esse bandido não produz o bem, só planta o mau e se alimenta do sangue que derrama de pessoas inofensivas. Numa equação racional, o que vale mais; a vida do bandido ou a vida do ser humano que vive em comunhão com o bem?

Nesse exato momento, uma voz rasga o universo. “Quem é o bandido? Onde está escondido”?, pondera a razão.

O ódio açodado pelo incerto e a injustiça da condenação de um inocente frutificam a árvore dos enforcados e abrem sangrias nas veias do bem.

Por mais omissa que seja a Justiça, por mais que seja falível enquanto feita por seres humanos, a ela como representante do Estado, é quem se obriga a verificar com acurado cuidado quem é efetivamente o verdadeiro bandido. Então, passamos a escutar com galhardia a voz da Justiça aplicando a pena prevista em lei.

Enquanto se buscar conter a violência respondendo com violência, o sangue gerará mais sangue, a morte anunciará mais morte, a certeza da vida fracassará diante das in-certezas do mundo aberto onde vivemos.