José Ventura

José Ventura

José Ventura

A Fé o o medo

29/11/2014 08h08

                                                         A fé e o medo


A religião sempre esteve presente na criatura humana. Por ela se busca chegar a Deus pela fé, pela prática do bem, pelo amor e também pelo medo. Medo de arder eternamente no fogo do inferno, espetado pelo tridente em brasa na mão do satanás. Essa concepção aterrorizadora aportou no Brasil como herança da consciência de uma época de pesada influência religiosa européia.
Frei Damião e Frei Fernando, nômades peregrinos da boa nova, doaram suas vidas a serviço da doutrina cristã, semeando o evangelho por cidades, vilas e povoados de todo nosso nordeste. O sermão de Frei Damião dava calafrios, sudoreses abundantes, pavor e desespero. A visão tenebrosa do inferno era absorvida intra-carne da multidão em silêncio.
Compenetrados após o sermão, filas se estendiam na direção dos confissionários em busca do perdão dos pecados.
As cinco horas da manhã, um enfileirado de lanternas a luz de velas alumiava as ruas vivificando a procissão e quebrando o silêncio do amanhecer com o cantar das senhoras louvando a Deus.
Eram momentos místicos. Oportunamente conciliatórios. Na programação, as tardes eram dedicadas aos jovens. Frei Fernando se encarregava de ser o palestrante. Íamos mais interessados no encontro com as jovens devotas do que nas palavras do franciscano. Mas a tudo assistíamos, de tudo participávamos.
Precedendo o sermão escatológico do Frei Damião, a multidão era brindada com o vozeirão do Frei Fernando, cantando Elvis Presley, “its now or never”, com letra em português adaptada em homenagem a Nossa Senhora.
Era bonito e encantava. Frei Fernando cantava a pulmões, ministrava grande domínio de massa pia e arrastava multidão para confissões, procissões e missas. Era um fiel coadjuvante ministerial de Frei Damião.
Com a paróquia adormecida, sem a vida das Santas Missões, os mesmos pecados voltavam povoar os fiéis infiéis, até que novas Santas Missões trouxessem a ânfora para acolher lágrimas de “arrependimento”.