O Ministério Público Eleitoral deve instaurar um procedimento para investigar a denúncia de "voto casadinho" feita por uma ex-servidora da prefeitura municipal de Arapiraca. A informação foi confirmada pelo promotor Rogério Paranhos.

A matéria do 7Segundos veiculada na noite de terça-feira (06), em que a enfermeira Liliane Francisca da Silva confirma ter sido exonerada do cargo de gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Canaã, após uma mensagem em que ela denúncia um esquema de captação de votos dentro da prefeitura de Arapiraca, caiu como uma bomba e teve grande repercussão principalmente no Centro Administrativo, onde o clima era de indignação, embora não tenha chegado a ser uma surpresa para muitos.

"Ela [a enfermeira que denunciou o caso] é uma mulher de coragem em expor tudo isso. Muita gente também se revolta e tem vontade de denunciar a perseguição e assédio que vem sofrendo especialmente nos últimos meses. No entanto, a maioria acaba abaixando a cabeça e concordando com esse cabresto simplesmente porque não tem outra opção, porque sabe que se fizer o mesmo que ela fez, a exoneração é imediata", afirmou uma servidora à reportagem, pedindo para não ter o nome divulgado.

Segundo a funcionária, o clima é pesado dentro das secretarias municipais. Comissionados e até mesmo servidores de carreira temem transferências e exonerações caso não sigam a "cartilha" da nova gestão municipal. "Antes, a gente que fica na parte interna, trabalhava com alegria. O clima era ótimo e por isso a produtividade também, porque a gente sentia motivação. Hoje, a sensação é de medo. A gente precisa tomar cuidado com o que vai falar para não ser interpretado como traição", disse.

Em um áudio endereçado a uma pessoa identificada como Daniel, a enfermeira Liliane Francisca - que há dois anos atuava como gerente da UBS do Canaã, relata ter sido chamada para uma conversa pela "gestão" e ouviu uma proposta indecente: para se manter no cargo, ela deveria concordar em votar em Fabiana Pessoa (Republicanos) e em um candidato a vereador indicado pelo grupo:

"Lamentavelmente venho aqui dizer que fui chamada justamente para isso. Para eu poder ficar no cargo, eu precisaria ficar a mercê de uma proposta indecente. Seria o voto casadinho, onde eu teria que votar na atual prefeita e no candidato a vereador que seria da região", afirmou. No áudio, ela classifica a situação como uma "perseguição aos profissionais de saúde", dando a entender que, além dela, outros servidores também teriam recebido a tal oferta.

Para o 7Segundos, Liliane Francisca confirmou que a voz do áudio é dela e que os fatos que ela relatou são verídicos. Como a mensagem viralizou nas redes sociais, ela foi exonerada do cardo na tarde de terça (06). "Minha honestidade resultou na minha demissão. Sigo com minha consciência tranquila e em paz, e tenho a certea de que tomei a decisão certa em não aceitar essa proposta indecente", declarou.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do município, que informou que um processo administrativo será aberto para investigar a informação: “A Prefeitura de Arapiraca vem por meio desta esclarecer que, considerando a informação de que servidores teriam sido vítimas de coação política, não compactua com qualquer ato desta natureza e que tomará as medidas necessárias a abertura de processo administrativo disciplinar para apuração dos fatos”.

Além de investigar a denúncia, o MP Eleitoral promove, na quinta-feira (08), uma reunião para tratar sobre o combate à corrupção eleitoral com representantes de entidades e instituições de Arapiraca. O encontro será presidido pela procuradora regional eleitoral Raquel de Melo Teixeira e contará com a participação dos promotores eleitorais de Arapiraca, Rogério Paranhos e Saulo Ventura.