Bastidores
Risco para agricultura e meio ambiente: o que a MVV não fala sobre Projeto Serrote
Para professor da Ufal, impacto negativo da extração de cobre será maior que benefícios econômicos
Geração de empregos e renda, oportunidades para os mais jovens, qualificação profissional e desenvolvimento econômico para o município e Estado. Essas são as palavras-chaves utilizadas pelos gestores da Mineradora Vale Verde (MVV) sempre que a implantação do Projeto Serrote em Craíbas é questionada. Muito bem orientados, os gestores da empresa sempre reduzem ao mínimo o lado negativo da extração de cobre, usando termos como minimizar e compensar o impacto ambiental. Mas o custo de tanto “progresso” é bem maior do que costuma se falar e talvez não compense tanto assim.
Com a fase de implantação praticamente concluída e a previsão para o início da mineração propriamente dita no início do segundo semestre do ano, a conta está chegando. Mais da metade dos 1.200 postos de trabalho estão deixando de existir e a preocupação com o resultado da extração do minério começa a surgir.
O professor da Ufal Raimundo Nonato, mestre em Ciências do Solo e um dos maiores especialistas do ramo em Alagoas, afirma que a extração do minério traz riscos à agricultura e ao meio ambiente, que poderão perdurar por décadas, mesmo depois que a mineração for encerrada e o projeto desativado, daqui 20 anos. Em entrevista para o jornalista Mozart Luna, ele afirmou que os produtores rurais da região têm razão em ficarem preocupados com o futuro
Atualmente, 67 famílias que possuem propriedades rurais nas proximidades da barragem de rejeitos - que irá receber os resíduos sólidos e líquidos ao final do processo da extração do cobre - estão aflitos devido à perda de valor venal das terras. Eles relatam temor de desastre, como o que aconteceu em Brumadinho, onde o rompimento da barragem de rejeitos provocou a morte de mais de 250 pessoas e foi classificado como um dos maiores desastres ambientais do país.
Raimundo Nonato afirmou, que de fato, é comum a desvalorização do preço de venda de terras em todas as regiões onde há a instalação de mineradoras. A barragem de rejeito do Projeto Serrote, de acordo com o professor, está em uma região que possui um “cristalino” (rocha), que impede a infiltração da “lama mineral” no solo, que ao invés de ser absorvida, tende a expandir em suas margens, principalmente com o passar dos anos, existindo - de fato - risco de inundação de terras próximas em caso de acidente.
“Onde a lama [mineral] chega, as terras se tornam improdutivas”, afirma o professor, explicando que os resíduos da barragem de rejeito causam a esterilidade do solo, que pode levar de 30 a 50 anos para ser revertida, se houver muito trabalho de recuperação.
O professor alertou ainda que o processo de extração do cobre pode trazer riscos à vida animal e até mesmo humana, uma vez que os elementos utilizados para separar o minério da rocha podem resultar na emissão de gases tóxicos. E a MVV mantém em sigilo quais elementos químicos serão utilizados no Projeto Serrote, o que impede especialistas como o professor Nonato de avaliar se existe risco de poluição do ar.
A empresa chegou a ser indagada a respeito por Mozart Luna, mas em vez de nomear os elementos químicos que serão utilizados, se limitou a explicar que foram feitos testes em laboratórios internacionalmente conhecidos e a dizer que os rejeitos são classificados como inertes e não perigosos.
“Até a presente data não houve lançamento de rejeitos na barragem, porém de acordo com as informações apresentadas no Relatório Técnico de Classificação de Resíduos Sólidos N°SG-0082-CR/08, realizado pelo Laboratório SGS GEOSOL, que avaliou parâmetros de Corrosividade, Reatividade e Toxicidade, foi constatado a partir das amostras de sondagem, que os resíduos da MVV são classificados como Classe II B(Não Perigoso – Inerte), por não terem nenhum de seus constituintes solubilizados à concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água.Por fim, não apresentam características corrosivas e reativas”, informou a MVV ao jornalista.
Mineração
As atividades de extração de cobre devem começar, de maneira propriamente dita, entre os meses de julho e agosto e perdurar por aproximadamente 20 anos, podendo ser estendido, por mais tempo, de acordo com resultados de pesquisas minerais em andamento. Nesse período, a Mineração Vale Verde pretende lavrar mais de quatro milhões de toneladas do minério por ano.
Por mês, a empresa espera produzir de 1.500 a dois mil metros cúbicos de cobre e, para isso, vai precisar lavrar 100 mil metros cúbicos de rocha no mesmo período.
Mesmo admitindo que as atividades na região entre Craíbas e Alagoas podem perdurar por mais de duas décadas, a barragem de rejeitos não foi construída para durar tanto tempo. “A barragem da MVV é de solo compactado (aterro controlado). Tanto o material da barragem da MVV quanto o método construtivo atendem todos requisitos nacionais e internacionais de segurança de barragem. A barragem será utilizada para disposição controlada do rejeito durante aproximadamente 15 anos”, explicou a mineradora ao jornalista.
A MVV afirma que a barragem passará por auditorias externas, inspeções de campo e monitoramento “24horas/ 7dias e que um Plano de Ação de Emergência de Barragem de Mineração (PAEBM) está sendo implementado para prevenir a ocorrência de acidentes, como determina a legislação em vigor, mas também não explicou quais serão os planos para quando a barragem estiver com sua capacidade esgotada.
Diante de tudo isso, fica a pergunta: tamanha agressão ao meio ambiente e à agricultura realmente valem isso?
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