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Com salários atrasados, professores de Campo Grande vivem na penúria

Último salário recebido pelos servidores foi do mês de abril

29/06/2021 18h06 - Atualizado em 29/06/2021 18h06
Com salários atrasados, professores de Campo Grande vivem na penúria

A notícia que a eleição suplementar está marcada para o dia 12 de setembro é um sopro de esperança para os professores da rede municipal de Campo Grande. Com praticamente dois meses de salários atrasados, os servidores tem preocupações mais urgentes que as contas atrasadas: a despensa vazia.

Dois professores entraram em contato com o 7Segundos para denunciar que estão em vivendo em penúria, contando com a ajuda de familiares para conseguir se alimentar. "A gente tem até um pouco de vergonha de falar, mas minha família sou eu e minha filha e eu não tenho outra renda. Se não fosse a ajuda da minha mãe, não teria o que comer em casa", declarou uma professora.

Ela e outros trabalhadores da Educação de Campo Grande denunciam o descaso da administração municipal a que estão sendo submetidos. Enquanto os funcionários contratados estão com os salários em dias, o último salário recebido pelos efetivos foi referente ao mês de abril. Como estamos no final do mês de junho, já são quase dois meses de salários atrasados.

Aproximadamente 300 servidores públicos estão passando por dificuldades. Todos funcionários da Educação e concursados. E as consequências disso já são sentidas no comércio do município, com o aumento da inadimplência e os comerciantes se recusando a vender "fiado" para os servidores, por não haver uma previsão de quando irão receber. Enquanto isso, os alunos da rede municipal de ensino estão abandonados, uma vez que até mesmo as aulas on-line foram interrompidas.

A responsabilidade é da gestão municipal. Em 2021, o município perdeu um grande volume de recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), provocado por uma série de erros administrativos.

"Ano passado, o município recebeu mais recurso do Fundeb do que gastou. Por conta da pandemia, a prefeitura não teve gasto com transporte escolar, merenda e cortou gratificações como a de difícil acesso, para quem mora na cidade e trabalha nos povoados. O que foi feito com o excedente desse dinheiro, ninguém sabe. Mas pelo que pude entender, não houve a prestação de contas e, então o valor que chegou a mais está sendo descontado agora", conta uma trabalhadora da Educação.

Além disso, segundo ela, o município não fez um trabalho para estimular a matrícula na rede pública e desvinculou o programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). O resultado disso é que o número de alunos matriculados diminuiu muito e, com a proximidade do censo escolar, é possível que o volume do repasse federal seja reduzido ainda mais. Com isso, o recurso para pagar os professores e manter a educação poderá ficar ainda mais escasso.

"A dona Zefinha, que é a prefeita interina, não resolve nada. Quem está à frente de tudo é o secretário de Administração, que é o ex-prefeito Arnaldo Higino. E quando a gente procura alguma informação, ele só manda dizer que não tem dinheiro, que a verba diminuiu. Mas a queda do recurso do Fundeb não dá o direito de deixar de pagar os professores", ressaltou, se referindo a vereadora Josefa Barbosa (Republicanos), que passou a atuar como prefeita-tampão, após a eleição que daria vitória a Arnaldo Higino ser anulada.

As servidoras municipais falaram à reportagem com a condição de não ter nomes e informações pessoais divulgados, por receio de sofrerem retaliações ou perseguição política.

A reportagem tentou entrar em contato com a prefeitura de Campo Grande, mas os telefones que constam na página do município na internet não estavam funcionando. No final da tarde desta terça (29), uma das professoras repassou a informação de que haveria uma previsão para o pagamento de uma filha salarial. "A informação que repassaram para a gente foi a seguinte: no dia 10 de julho eles pagam o mês de maio dos 40% [servidores que estão com salário atrasado] e no dia 30 de agosto, pagam mais um salário. Só que até lá, acumula a folha de junho e julho", ressaltou.

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