O mundo econômico cada vez mais dinâmico e desafiador, o empreendedorismo tem se consolidado como uma ferramenta potente de transformação social, geração de renda e valorização de talentos locais. Nos últimos anos, a produção cultural tem ganhado destaque dentro desse ecossistema, revelando-se não apenas como um setor criativo e inspirador, mas também como um ambiente fértil para empreendedores que desejam inovar, preservar tradições e impulsionar o desenvolvimento comunitário. A cultura, quando entendida como ativo estratégico, move a economia, fortalece identidades e promove inclusão.

O mercado criativo no Brasil tem crescido de forma consistente. Segundo dados do IBGE e da Firjan, as indústrias criativas já representam uma parcela significativa do PIB nacional, empregando milhares de profissionais e movimentando cadeias produtivas inteiras. Dentro desse universo, a produção cultural desponta como uma vertente altamente promissora. Seja por meio da música, da dança, do teatro, da literatura ou das expressões tradicionais, empreender com cultura é, acima de tudo, empreender com propósito. Exemplo emblemático desse fenômeno é o trabalho do jovem Audo Santos Neto, do povo Kariri Xocó, no município de Porto Real do Colégio, em Alagoas. Neto, como é conhecido, é idealizador e produtor da Quadrilha Coração Junino, um projeto que nasce em 2019 com um propósito claro e profundamente transformador: resgatar a identidade cultural por meio da dança e afastar crianças e adolescentes da vulnerabilidade social, das drogas e do uso excessivo de tecnologias. A iniciativa ganhou força e tornou-se um verdadeiro símbolo de resistência e valorização cultural dentro da comunidade indígena.

A Coração Junino não é apenas uma quadrilha estilizada que se apresenta nas festas juninas da região. Ela representa a força da produção cultural como ferramenta de mobilização, inclusão e, sobretudo, empreendedorismo social. O jovem produtor indígena, ao lado de sua equipe, atua com excelência na organização de figurinos, coreografias, ensaios, cenários e toda a estrutura necessária para colocar em cena um espetáculo que valoriza tradições, conecta gerações e emociona públicos. A trajetória de Neto é um testemunho vivo de que é possível empreender a partir das raízes, transformando a arte em uma plataforma de desenvolvimento humano e econômico. Ao mobilizar sua comunidade e estruturar um projeto com identidade, ele fomenta o turismo cultural, atrai visibilidade para a causa indígena e gera oportunidades de aprendizado e expressão para os jovens do seu povo.

Empreender na cultura é também enfrentar desafios: a escassez de recursos, a burocracia e a falta de políticas públicas efetivas são barreiras comuns. No entanto, projetos como o de Neto mostram que, quando há paixão, visão e propósito, os resultados ultrapassam expectativas e se materializam em forma de legado. A produção cultural deixa de ser apenas entretenimento e passa a ocupar o papel de agente de transformação social e econômica. Neste sentido, é fundamental que empreendedores culturais tenham acesso a ferramentas de gestão, capacitação em marketing digital, incentivo fiscal e apoio institucional. A profissionalização da produção cultural é uma chave para sua sustentabilidade e expansão, permitindo que mais projetos como o Coração Junino possam florescer em todo o território nacional.

Assim, o empreendedorismo cultural, sobretudo aquele enraizado nas tradições e memórias coletivas, precisa ser compreendido como parte essencial da economia criativa brasileira. Ele mantém viva a chama da identidade, movimenta economias locais, forma cidadãos conscientes e inspira novas gerações a construírem um país mais plural, justo e culturalmente rico. A história de Audo Santos Neto não é apenas sobre dançar quadrilha. É sobre empreender com alma, acreditar em sonhos coletivos e fazer da cultura um caminho para transformar o presente e preservar o futuro.

Por 

Willian Nelson