Degradação ambiental nas lagoas pode ser controlada
Projeto da Ufal propõe medidas de preservação ambiental nas principais lagoas do Estado
Por Assessoria22/05/2012 13h01
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As lagoas que originam o nome do Estado e estão na música de Edua Maia cantada por Luiz Gonzaga, “Num domingo sol bem cedinho passear na Lagoa do Mundaú...”, são objetos de estudo no curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Alagoas. Projeto desenvolvido no Centro de Tecnologia (Ctec) em parceria com a Secretaria Estadual da Pesca e Aquicultura propõe a revitalização dos complexos estuários Mundaú e Manguaba.
A ideia é implantar um programa de monitoramento e modelagem para definir ações de conservação e uso sustentável dos recursos naturais, como peixes, moluscos e crustáceos. “O objetivo é diagnosticar o estado atual dessas lagoas em termos de quantidade e qualidade da água e indicar conjuntos de regras de gestão para mitigar os impactos ambientais decorrentes das atividades antrópicas [aquelas que têm influência do homem]”, explica o professor Carlos Ruberto Fragoso Júnior.
Num primeiro momento será feita a observação das variáveis de qualidade da água, como temperatura, turbidez, nível e acidez, para então utilizar ferramentas computacionais para prever o efeito nas lagoas, decorrentes de ações antrópicas. Para o Professor Ruberto é preciso, por exemplo, analisar os impactos do crescimento populacional em alguns anos, quando consequentemente haverá mais esgotos e cargas de nutrientes nos estuários.
“Com essas ferramentas podemos quantificar o impacto ambiental, porque elas permitem dar uma resposta ao comportamento do sistema perante o aumento da população. Pretendemos aplicá-las para fazer esse prognóstico, fazendo uma avaliação dos cenários futuros decorrentes dos impactos ambientais”, comenta o pesquisador.
O resultado desse trabalho é importante para planejar medidas preventivas a fim de controlar a degradação, que, segundo estudos, pode esgotar os recursos naturais utilizados por parte dos alagoanos.
São cerca de 260 mil pessoas que dependem diretamente do que se pesca nas duas lagoas, então isso significa dizer que a preservação delas é necessária para a geração de renda e de alimento para muitas famílias. E numa época onde a consciência ambiental deixou de ser moda para virar questão de sobrevivência, se preocupar com o controle das funções ecológicas dos estuários pode favorecer diversos setores, inclusive o desenvolvimento do turismo na região.
Os impactos nas lagoas
A constante redução na produção de sururu nas lagoas Manguaba e Mundaú foi a principal motivação para realizar um estudo que pudesse minimizar os impactos socioeconômicos e ambientais no estado de Alagoas. Entre as décadas de 60 e 70, era possível pescar cerca de cinco mil toneladas de sururu por ano, hoje, a situação é bem diferente, uma série de fatores contribuiu para a diminuição gradativa, chegando a apenas 1500 toneladas anualmente.
A poluição dos esgotos domésticos e industriais, e o assoreamento são os principais vilões dessa degradação. O professor Ruberto explica que o acúmulo de resíduos diminui a profundidade da lagoa e faz com que as espécies não consigam se estabelecer e reproduzir. O assoreamento também muda a forma das lagoas e a conexão delas com a água do mar.
“Há uma troca normal de água entre o mar e a lagoa, mas com a redução do nível da lagoa, essa troca vai se perdendo. Com o passar do tempo, as lagoas podem se transformar em um grande pântano por conta das mudanças na morfologia”, completa.
É importe destacar que mesmo se não houvesse população ao redor ou o crescimento urbano na região, naturalmente as cargas orgânicas iriam desaguar na lagoa e alteraria a qualidade da água. Assim lentamente o estuário vai modificando suas características em milhares de anos, mas o homem acelera esse processo para poucas décadas, do mesmo modo como está acontecendo em Alagoas.
Os impactos já são perceptíveis em imagens captadas por satélite. A cheia de 2010 mudou a comunicação da Lagoa Manguaba com o mar, porque a foz, que já estava com uma estreita passagem de água devido ao assoreamento, não aguentou o volume e formou outro canal de vazão, ou seja, alterou o percurso natural da bacia hidrográfica.
Interesse federal
A proposta do trabalho do Centro de Tecnologia foi enviada para o Ministério da Pesca e Aquicultura e está em fase de avaliação para iniciar a prática no primeiro semestre de 2013, enquanto isso, os pesquisadores coletam dados sobre a influência socioeconômica e ambiental em Alagoas.
A aprovação do projeto pode trazer ganhos para a Ufal e para o Estado, como a infraestrutura para as pesquisas e atividades; a capacitação de pessoal; além do conhecimento científico específico nessa área.