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Mulher é chamada de 'morta de fome' após reclamar de hamburgueria

Mulher disse que problema começou após ela relatar que recebeu uma garrafa de refrigerante de 200ml em vez da lata de 350ml, como constava no cardápio

Por g1 Santos 11/07/2022 08h08
Mulher é chamada de 'morta de fome' após reclamar de hamburgueria
Enfermeira diz sofrer ameaças de hamburgueria após reclamar de propaganda enganosa em São Vicente, SP - Foto: Reprodução/Redes Sociais e Arquivo Pessoal

Uma enfermeira, de 35 anos, afirmou ter sido ameaçada pelos donos de uma hamburgueria em São Vicente, no litoral de São Paulo. Ao g1, a mulher, que preferiu não se identificar, disse que o problema começou após ela reclamar que recebeu uma garrafinha de refrigerante de 200 ml em vez da lata de 350 ml, como constava na foto do cardápio. A proprietária da hamburgueria disse que houve um mal-entendido.

Ela contou que pediu um combo de x-burguer, onion rings, batata frita e refrigerante. Na descrição do pedido não constava o volume da bebida, mas, a imagem utilizada, era da lata de 350 ml. A cliente também contou ter pagado R$ 9,98 no lanche de R$18,99, pois usou um cupom na compra por aplicativo.

Ao receber o pedido, a enfermeira se sentiu enganada e entrou em contato com a plataforma de delivery para relatar o ocorrido. "Quando você recebe o pedido tem a opção de dizer se veio algo errado ou faltando, e eu reportei que o refrigerante veio errado".

A plataforma optou por cancelar todo o pedido e estornar o valor pago. Poucos minutos depois, e sem perceber o ocorrido, ela foi surpreendida com a visita de dois funcionários do estabelecimento.

"Nem tinha visto o cancelamento até tocarem a minha campainha. Vieram até a minha porta, pedi para o meu marido descer, pois achei que tinham vindo trazer o refrigerante certo, [mas] ele foi surpreendido com uma abordagem de intimidação, chegaram falando que cancelamos na maldade", disse.

Ela disse que um dos homens questionou se eles não sabiam ler, pois no cardápio estaria a informação de que a imagem era ilustrativa. Nesse momento, o marido dela teria mostrado um print da tela. "Aí surgiu outro homem por trás do muro. Foi quando eu fiquei assustada e pedi para meu marido encerrar a conversa e subir".

Ameaças em redes sociais

Após ter sido chamada de 'golpista' e 'morta de fome' em frente de casa, a enfermeira pegou o celular e viu que a plataforma de delivery havia estornado o valor da compra. Ela também percebeu que uma rede social do restaurante havia encaminhado uma mensagem pelo Instagram.

Após ver a mensagem, a enfermeira encontrou uma rede social da responsável pelo estabelecimento. "Mandei mensagem [para a dona], pois achei que eram os funcionários agindo dessa maneira, não me pareceu coisa que um proprietário sério faria. Relatei a conduta errada e me ofereci a reembolsá-la por PIX, mas ela me surpreendeu. Disse estar ciente e de acordo com a postura deles".

"Sim, são meus sócios e foram com razão. Estou sabendo de cada detalhe. Foi gravado", respondeu a proprietária da hamburgueria em uma das mensagens enviadas para a cliente.

Em seguida, a enfermeira questionou se ela realmente achou que os homens estavam com razão. "Sim, com razão. Foram saber o que aconteceu, já que não podemos chamar no chat. Não tivemos nem essa oportunidade", respondeu a mulher.

Em outra mensagem, a dona do estabelecimento afirmou que sabendo do endereço da cliente iria com uma viatura [da polícia] até o local. "Eu não preciso te ameaçar com nada. Quem deve não sou eu" (veja os prints da conversa abaixo).

Após receber as ameaças, a enfermeira reportou o ocorrido à plataforma de delivery, que mantém ativa a conta da lanchonete. "Nas redes sociais, primeiro mudaram o nome do estabelecimento, agora excluíram a página. Porém, em todos os comentários onde repercutiu [a história], eles mostram essa mesma atitude grosseira, e pior, continuam dizendo que dei um golpe neles".

"No primeiro momento meu sentimento foi de medo. Nesse mundo violento, dois homens virem na sua porta com a postura que eles vieram causaria pânico em qualquer um. Agora estou revoltada, pois com todas as provas eles continuam dizendo que apliquei um golpe. Me parece que muitos estabelecimentos levam golpes desse tipo, de enviar o produto, o cliente reclamar sem motivo e a plataforma reembolsar o cliente, porém não foi meu caso".

Ela ressaltou que recebeu o pedido errado e a intenção não foi o cancelamento. "Não quero meu nome vinculado a um golpe. Eu sou trabalhadora e honesta, não quero ser difamada como golpista. Peço todos os dias e nunca tive problema assim. Na maioria das vezes peço dos mesmos lugares".

O caso foi registrado como injúria na Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 2º DP de São Vicente, responsável pela área onde os fatos ocorreram.

O que diz o estabelecimento


Em nota, a proprietária da The Lounge Burguer disse que houve um mal-entendido. "Como o pedido dela foi cancelado dizendo que foi incompleto/errado, e a plataforma não nos dá suporte para entrar em contato com o cliente depois do pedido ser finalizado, meus sócios foram pessoalmente saber o que houve com o pedido para saber se faltou algo e resolver, pois deu [apareceu] para a gente como 'incompleto' [o motivo do cancelamento].

Ela ressaltou que os sócios não foram "cobrar o valor retido". "Somos um comércio novo e sério. Não deixamos clientes insatisfeitos, porém se sentiram ameaçados".

Segundo a empresária, diante do grande número de golpes que os comerciantes levam nas plataformas, não teria como descartar que "poderia ser um possível golpe". Ela afirma, no entanto, que não acusou a cliente e entendeu o motivo, ainda que sem concordar.

"Após meus sócios saírem da casa da cliente, eu e ela entramos em discussão no privado das redes sociais. Não aceitei que ela pagasse via PIX, pois não fomos cobrar ela, e sim saber do ocorrido e resolver da melhor maneira", disse a proprietária da hamburgueria.

Ainda de acordo com a proprietária do estabelecimento, o foco é deixar os clientes satisfeitos, porém um mal entendido gerou "toda essa exposição desnecessária".

"Ela continua nos difamando nas redes sociais, xingando a gente de bandidos, maloqueiros, entre outros [termos] piores. Estou sendo ameaçada por comentários, por pessoas que não sabem os dois lados da história. Ela disse que ia parar de postar, mas continua postando meus dados pessoais", disse a empresária.

O g1 entrou em contato com o Ifood, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.