Música

Taylor Swift não tem voz incrível, nem melodias interessantes; por que, então, ela é tão popular?

Para ouvintes desatentos, cantora é artista pop como qualquer outra. Talento para contar histórias e transformar dramas fúteis em música é o que a torna tão especial; entenda

Por Carol Prado - G1 16/11/2023 10h10
Taylor Swift não tem voz incrível, nem melodias interessantes; por que, então, ela é tão popular?
Taylor Swift - Foto: Divulgação

Para quem não é fã de Taylor Swift, suas músicas soam como um monte de palavras amontoadas em arranjos pop genéricos. E elas são isso mesmo.

Tem que prestar muita atenção na magia de sua retórica para entender por que, afinal, a loirinha move montanhas na indústria da música -- e, a contragosto de muitos, é a artista comercial mais relevante da atualidade.

Os números comprovam: em julho deste ano, com a divulgação de “Speak Now (Taylor’s Version)”, regravação do álbum de 2010, a cantora se tornou a primeira artista viva em quase 60 anos a ter quatro trabalhos no ranking semanal dos 10 discos mais populares dos Estados Unidos, feito pela revista “Billboard”. Além do lançamento, apareceram “Midnights” (2022), “Lover” (2019) e “Folklore” (2020).

Ela também é a maior vencedora da categoria Álbum do Ano no Grammy. Entre cinco indicações, ganhou três vezes: com “Fearless”, em 2010, “1989”, em 2016, e “Folklore”, em 2021.

A "The Eras Tour", sua turnê atual, se encaminha para um faturamento na casa do bilhão de dólares. Já se sabe que será uma das séries de shows mais rentáveis de todos os tempos: a única concorrente à altura é a turnê “Renaissance”, de Beyoncé.

O "efeito Swift" foi citado pelo Federal Reserve, o Banco Central americano, com as apresentações da cantora impulsionando economias regionais dos EUA. Nesta sexta-feira (17), o fenômeno chega ao Brasil, para shows no Rio de Janeiro e em São Paulo. Fãs enfrentaram uma verdadeira epopeia para conseguir ingressos.

Uma boa escritora

O segredo de tanto sucesso não está na voz, nada extraordinária, nem nas notas que Taylor toca no violão. Em termos de harmonia -- a combinação de sons que formam a melodia de uma música --, ela é uma artista comum, até desinteressante.

“São progressões de acordes pop bastante normais e variedades muito padronizadas de arranjos.”

A avaliação acima é de Stephanie Burt, crítica literária, poetisa e professora de inglês da Universidade de Harvard, nos EUA. O The Harvard Gazette, site da instituição, publicou em agosto um artigo com acadêmicos analisando as razões por trás dos números de Taylor.

O que torna a cantora tão especial é seu talento de escritora. Taylor tem uma maneira única de encaixar palavras para criar personagens e contar histórias em suas músicas.

"Ela é capaz de criar ganchos verbais: 'Tenho apenas 17 anos. Não sei de nada, mas sei que sinto sua falta' [trecho de 'Betty', do álbum ‘Folklore’]. Eles ficam gravados na sua mente e você cria histórias a partir deles. Isso é ser uma boa escritora."

São muitas as letras que se desenrolam em cenas melosas, como num filme adolescente. O exemplo mais evidente é "All Too Well", música de 2012 com uma trama tão envolvente que em 2021 ganhou uma versão de 10 minutos. É a história de uma garota de 20 anos que tem o coração partido por um homem mais velho.

A música estendida foi lançada com um curta-metragem, estrelado por Sadie Sink ("Stranger Things") e Dylan O'Brien ("Maze Runner"). Ele materializa o famoso cachecol vermelho e todos os outros momentos de uma narrativa musical irresistível. Acredite: se você começar a ouvir, vai querer ver como a história termina.

Dramas fúteis


O enredo fica ainda mais interessante se você acreditar que a música é sobre o ator Jake Gyllenhaal ("O Segredo de Brokeback Mountain"), com quem Taylor teve um curto relacionamento em 2010.

Ela nunca confirmou a teoria dos fãs, mas também não negou. E, na versão estendida da letra, mandou uma indireta suspeita: “Eu vou envelhecer, mas suas namoradas vão permanecer com a minha idade”. Atualmente, Jake namora a modelo Jeanne Cadieu, de 26 anos, 16 a menos que ele.

“Não tem nada a ver comigo. É sobre o relacionamento dela com seus fãs. É a expressão dela. Os artistas aproveitam experiências pessoais em busca de inspiração, e eu não me incomodo com isso”, disse o ator à revista “Esquire”, após o lançamento da versão de 10 minutos de "All Too Well".

Há uma infinidade de artistas que faturam alto derrubando o muro entre sua música e sua vida privada. Alguns fazem isso com a ajuda de gênios do marketing. Mas pouquíssimos têm o talento de Taylor para transformar dramas fúteis em música.

Ela jamais precisou ler uma carta num programa de TV para todo mundo saber que “Dear John”, de 2010, é sobre John Mayer, outro ex-namorado -- os dois ficaram juntos entre 2009 e o início do ano seguinte. Até hoje, o cantor é atacado pelos fãs de Taylor. Ele disse à revista “Rolling Stone” em 2012:

“Eu não merecia isso. Sou bom em assumir responsabilidades e não fiz nada para merecer isso. Não foi uma coisa legal o que ela fez.”

Não é preciso ser uma prodígio do pop para entender os sentimentos de uma garota de 19 anos chorando no trajeto para casa depois de uma briga com o namorado. E, mesmo sem nunca ter encontrado John Mayer, qualquer um é capaz de reconhecer o padrão de comportamento inconstante exposto na música.

“Mesmo que haja aspectos dela que talvez não pareçam muito identificáveis ​​-- ela é uma celebridade e vive uma vida muito diferente de seus fãs --- o que ela está cantando, o conteúdo lírico e as emoções por trás dele são muito compreensíveis para muitas pessoas”, explicou Alexandra Gold, pesquisadora clínica em psicologia da Escola de Medicina Harvard. “Há algo que é muito comum à experiência humana.”

Isso parece funcionar especialmente para os mais jovens. Para algumas pessoas, as músicas de Taylor deixam de fazer sentido depois de uma certa idade. É fácil (e muito gostoso) se enxergar nas letras dela quando todas as coisas parecem depender de um relacionamento amoroso complicado, e todas as paixões são intensas, e todas as decepções são definitivas.

Mas os anos passam. E depois a vida complica um pouco mais.