Pais podem responder por exploração de influenciadores mirins
Após a denúncia de Felca sobre adultização, especialistas explicam os riscos e limites da exposição dos chamados “influencers mirins”
A discussão sobre a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais voltou ao centro do debate após a denúncia feita pelo youtuber Felca. Em um vídeo que ultrapassou 47 milhões de visualizações, ele expôs o criador de conteúdo Hytalo Santos, preso acusado de expor menores em seus vídeos de forma recorrente. O caso trouxe à tona uma questão sensível: até que ponto a infância pode ser transformada em palco digital e fonte de renda?
O crescimento dos chamados influenciadores mirins acompanha a expansão do mercado digital. Vídeos fofos, engraçados ou de rotina atraem milhões de seguidores e movimentam contratos publicitários milionários. Porém, por trás da imagem aparentemente lúdica, especialistas alertam para riscos psicológicos e legais que não podem ser ignorados.
Em entrevista ao Metrópoles, a psicóloga Kênia Ramos, do grupo Mantevida, chama a atenção para a adultização precoce. Segundo ela, “a adultização de menores de idade pode abrir portas para inúmeros problemas futuros, já que crianças e adolescentes estão em pleno processo de formação física, emocional e psicológica. Eles ainda estão construindo sua identidade, aprendendo a lidar com emoções, limites e relações”.
Ela explica que, quando uma criança é exposta a conteúdos adultos ou responsabilidades que não correspondem à sua idade, há impactos diretos em sua autoestima e saúde mental.
“Entre as consequências estão a confusão na construção da identidade, a maior vulnerabilidade a abusos emocionais e sexuais, além da suscetibilidade ao adoecimento mental, baixa autoestima, dificuldade em estabelecer limites saudáveis e maior propensão a relacionamentos abusivos”.
A psicóloga Alessandra Araújo também reforça a gravidade do problema: “Queimar uma fase é uma expressão usada na psicologia para descrever a adultização precoce da criança — quando ela é exposta a responsabilidades, comportamentos e pressões que não correspondem à sua idade”.
Segundo Alessandra, pular etapas do desenvolvimento pode trazer prejuízos duradouros, como ansiedade, depressão e dificuldades de socialização.
A psicóloga ainda aponta que muitas vezes a exposição digital não nasce da espontaneidade, mas da pressão por aprovação. “A criança passa a associar seu valor ao número de curtidas e à fama, perdendo a capacidade de se divertir por si mesma”, explica.
A distinção entre diversão e exploração, segundo Alessandra, está na motivação. “Brincadeira saudável é espontânea, sem roteiro rígido, e pode ser interrompida a qualquer momento. Já a exploração se assemelha a trabalho infantil, com roteiros, metas e cobrança por resultados. Nesse caso, os principais beneficiados são a família e o mercado publicitário”.
Responsabilidade e lucro
Do ponto de vista jurídico, os riscos também são altos. O advogado Fillipe Matos Seixas, especialista em direito penal do RCA Advogados, destaca que os ganhos obtidos por influenciadores mirins deveriam ser integralmente destinados ao bem-estar da criança.
“No direito brasileiro, o menor de 16 anos é entendido como incapaz, então os pais se tornam administradores dos bens dos filhos menores. Porém, esse gerenciamento não é absoluto e deve sempre visar o benefício do menor. Desvios podem acarretar consequências legais”, explica.
Ele acrescenta que a produção de conteúdo pode, sim, ser enquadrada como trabalho infantil, dependendo da forma como é conduzida: “Tanto a nossa constituição quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente vedam expressamente qualquer trabalho para menores de 16 anos, salvo casos de aprendiz. No digital, quando a atividade perde o caráter de lazer e passa a ser obrigação com fins de lucro, estamos diante de exploração”.
Atraso na legislação
Outro ponto é a falta de legislação específica sobre o tema. “Hoje não existe lei que regulamente contratos e uso da imagem de crianças em redes sociais. Há projetos em discussão, mas ainda em estágio inicial. Isso cria uma zona de insegurança jurídica, ao mesmo tempo em que aumenta a necessidade de cautela por parte dos pais”, alerta o advogado.
Na prática, famílias que transformam seus filhos em influenciadores precisam estar cientes das consequências. Segundo Seixas, em casos mais graves, de claro abuso ou violação dos direitos do menor, é possível a perda ou suspensão do poder familiar, além de responsabilizações civis e penais. O maior risco é cruzar a linha da legalidade e incorrer em exploração infantil, o que pode causar danos irreparáveis para a criança e sanções sérias para os responsáveis.
Últimas notícias
Teca Nelma reafirma pioneirismo ao lançar mais uma seleção pública para destinação de emendas
Alagoas é o 2º do Nordeste com o maior número de trabalhadores com carteira assinada
Acompanhamento nutricional é essencial antes e depois da cirurgia bariátrica, diz especialista
Sesau AL passa a integrar a Rede Nacional de Dados em Saúde
STF tem maioria para tornar Eduardo Bolsonaro réu por coação na trama golpista
Filho do chefe de operações da Delegacia de Marechal Deodoro desaparece em Maceió
Vídeos e noticias mais lidas
Tragédia em Arapiraca: duas mulheres morrem em acidente no bairro Planalto
Militares lotados no 14º Batalhão de Joaquim Gomes prendem homem suspeito de estrupo de vulnerável
[Vídeo] Comoção marca velório de primas mortas em acidente de moto em Arapiraca: 'perda sem dimensão'
Vídeo mostra momentos antes do acidente que matou duas jovens em Arapiraca; garupa quase cai
