Pesquisa mapeia fatos e angústias da vida sexual do brasileiro
O brasileiro tem medo de falhar na hora H; a brasileira, de pegar DSTs. Mais de 40% das mulheres sentem alguma dor na hora do sexo; um terço dos homens tem dificuldades para obter uma ereção. Só 28% das pessoas usam camisinha regularmente.
Esses e outros dados foram foram traçados pela pesquisa Mosaico 2.0, que, pela segunda vez, traçou um perfil da sexualidade do brasileiro. O estudo é coordenado por Carmita Abdo, psiquiatra sexóloga da USP, e apoiada pela farmacêutica Pfizer.
Foram entrevistadas 3.000 pessoas dos 18 aos 70 anos de idade de sete regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio, Salvador, Porto Alegre, Belém, Belo Horizonte e Distrito Federal). A amostra é composta por 1.530 homens e 1.470 mulheres.
Em comparação à versão de 2008, Carmita destaca que subiu de 43% para 57% o número de mulheres que fazem sexo por atração, ou seja, sem envolvimento amoroso. O número masculino permanece estável na casa dos 70%. "Há uma maior consciência da distinção entre afeto e sexo por parte das mulheres".
Mesmo assim, as mulheres ainda são as mais conscientes em relação aos perigos de se adquirir uma DST. Em relação ao sexo, essa é a principal preocupação entre elas (55%); do lado masculino, o maior medo é o de não ter uma boa performance.
"A explicação para essa preocupação dos homens é a própria genitália masculina, exposta. Se não há ereção, seu desempenho fica visivelmente comprometido –é praticamente uma comprovação de sua 'incompetência'", diz Carmita.
A discrepância de preocupações entre os sexos também se dá por uma questão de excitação, explica a sexóloga Débora Pádua. "As mulheres demoram até quatro vezes mais tempo para se excitar, aí elas acabam tendo tempo para se preocupar com DSTs, por exemplo."
Outra coisa curiosa observada na pesquisa é o fato de "sono saudável" ganhar de "vida sexual satisfatória" para as mulheres. Para eles, ter bom sexo é quase tão importante quanto se alimentar.
Para Carmita, esse tipo de observação mostra que as prioridades para qualidade de vida entre os sexos "não são sobreponíveis". A explicação seria a maneira como funcionam as cabeças: a do homem pensa que, com a questão sexual resolvida, as outras são mais fáceis de lidar (seria mais fácil dormir após o orgasmo, por exemplo), explica Carmita.
Para as mulheres, seria difícil enxergar o mundo dessa forma. No caso, o sexo se torna mais provável à medida que outras áreas da vida são resolvidas –o descanso é uma delas. "Se a mulher for transar, ela pensa: 'vou ter que tomar banho, me limpar...' Se o homem está estressado, ele pensa que transando vai ficar melhor e acaba até esquecendo do problema. A mulher não tem essa facilidade, ela pensa na dificuldade e não visualiza o prazer", exemplifica Débora.
DOR
Chama a atenção a porcentagem de mulheres (40,3%) que relatam ter dor durante o ato sexual. Segundo a sexóloga Lelah Monteiro, além de disfunções sexuais como o vaginismo (vagina que não dilata, sofre espasmos e impede a penetração), há desinformação. A partir do climatério, as mulheres tem um déficit natural na lubrificação vaginal, o que, além de dor no ato sexual, pode favorecer o aparecimento de infecções.
Outro fator seriam os resquícios de um moralismo excessivo. "Muitas mulheres de sucesso profissional, bem formadas, nunca se masturbaram, nunca tiveram um orgasmo e ainda têm vergonha de falar disso. Elas acabam sendo tolhidas de sua sexualidade", diz Lelah.
A dificuldade na ereção relatada por 32% dos homens poderia ser explicada tanto por doenças (como diabetes e doenças circulatórias) quanto por uma pressão social.
"Existe uma 'castração social'. Hoje parece que todos são estupradores, eles são massacrados, não podem mais se comportar como homens saudáveis. Outra coisa é que antes, bastava ter ereção. Agora, tem que ter ereção, sucesso econômico, não pode ter ejaculação precoce"¦ é difícil não perder a compostura", diz Lelah.
Para Débora, a combinação de dor com a insegurança e falta de controle masculinas é desastrosa: "A mulher sem vontade sexual não se lubrifica e tem maior risco de sentir dor. A mulher não quer ver o cara inseguro (o que piora a disfunção erétil) aí algumas acabam fingindo orgasmo só para que o parceiro tenha confiança e acabe ejaculando mais rápido."
Essa insegurança masculina também é responsável, segundo Carmita, pela ainda baixa adesão ao uso da camisinha, usada em todas as relações apenas por 28% das pessoas (36% nunca usam). Para as especialistas, além do baixo número de campanhas fora do carnaval, há pouco direcionamento –não há nenhuma com foco na terceira idade por exemplo.
Entre os homens, 55% têm medo de não ter uma boa performance na cama; entre as mulheres, 46% têm medo de pegar uma doença sexualmente transmissível (DST).
Para mulheres, a qualidade do sono vem antes antes da vida sexual; para o homem, boa vida sexual é quase tão importante quanto comer.
32% dos homens relatam alguma dificuldade de obter ereção, número semelhante ao de mulheres que relatam dor durante o sexo, 40,3%.
Quanto mais maduro o casal, mais qualidade tem a relação sexual. Na conta, não entra só a performance, mas a dedicação dispensada.
Iniciação sexual masculina com garotas de programa não é tão comum hoje entre os jovens (1,5%) como era antigamente (15,1%).