Vila do Pan-2007 é mico de R$ 300 milhões, tem chão afundando e crateras
Nove anos após o evento, moradores ainda sofrem com causados por erros na construção
Se a falta de água, luz e gás na Vila Olímpica da Rio-2016 fez alguns atletas chiarem, imagine então se eles tivessem que conviver diariamente com problemas estruturais em prédios e crateras pelas ruas de onde estão abrigados. Pois saiba que é assim que vivem hoje os cariocas que investiram um bom dinheiro para comprar um apartamento da Vila dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Nove anos após o evento esportivo, moradores do espaço ainda sofrem com intermináveis problemas causados por erros na construção dos 17 prédios e na urbanização do entorno deles.
A Vila do Pan hospedou até 5,5 mil atletas internacionais que vieram ao Rio competir em 2007. A obra custou R$ 230 milhões (valores da época) e contou com amplo financiamento público - R$ 189 milhões da Caixa. Depois de pronta, porém, começou a apresentar problemas relacionados principalmente ao afundamento do terreno em que fica o condomínio, em uma região pantanosa.
Por causa disso, ainda hoje, circular pelo bairro, de carro ou a pé, é um desafio. Vias estão interditadas para passagem de veículos por causa dos problemas. As calçadas são desniveladas e, portanto, perigosas para crianças ou idosos. Parte das garagens de dois edifícios estão interditadas e não podem ser mais utilizadas. A entrada dela virou um entulho de plantas e vegetais.
Desde 2011, a Prefeitura do Rio realiza obras no bairro para recuperar suas ruas. Cerca de 72 milhões já foram empregados em três projetos para estabilização do solo da vila. Os moradores, no entanto, reclamam que isso ainda não é suficiente. Dizem da falta de vontade da prefeitura e chegaram a ir à Justiça em busca de reparos nas áreas comuns dos prédios do condomínio. Somado o investido para sua construção e mais os reparos, já foram gastos mais de R$ 300 milhões.
Os moradores também marcaram um protesto para pressionar o município em busca de uma solução. A manifestação acontecerá na segunda-feira (1º), nas vésperas da Rio-2016. Para João Abdalla, presidente da ACVPAN (Associação de Condomínios da Vila Pan-Americana), ela é necessária porque moradores estão abandonados.
"Faremos essa manifestação sem a intenção de atrapalhar os Jogos. Nós tentamos contato, mas ninguém atende. Queremos uma solução pacífica. Agora eles alegam Olimpíada, depois vão falar que tem Paraolimpíada, depois falarão que tem eleições...", disse Abdalla, em entrevista ao UOL Esporte.
Segundo o presidente da associação, ainda há muito o que fazer no bairro. O problema é que a prefeitura já sinalizou que não pretende resolver todos os problemas. Pior que isso: reduziu o ritmo das obras alegando dificuldades financeiras.
"Tem muitas áreas sem terminar. Não existe vontade de consertar", disse Abdalla. "As garagens são os pontos mais críticos. Imagine você não conseguir entrar no seu prédio porque a entrada afundou. Como fazer isso com as pessoas que estão na rua?".
Área problemática para construções
A Vila do Pan foi erguida num terreno pantanoso. Precisaria ter recebido um tratamento especial antes de ter recebido prédios e ruas. Segundo Abdalla, isso não foi feito.
Sem saber disso, todos os imóveis foram vendidos rapidamente ainda antes do fim do Pan. O condomínio foi considerado um sucesso de vendas. Hoje, a associação informou que alguns apartamentos da Vila foram leiloados e um de 160 metros quadrados e quatro suítes foi vendido por R$ 300 mi - valor bem abaixo do mercado.
Procurada pelo UOL Esporte, a SMO (Secretaria Municipal de Obras do Rio) informou que continua realizando obras na Vila do Pan. Essas obras fazem parte de um projeto de R$ 61,9 milhões, devem ficar pronta até o final deste ano e incluem a reurbanização do entorno dos prédios.
A SMO, entretanto, informou que não pretende fazer reparos em áreas internas dos prédios. "Não está previsto nesse contrato a recuperação das trincas das garagens, assunto esse atualmente sendo tratado na esfera judicial", declarou o órgão.
Reparos na Vila Olímpica concluídos
Na quinta-feira (28), o Comitê Organizador da Rio-2016 informou que concluiu os reparos na Vila Olímpica, condomínio que vai receber os atletas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Os 31 prédios foram construídos pelas construtoras Odebrecht e pela Carvalho Hosken. Custaram R$ 2,9 bilhões e também contaram com financiamento da Caixa Econômica Federal.
No caso da Vila Olímpica, os problemas na obra foram detectados logo após a inauguração do condomínio. Cerca de 630 operários trabalharam nos reparos.
Depois dos Jogos Olímpicos, os apartamentos da Vila serão postos à venda. Antes do início do evento, o interesse de possíveis compradores estava abaixo da esperado.