Em dois meses, mais de 60 mulheres foram atendidas no HGE por agressão
G.F., 39 anos, servidora pública, sabe bem a realidade da violência vivida por milhares de mulheres no Brasil e no mundo. Com nível superior, nascida em uma família considerada de classe média, ela foi casada com um homem que a agredia e só com a ajuda da Justiça conseguiu quebrar o ciclo de violência.
Histórias como a da servidora pública não são raras de serem encontradas no Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, que apenas nos dois primeiros meses deste ano já atendeu 66 mulheres vítimas de violência física e sexual. Ainda de acordo com dados do Sistema de Informação do maior hospital de urgência e emergência de Alagoas, em 2016 foram 344 mulheres atendidas na unidade após sofrerem violência doméstica e sexual.
“A violência está em todas as classes sociais. É preciso enfrentar com sabedoria para se desvencilhar,” afirma G.F, que, por medo, prefere não se identificar. Como ela, muitas outras mulheres vivem o sofrimento de serem machucadas por pessoas que deveriam cuidar. Algumas decidem tirar a própria vida por não enxergarem mais solução para o que vivem.
“A violência doméstica envolve a violência física, psíquica, social e econômica. Apesar dos avanços femininos na luta por seus direitos, a mulher ainda continua sendo a maior vítima da violência doméstica”, ressalta a psicóloga do HGE, Dayse Costa.
Entre as pacientes atendidas pela profissional, uma história marca a sua trajetória no HGE. Trata-se de uma mulher de 40 anos, que chegou à unidade sozinha, em uma cadeira de rodas. “Estava sozinha, machucada, cabelos assanhados. Ofertei a escuta e tentei acolhê-la. Foi quando ela me contou que tinha sido agredida pelo marido na praia. Eles moram em uma cidade metropolitana e vieram passar o dia na praia. Em uma briga, ele a agrediu em público”, relata.
Dayse Costa salienta que o HGE é unidade hospitalar considerada referência para assistência de urgência e emergência a vítimas de violência em Alagoas. Pacientes de Maceió e do interior procuram a unidade hospitalar em busca de assistência e, segundo a psicóloga, quando casos de violência ocorrer, a mulher deve denunciar o agressor, para que o ato não se torne uma prática corriqueira.
Lei sobre a violência contra a mulher
A Lei Maria da Penha define como crime a violência, física ou psicológica, contra a mulher, independente de orientação sexual. Ela proíbe a aplicação de penas como multas e cestas básicas, estabelece prazo mínimo de três meses de reclusão e máximo de três anos, além de permitir a prisão preventiva e em flagrante.
Dayse Costa aponta que a relação violenta tem algumas características bem marcantes. Para uma vítima reconhecer se está sendo ou não vítima deste tipo de violência é necessário ficar atenta às características.
“O caráter recorrente é a principal. Os motivos podem variar, mas as atitudes são semelhantes. A violência pode ser psicológica (xingamentos, palavras de baixa autoestima, chantagem e outros tipos de agressões verbais), física (empurrões, socos, pontapés, entre outros) ou até mesmo a sexual (em que a mais comum é o estupro). Depois da explosão, o agressor se acalma e é aí que muitos se arrependem e prometem que isto nunca mais voltará a acontecer”, alertou.
Dayse explica que, após a alta do paciente, o encaminhamento é feito para a rede de assistência, que inclui o Centro de Apoio às Vítimas de Crime em Alagoas (CAV Crime), o Conselho Tutelar, a Maternidade Santa Mônica e a Defensoria Pública. “Os casos de abuso sexual, por exemplo, devem ser encaminhados para a Maternidade Santa Mônica, que dispõe de uma equipe especializada para o atendimento clínico e laboratorial”.
A notificação de suspeita de casos de violência é obrigatória para todos os profissionais dos serviços de saúde públicos e privados, conforme preconizado pela portaria 104, publicada pelo Ministério da Saúde. Os dados se constituem em instrumentos gerenciais que possibilitam aos gestores de saúde, das três esferas de governo, a implementação de medidas para diminuir a incidência de vítimas.
Em caso de agressão, a denúncia pode ser feita em qualquer Delegacia da Mulher, no Conselho Estadual da Mulher, pelo telefone 3315-2133, ou ainda na Central de Atendimento à Mulher, pelo do telefone 180, que funciona 24 horas, inclusive nos finais de semana e feriados.