Fiéis celebram 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida
Era outubro de 1717, três pescadores - João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia - ficaram encarregados de conseguir peixe para a festa que a Vila de Santo Antônio de Guarantinguetá iria oferecer ao governante da capitania hereditária de São Paulo e Minas de Ouro, que estava de passagem pela região. O problema é que, naquela época, não era tempo de peixe naquele mês.
Após várias tentativas puxando a rede no Rio Paraíba do Sul, um pedaço do corpo de uma imagem de Nossa Senhora Conceição apareceu para os pescadores. Curiosos, eles lançaram a rede mais uma vez e pescaram a cabeça da imagem, que se encaixou perfeitamente ao corpo.
Eles colocaram a imagem da santa no barco. E depois disso, os peixes começaram a aparecer, em quantidade abundante, tão grande que quase fez o barco virar, segundo os relatos históricos da tradição católica.
A imagem da santa foi então levada para a casa de Silvana da Rocha Alves, esposa de Domingos, mãe de João e irmã de Felipe, que juntou as duas partes com cera e fez um altar para a santa. E foi ali que teve início a devoção à santa: todos os sábados os moradores iam até a casa de Silvana para rezar para Nossa Senhora - que depois tornou-se padroeira do Brasil.
Anos depois, já em 1732, o pescador Felipe Pedroso entregou a imagem a seu filho, que construiu o primeiro oratório aberto ao público. A partir daí, foi construída uma capela, uma igreja, uma basílica até que, em 1946, foi lançada a pedra fundamental para a construção do novo santuário, o quarto maior do mundo, iniciada em 1955.
A aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida completa 300 anos este ano com uma programação extensa de homenagens e celebrações. Hoje, 12 de outubro, quando se celebra o Dia da Padroeira do Brasil, o santuário espera receber milhares de peregrinos.
Rainha do Brasil
Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que recebeu o nome de Aparecida por ter “aparecido” aos pescadores, foi proclamada rainha do Brasil em 1904 e, em 1930, passou a ser a padroeira do país. Somente em 1953 é que a festa de Nossa Senhora passou a ser celebrada no dia 12 de outubro, por determinação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
“O Brasil, desde a sua colonização, tem uma identidade católica. E a devoção aos santos é algo muito próprio da Igreja Católica. Por isso, a devoção, sobretudo à Nossa Senhora, que é a santa das santas e a mãe de Jesus, é algo que está muito presente na vida do catolicismo. A partir desse encontro [da aparição da imagem aos pescadores] surgiu a devoção a essa que o povo passou logo a chamar de 'Aparecida'”, explicou o padre João Batista.
Segundo ele, a devoção a Nossa Senhora no país começou com o encontro da imagem, mas tem forte ligação com os brasileiros por ela ser mãe e simbolizar a esperança, o que a levou a ser proclamada padroeira pela Igreja Católica (em 1930) e pelo então presidente Getulio Vargas (em 1931).
“Nós brasileiros temos uma ligação muito forte com a figura da nossa mãe. Sentimos muito a ausência da mãe quando ela não está conosco. Nossa Senhora, a mãe de Jesus, ocupa, dentro do universo religioso esse espaço materno, esse colo materno. Por isso ela cativa o povo brasileiro, tanto o povo simples e humilde quanto os governantes como foi o caso da Princesa Isabel e de D. Pedro I ”, disse.
Desde 1980, por força de decreto presidencial, o 12 de outubro passou a ser dedicado à padroeira, motivo pelo qual a data tornou-se feriado nacional.
Santuário Nacional
O santuário recebe, anualmente, cerca de 12 milhões de peregrinos. É o maior santuário do mundo dedicado a Maria. Foi declarado de âmbito nacional em 1984, pela CNBB.
As atividades religiosas no local tiveram início definitivamente em 1982, quando a imagem foi transladada da Basílica Velha para a nova Basílica.
A imagem
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida, confeccionada em terracota (barro cozido), sofreu um ataque no dia 16 de maio de 1978, quando foi quebrada em mais de 200 pedaços (um jovem transtornado a teria arremessado ao chão). Ela foi levada ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde a artista plástica Maria Helena Chartuni começou o trabalho de reconstituição. Neste mesmo ano, a imagem foi restaurada e levada de volta ao Santuário Nacional de Aparecida.
Em 2012, a imagem foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Até hoje, continua exposta no nicho do Santuário Nacional de Aparecida.
Carimbo e selo
Em comemoração aos 300 anos da aparição da imagem, os Correios lançaram um carimbo postal e o selo. O lançamento será no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, com as presenças do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, e do presidente dos Correios, Guilherme Campos.
O carimbo apresenta a imagem de Nossa Senhora Aparecida acompanhada do texto “Aparecida 300 anos de Fé e Devoção” e “Jubileu 300 anos de bênçãos 1717 – 2017”.
A ilustração do bloco reproduz a cena do encontro da imagem pelos três pescadores. A arte é uma simulação gráfica de aquarela, tendo como base o elemento água, em referência ao local onde foi resgatada a imagem.